Capítulo sem título 49

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No Planeta UH 9536

A chuva não havia sido forte, mas transformou o fundo do grande desfiladeiro em um lamaçal grudento. O oficial Tiago tomava seu banho no vestiário. No chuveiro ao seu lado a soldado Cintia Patricia perguntou:

-E aí chefe? Vai pro Acampamento Central hoje? Vai levar o Stall?

-Vou levar aquela infeliz pro interrogatório, melhor eles agilizarem isso, senão o Stall pode acabar morrendo antes, ele se recusa a comer e a se hidratar, está sendo mantido por meio de sondas, está cheios de tubos. - respondeu Tiago.

Cintia Patricia possuía a pele branca como a neve, ela como muitos humanos havia adquirido extrema sensibilidade a luz natural dos sóis, e sempre saia ao ar livre totalmente coberta, com luvas, óculos escuros, e com o rosto coberto por uma echarpe na cor do uniforme. Ela era uma pessoa doce e agradável. Tiago gostava especialmente dos cabelos dela, não muito curtos, sempre tingidos de lilás. Ela coloria também os pelos pubianos da mesma cor, ela era uma pessoa minuciosa, nunca deixava esse tipo de detalhe escapar. Ela disse:

-Manda um abraço para o pessoal de lá, especialmente para o Alex Paulo, se o ver.

-Claro, pode deixar, vou ver ele sim, ele é o coordenador de logística, eu vou aproveitar e ver com ele os envios de munições, estão atrasados. - disse Tiago sorrindo. Ele sabia que Cintia e Alex estavam tendo um casinho quando ela foi designada para a tomada do desfiladeiro.

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Parecia que ia chover novamente e Tiago resolveu acelerar a levada do prisioneiro Stall para a nave de desembarque AF 212. A maca com o prisioneiro e os equipamentos médicos foram carregados por diversos soldados. Eles lutaram para levar a pesada carga pela lama, chegaram a uma das rampas laterais da nave todos imundos, mas com a carga intacta.

Tiago verificou a fixação da maca e dos equipamentos médicos que era feita com faixas elásticas. Dois biólogos e um médico cuidavam do prisioneiro/paciente. Depois o oficial foi se sentar e apertou os cintos de segurança. Eles iriam fazer um voo suborbital, era bem mais rápido que ficar voando pela atmosfera até o Acampamento Central, embora enfrentar a força G da aceleração não fosse lá muito confortável.

A contagem começou oito, sete, seis, cinco....

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A queda livre da cápsula pela atmosfera sempre é tensa. O tranco do paraquedas sempre é desagradável e até perigoso, pessoas já morderam a língua com tanta força que sofreram cortes profundos, outros deram um mal jeito na coluna, fora os que ficaram com a bunda dolorida por dias. Na primeira viagem então, essas coisas podem ser traumáticas para o pobre passageiro. Calixto havia ouvido essas coisas dos técnicos que cuidavam das cápsulas, ela achou que era exagero, mas a dor no seu bumbum era a comprovação da veracidade das informações.

Calixto tentava usar os últimos minutos da descida de paraquedas na cápsula para se recompor, afinal havia a possibilidade de Jordão vir recebê-la pessoalmente. Ela olhou pela escotilha, as crateras de zona de saída daquele planeta eram impressionantes. O toque no solo foi suave, e logo batidas na porta da cápsula indicavam que as pessoas que vieram recebê-la haviam chegado.

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Jordão espera na entrada do Acampamento Principal. Ele vê o veículo de terrestre se aproximar. Ele estaciona junto aos veículos PK 26. Calixto desembarca ainda com um pouco de dificuldade por ter passado muito tempo em um asteroide com quase nenhuma gravidade. Jordão vai recebê-la e diz:

-Fez uma boa viagem?

-Não foi tão ruim, mas o sistema de cápsulas podia melhorar um pouco. - respondeu Calixto.

-Já melhorou, agora existe um sistema de amortecimento nos cabos dos paraquedas, que funciona quando ele abre, antigamente era ainda pior. Mas não se preocupe a cápsula aeronave está sendo desenvolvida, elas vão sair do hiperespaço e voar para seu destino final. - explicou Jordão.

Uma nave de desembarque surgiu no céu fazendo as manobras de pouso. Jordão apontou para a nave e disse:

-Sabe o que tem naquela nave?

Calixto balançou a cabeça negativamente e Jordão continuou:

-O prisioneiro Stall, descanse um pouco, em algumas horas vamos começar o interrogatório dele.

Calixto disse:

-Mas o software de tradução que estamos desenvolvendo com a análise da interação das crianças capturadas e dos clones ainda não está aperfeiçoado o suficiente para um interrogatório eficiente, precisamos de mais tempo.

Calixto notou o sorriso de Jordão, e percebeu que ele tinha algo mais para contar.

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Calixto estava no laboratório de Jurandir e ouvia o relato do especialista em inteligência artificial. Ela estava desconcertada com descoberta daquela IA Stall, e ainda mais com a aparente vontade de colaborar do ser cibernético.

Uma versão da IA Stall estava disponível e a outra era usada no processo de fazer outras cópias dela. A versão que está ligada havia feito o software de tradução da língua humana padrão para a língua Stall.E Calixto pensava que eles estavam tendo tanto trabalho para fazer um software de tradução do asteroide FK 625, e ele já estava pronto ali na sua frente. Tanto trabalho inútil. Jordão chegou ao laboratório e ela disse:

-Acho que esse Stall provavelmente não vai querer falar com a gente, essa raça é muito disciplinada, nem as crianças aceitam interagir com os humanos.

-Também não tenho muita esperança nisso, mas eu quero ver a reação dele quando souber que a IA deles os traiu. - disse Jordão.

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Jordão, Calixto e se sentam e Jurandir dá o comando em seu terminal portátil. Agora a comunicação com a IA Stall foi iniciada. Jordão disse:

-Para começar queremos todas as informações que você tem sobre o nosso prisioneiro Stall.

-Certo, enviando. - disse Toro, enquanto gigabytes de informação eram enviados para o computador de Jurandir, eram vídeos, relatórios, estatísticas, toda a história militar daquele Stall, cujo nome traduzido para a língua humana era Priste.

Jordão viu que quantidade de informações era tremenda e disse:

- Obrigado pela colaboração Toro, nos voltamos a nos falar em breve. - disse Jordão enquanto fazia um gesto para Jurandir interromper a comunicação com a IA. Então depois ele disse:

-É, parece que o interrogatório do prisioneiro vai ter que ficar para amanhã, eu vou mandar meus auxiliares analisarem o material e fazer um resumo. Quero conversar com o Stall sabendo tudo sobre ele.

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A visão começava a ficar menos embaçada e Priste finalmente via os detalhes do local onde estava, parecia ser uma grande barraca. O efeito dos sedativos estava passando e os flashes de memória começavam a chegar a sua mente. Ele se lembrou dos humanos colocando tubos em suas veias e da viagem na nave humana.

Ele desesperadamente pensava em alguma forma de tirar a própria vida, porém não havia como. Então ele ficou lá monitorado pelos equipamentos médicos, e horas passavam e nada acontecia. Os instintos dele diziam que algo ruim estava para acontecer.

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Na atmosfera do Planeta UH9536, na zona de saída do hiperespaço, uma série de flashes luminosos ocorre. Mas eles são bem mais fracos que os flashes padrões, e infelizmente o equipamento de monitoramento dos humanos não os detecta. E as cápsulas que saem do hiperespaço são pequenas, extremamente pequenas, pesam menos de um quilo, são esféricas, com menos de vinte centímetros de diâmetro. Elas são pequenas demais para serem captadas pelos radares. Seus pequenos e frágeis paraquedas abrem e elas descem lentamente em direção ao solo.

rascunho IIOnde as histórias ganham vida. Descobre agora