Renate Schipke

Começar do início
                                    

Stella e Babsi faziam isso com freqüência, mas eu sempre tive horror de fazer isso: primeiro, não podemos examinar o tipo que se aproxima de nós, e subimos no carro de qualquer um. O pior era quando caíamos nas mãos de um cafetão. Eles freqüentemente se fantasiavam de cliente. E, uma vez dentro do carro, não havia mais nada a fazer. Eles não queriam que as viciadas trabalhassem para eles, pois isso não lhes interessava (elas gastam muito dinheiro com drogas). O que eles queriam era expulsá-las da Kurfürstenstrasse, porque elas baixavam os preços do mercado das profissionais. Babsi uma vez subiu no carro de um deles. Ele a seqüestrou por três dias. Torturou-a e depois a obrigou a trepar com um monte de caras, estrangeiros sujos, mendigos bêbados e coisas do gênero. E durante todo esse tempo Babsi estava, é claro, em crise. Ela viveu um verdadeiro inferno durante esses três dias, mas mesmo assim voltou à Kurfürstenstrasse. É que ela era a rainha do lugar, com o seu rosto de anjo e sua silhueta reta, sem seios nem nádegas. As prostitutas profissionais eram quase tão perigosas quanto os cafetões. A Potsdamerstrasse, o quartel-general das putas da pior espécie, ficava apenas a duzentos metros da putaria infantil na Kurfürstenstrasse. Periodicamente, elas faziam uma verdadeira caça às viciadas. Se pegavam uma, caíam em cima com estilete na mão e deixavam-na em carne viva. Desci na Estação Kurfürstenstrasse. Estava morta de medo. Pensava nos conselhos de Babsi e Stella para evitar tipos jovens em carro esporte ou americano, que podiam ser proxenetas. Os velhos com gravata e gordinhos eram barra-limpa, principalmente se estivessem de chapéu. Os melhores eram os caras que tinham uma cadeira de bebê no banco traseiro: eram pais de família à procura de uma pequena aventura, e tinham mais medo do que a gente. Subi a rua em direção ao Sound, não à beira da calçada, mas ao lado das casas, com um ar de quem não queria nada. Logo depois um cara me fez sinal. Eu o achei estranho, com um ar agressivo. Talvez por causa de sua barba. Mandei-o passear e continuei meu caminho. Não havia outra menina à vista. É que ainda não era meio-dia. Sabia disso, pois Babsi e Stella me haviam dito que ficavam furiosos, pois se viravam como doidos para conseguir meia hora e não encontravam nenhuma menina. Às vezes, na Kurfürstenstrasse havia mais clientes do que meninas. Muitos outros carros pararam. Fingi que não os via. Olhava as vitrinas de uma loja de móveis. Caí novamente no sonho do meu apartamento. Pensei: "Christiane, minha filha, recomponha-se. Os vinte marcos, é preciso encontrá-los rápido. Concentre-se". Nesses casos eu precisava me concentrar para me livrar o mais rápido possível. Um Comodoro branco parou. Nada de cadeira de criança no banco traseiro, mas o cara não tinha aspecto de louco. Subi sem pensar muito. Acertamos por trinta e cinco marcos. Fomos à Asknischenplatz, onde havia uma velha estação desativada. Foi rápido. O cara foi bonzinho e até esqueci que era um cliente. Ele disse que gostaria de rever-me, mas que partiria dentro de três dias para a Noruega, em férias com sua mulher e os dois filhos. Pedi-lhe para me deixar na Universidade Técnica, pois era lá que encontrávamos heroína pela manhã. Ele aceitou na hora. 

O dia estava lindo nesse 18 de maio de 1977. Eu guardei bem a data, pois foi dois dias antes do meu décimo quinto aniversário. Andava à toa, conversava com dois caras, acariciava um cão. Era a felicidade. Achava formidável não estar apressada, poder esperar para me picar na hora em que eu tivesse vontade de verdade. Não estava mais em estado de dependência. Depois de certo tempo passou um cara que perguntou se eu queria droga. Disse-lhe que sim, e comprei-a por quarenta marcos, Desci para me picar no toalete de senhoras da Ernst-Reuter-Platz, que era bastante limpa. Pus meia dose na colher, pois depois de um tratamento era preciso ir com moderação. Piquei-me com certa solenidade, dizendo a mim mesma que seria a última dose. Acordei duas horas mais tarde, a bunda no vaso sanitário, agulha no braço. Minhas coisas no chão. Eu me sentia relativamente bem. No fundo, havia escolhido o melhor momento para me curar. Meu passeio a Kudamm dançou. Comi no restaurante universitário, por dois marcos e meio, batatas e salsichão, mas vomitei tudo alguns minutos mais tarde. Andei à toa na Estação Zoo para dizer adeus a Detlef, mas não o encontrei. Precisava voltar para casa, pois meu gato tinha necessidade de mim. Pobre gato, não tinha se mexido e continuava no meu travesseiro. Limpei a seringa e lhe dei um pouco de chá com açúcar de uva. Não era assim que eu imaginava minha última jornada de viciada. Se eu pegasse um dia a mais? Aí minha mãe chegou e me perguntou onde passara a tarde. — Em Kudamm. — Ela não estava contente. — Você tinha dito que passaria para se informar na Narconon. 

Eu Christiane F. 13 Anos Drogada e Prostituída.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora