capítulo 15

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Era como se a partida dele a libertasse da paralisia que a havia protegido de suas próprias angústias. Subitamente próxima de um colapso nervoso, ela disparou pelos corredores, restando para não encontrar ninguém pelo caminho. Após estar salva dentro do seu extraordinário aposento, ela caminhou até o jardim  secreto e se escondeu sob a frondoza árvore de flores brancas de tonalidades de azul. Os galhos estavam tão carregados de flores que quase tocavam o chão, provendo-lhe uma cheirosa caverna obscura, onde poderia livrar-se de seu tormento.

Ela estava destruída pela repentina consciência de que estava se enganando. Ela acreditará que poderia amar Christopher o bastante para fazê-lo ama-la de novo, uma garota que nunca tinha sido amada. Ela havia lhe permitido todas as liberdades, se entregando de corpo e alma, sem guardar nada para si. E agora ele rejeitará seu presente da maneira mais cruel de todas. Ela não era nada além de um objeto, um objeto de valor, mas não insubstituível. Ele não sentia nada além de desejo por ela. Desejo! As ilusões dela de que o tempo curaria as feridas do passado se quebraram ao perceber que as ações dele não nasciam da dor . Ele apenas não se importava com ela. Será que ele havia casado com ela apenas para humilha-la? Apenas para esmaga-la?

Na terra de Christopher, mãos braços de Christopher, ela quase havia conseguido esquecer a falta que havia nela. A parte perdida que a tornava impossibilitada de receber amor. De repente, as lembranças daquele terrível dia de sua infância, quando ela compreendeu a verdade, a inundaram.

– Incomoda-lhe o fato de haver requisitado a metade da herança de Mary antes de adotar Dulce? Afinal de contas, Mary é nossa irmã caçula.

Tia Ella havia perguntado á mulher que Dulce acreditava que fosse sua mãe.

– Não. Ela deveria ter se dignado a não se deixar engravidar por um estranho em um bar. Eu não sei que diabos deu nela para ter esta filha. Nós não somos instituição de caridade. De que outra forma nos poderiamos arcar com as despesas de Dulce?

– Você em muito mais do que isto.

– A herança que Mary herdou de nosso avô foi duas vezes maior do que a nossa. Eu tento pensar nisto como uma forma de compensação por ter que aceitar sangue ruim em minha família. Só Deus sabe que espécie de Zé- ninguém era o pai de Dulce. Mary estava tão bêbada aquela noite que nem conseguiu lembrar o nome dele depois.

Mais tarde, quando Dulce havia se forçado a perguntar, tia Ella lhe contou a respeito de Mary. Aparentemente, para que fosse evitado um possível escândalo, Mary havia se mudado para o Estados Unidos após o nascimento de Dulce e nunca mais voltou. As pessoas que criaram Dulce, a irmã mais velha de Mary, Lucille, e seu marido James, já haviam tido dois filhos, Michael e Belinda, e não queriam ter de assumir mais um. Até que receberam um incentivo financeiro para isto. Mesmo assim tiver mais um filho legítimo - Um amado filho caçula chamado Mathew.

Fora como um tapa na cara saber que todo cuidado que ela tinha recebido fora comprado. Procurando alguém que a amasse, ela havia escrito pra Mary. A resposta chegara em seu aniversário de treze anos, um pedido frio para que ela não fizesse mais contatos, porque Mary não desejava em hipótese alguma ser assosiada á imprudência de seu passado.

Uma imprudência. Era tudo o que Dulce representava para sua mãe biológica . E para sua mãe adotiva ela era uma sangue ruim. Nem Mary nem Lucille foram capazes de ama-la. Hoje, ela tinha sido forçada a aceitar que aquela falta não tinha magicamente desaparecido. Ela nunca fora amada e ainda não era querida.

No dia seguinte, Dulce descediu que não ganharia nada chorando por um fato que não poderia ser modificado. Apesar da ferida, ela se obrigou a retornar ao trabalho no ateliê.

Meu Sheik do desertoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora