Gerhard Ulber

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Gerhard Ulber, chefe do Departamento Antitóxicos da  Polícia de Berlim.

Na guerra contra as drogas, nós, da polícia, tentamos com todas as nossas forças e possibilidades evitar o tráfico das mesmas, especialmente o da heroína, ajudando assim as tentativas de terapia dos órgãos competentes. Em 1976 confiscamos dois quilos e novecentos gramas, em 1977, quatro quilos e novecentos e nos primeiros oito meses de 1978, oito quilos e quatrocentos de heroína. Isso, evidentemente, não significa que a nossa apreensão tenha aumentado, se comparada ao aumento da oferta e consumo. Pessoalmente, sou bem mais pessimista. As quantidades de heroína no mercado aumentaram! No ano passado a prisão de um traficante com cem gramas de heroína teria sido uma sensação; hoje, é insignificante. Reconhecemos que, com grandes lucros, há também muitos alemães envolvidos no tráfico da heroína. Os contrabandistas e atacadistas são quase todos estrangeiros, como o são também aqueles que têm contato direto com eles. Mas já no nível abaixo, de traficantes, temos quase só alemães. Estes, por sua vez, passam até cem gramas aos fornecedores, que as vendem ao consumidor final, o viciado. Nossas investigações, feitas com sucesso, mostraram que os contrabandistas e traficantes ficaram mais cuidadosos, o que por sua vez exige de nossa parte mais atenção. Mas quanto mais agimos em pontos públicos contra os viciados e os seus passadores, mais eles se escondem. Torna-se quase impossível descobrir os seus pontos de comercialização. Basicamente, a polícia pode fazer de tudo: vigilância nos lugares públicos, presença constante de policiais na "cena", etc. Mas o tráfico aumenta, e o mercado sempre encontra uma saída. Cada vez mais, o tráfico da heroína está sendo feito em apartamentos, onde os viciados a compram e se livram da vigilância policial. Dos oitenta e quatro mortos vítimas de heroína no ano de 1977, não tínhamos o menor conhecimento de vinte e quatro desses viciados, e eles, com certeza, não morreram em conseqüência de uma primeira dose. O consumidor assíduo de barbitúricos também só aparece quando é levado, inconsciente, para um hospital, onde, com a ajuda dos médicos, é salvo no último momento. É perfeitamente possível pessoas se injetarem heroína durante anos a fio, sem que a polícia as descubra. Em outras palavras: a polícia não pode resolver o problema dos tóxicos sozinha. Os americanos tiveram essa experiência com a Lei Seca (proibição do álcool) e nós, após 1945, com o mercado negro. Se existe uma grande procura, há de haver sempre uma grande oferta. Eu poderia mobilizar mais vinte policiais para este serviço, e nós prenderíamos, certamente, alguns pequenos traficantes. Mas o problema não ficaria solucionado, estaria apenas transferido para as prisões, onde já é bastante elevado o tráfico de drogas. Prisioneiros viciados fazem de tudo para conseguir o tóxico, e os traficantes internos, por sua vez, também fazem de tudo para abastecê-los. Temos que falar claramente: os lucros são muito grandes e isso facilita a corrupção. Se não conseguirmos isolar os viciados em drogas dos presos comuns, acontece — como aqui em Berlim — ou o caos nos presídios ou o fim do moderno sistema penitenciário. Se quisermos evitar que o uso dos tóxicos aumente dentro das prisões e que outros se viciem, será necessário proibir saídas, visitas numerosas, etc. Na prática, é absolutamente impossível revistar cada um que volta das saídas e, mais ainda, os que visitam os presos; e isso seria muito importante. Existem mulheres que transportam heroína en- volta num preservativo, dentro da vagina, e homens, no ânus. Prisões, condenações e penas permanentes de nada adiantam. O viciado em heroína não reage a nada disso enquanto tiver a possibilidade de satisfazer o seu vício. O esclarecimento preventivo seria, na minha opinião, o único meio de evitar o aumento dos viciados. 

Eu Christiane F. 13 Anos Drogada e Prostituída.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora