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Tenho feito muitos pontos de situação ao longo da minha vida. Curiosamente e por razão que desconheço esses momentos são sempre tão iguais: caracterizam-se acima de tudo por um momento (momento que pode ser bastante longo, sendo que longo é um conceito relativo, aliás como quase todos...) de total indefinição e perda de rumo. Mas o mais estranho é o rumo que acabo por encontrar seja lá ele qual for, me leva mais cedo ou mais tarde ao mesmo ponto: desespero, tristeza e solidão.

E quando procuro analisar as razões de tal estado verifico apenas que sou desligada de pressupostos maléficos e ambições desmedidas mas tenho um que estraga tudo e cria efetivamente tudo o resto: a expectativa.  É só a expectativa que temos das coisas, do tempo, dos outros, de nós que nos cria a frustração, a raiva, o medo e tantas outras emoções "malditas".

Neste tempo tão conturbado em que a existência surge como algo tão estranho e indefinido e provavelmente estéril, pergunto que saída tem o Ser Humano para não se deixar arrastar numa amálgama de pretensões, exigências e violência que não levam a nada?

Curiosamente, questiono-me se, como ser individual no meio do coletivo, poderia fazer diferença se voltasse atrás e mudasse algo no meu percurso? E percebo que existimos apenas, que somo pegadas na areia que o mar apaga de seguida e a nossa contribuição é estranhamente egoísta e invisível.

Curiosamente e apesar de tudo quero continuar a acreditar que sou capaz de rir, que existem momentos longos de felicidade e bem-estar. Curiosamente, quero acreditar que os meus filhos não nasceram de um ventre infértil e escuro. Quero CURIOSAMENTE ACREDITAR, que o Sol pode, deve e entra em nós para nos iluminar. Curiosamente, quero acreditar (chamem-me naïf, lírica...) o mundo e os homens podem ser melhores, independentemente do passado longínquo e próximo me diga, curiosamente e precisamente, o contrário.

Curiosamente, quero acreditar que consigo, não importam as pedras e vidros no caminho, que consigo fazer deste meu "fado" algo mais que um percurso de lamentações, frustrações e muita tristeza.

Conversas com o meu sofáWhere stories live. Discover now