O inesperado

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       "Estradas difíceis sempre levam à lugares bonitos."


Beatrice


      Desperto com a luz fraca do sol em meu rosto, pequenos raios que transpassavam pelas frestas da janela de madeira do quarto. Não consegui dormir depois do encontro com o homem encapuzado, era impossível esquecer do arrepio que percorreu todo meu corpo, quando havíamos nos deparado com ele.

      Quem era? 

      O que estava fazendo ali?

      E por que parecia estar fugindo?

      Pensar sobre isso me fazia estremecer somente de imaginar as respostas das minhas indagações. E calafrios, era a única coisa que obtivera em troca.

      Como de costume me levanto silenciosamente, pois não quero acordar Bianka que ainda dormia na cama ao lado. Ando até a janela. O quarto é pequeno, mas o suficiente para nós duas. As camas de madeira possuem colchões de palha, que na minha opinião são extremamente aconchegante. E para completar a mobília, um criado em meio as camas e dois baús nas extremidades para guardarmos as nossas roupas. A única luz presente no cômodo é da janela e de uma vela quando anoitecia.

      A abro e logo sinto a brisa da manhã entrar e percorrer todo o quarto. O sol subia lentamente acordando os aldeões, que se preparavam para iniciar o dia que nascia. Não demorou para que as cotovias começassem a cantarolar. Um assobio suave, que emanava da floresta, que na noite passada julguei por um mísero segundo, ser assustadora.

      Era como se toda a imensidão da floresta chamasse meu nome.

      Beatrice, Beatrice... Beatrice...

      Ela parecia saber do que eu realmente precisava, um pouco de tranquilidade e suas árvores como minha única companhia.

      - Já acordada?

      Ouço a voz de Bianka interromper-me e tirar-me o foco da análise que fazia. A longa contemplação da floresta e a magnitude da aurora, me deixaram absorta em relação ao que me rodeava. Mas, compreendo que não era para menos, o dia prometia ser majestoso e foi por isso que me permiti ficar completamente alheia para o resto do mundo.

      - Beatrice... Você está bem? - Bianka diz em um tom preocupado - Beatrice?

      - Ssim... estou bem - As palavras falharam em sair e quase gaguejei, estava tão dispersa que não percebi que ainda não havia respondido - Não poderia estar melhor - Digo reconfortando-a.

      Um silêncio sepulcral reinou no ambiente enquanto nos arrumávamos.

      Escolhi uma blusa branca de mangas franzidas, uma saia marrom de algodão e um colete azul fechado por uma fina tira que cruzava de um lado a outro.  E por último, calcei as botas. Optei por deixar os cabelos soltos, que caiam sobre meus ombros e desciam até o meio de minhas costas. Logo localizei meu arco e aljava.

      - Trice - A voz de Bianka me chamou a atenção, ela estava deslumbrante. Trajava uma blusa que se assemelhava a minha,porém com uma tonalidade marfim. Uma saia marrom e um colete também do mesmo, com arabescos na cor preta e dourada - Pode trançar meus cabelos? - Pediu com a voz serena - Não estou com muita paciência para arrumá-los.

Entre flechas e espadas - Espíritos indomáveisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora