Capítulo 13

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"A paciência em muitos casos não é mais senão medo, preguiça ou impotência."

~Marquês de Maricá

***

Dois meses se passaram e eu já tirei o gesso, usei a tal bota a prova d'água, que nem sabia que teria de usar mas me recuperei e ando perfeitamente. O médico disse para eu ainda ter cuidado e não forçar muito mas eu já fiquei tempo de mais fazendo movimentos cautelosos e meu patins também já chegou. Ele é mil vezes mais confortável que o gesso mas minha mãe ainda fica falando que o impacto que eu uso no chão para fazer os movimentos toda vez que ando é muito perigoso, então estou proibida de andar por enquanto.

Preciso estravasar um pouco e gastar energia, por sorte, essa é a primeira aula de educação física que eu vou poder participar desde que cheguei.

- Vamos direto para a quadra, o professor já deve ter se apresentado. - Camila sugeriu e eu concordei.

- Verdade. Seu uniforme de educação física já chegou?- lembrei que ainda não tenho e perguntei.

- Meu pai pegou dois no estoque, quando seus pais foram lá não tinha?

- Infelizmente não, tiveram que mandar fazer... Vai chegar junto com os uniformes diários.

Eles estão me enrolando até hoje.

- Ah, eu te empresto um.

Agradeci aliviada porque a minha roupa não é confortável para a aula.

Fomos correndo e a turma já estava se aquecendo, aqui tem várias áreas para educação física (arenas, quadras poliesportivas, ginásio, campos, piscinas e tudo mais). Chegando ao vestiário lembrei de quando vim fazer a matrícula e a pessoa que me apresentou a escola me entregou a chave do meu armário para as aulas esportivas. A escola doa para todos os alunos um tênis, uma toalhinha, uma garrafinha e uma faixa de cabelo que devemos usar em todas as aulas.

Quando eu peguei o uniforme na mão e medi no meu corpo quase tive um infarto.

- Como isso cabe em você?- Perguntei espantada.

Ela me olhou divertida e disse:

- Acredite, esse é o tamanho M baby look da loja, o G ficaria grande demais.

- Mas minha mãe pediu P.

Ela riu alto e eu me vesti, se com esse tamanho o uniforme desenhou todas as minhas curvas imagina quando o meu chegar. Ele é bonito, a mistura de preto, branco e dourado não decepcionou.

- Está pronta?- Ela perguntou.

- Amarrando o cadarço do tênis.

- Você tem algum elástico de cabelo?

- Tenho, pega no meu armário. Tá em um pacotinho.

Terminei de sair e quando olhei ela estava com uma foto em mãos, lembrei na hora que deixei uma foto minha e do Arthur junto ao pacote de xuxinhas quando vim aqui pela primeira vez.

- Você tem namorado?

Ela não reconheceu que era o Arthur porque ele mudou muito desde quando era criança.

- Não, ele é meu amigo de infância.

Peguei a foto da mão dela, depositando a mesma no armário e quando eu ia fechar o armário ela disse:

- Deve estar lindo agora, me passa o insta dele.

Eu fiz uma careta negando e ela riu então fomos nos juntar a turma. Quando saímos atraímos vários olhares, a Camila é doida e enquanto mais os meninos elogiavam mais ela se mostrava. Eu ri com a situação e enquanto me preparava para correr o Miguel se materializou na minha frente. Ele estava com o uniforme mas nem parecia porque ficou muito bonito nele.

- Ei macaca. Você acha que está em um país tropical? As pessoas não são acostumadas com isso aqui, vou te proteger.

Ele disse me abraçando e atraindo mais olhares ainda, nem todos bons.

- Sem contato físico na escola, ao invés de você me proteger tá me fazendo correr risco de expulsão idiota.

Ele me largou mas ficou parado na minha frente igual uma muralha.

- Que isso hein.

Um idiota passou e falou, o Miguel cerrou um punho e ameaçou dar um soco nele que rapidamente saiu da nossa presença.

- Aonde você estava até agora? Todo mundo já deu as dez voltas na quadra e está indo para o alongamento.- Arthur chegou perguntando.

- Eu acabei me atrasando sem querer, cadê a professora?

- A professora é meio doida, ela não liga muito para as coisas.

Não tinha reparado já que toda vez que era aula de educação física ficava fazendo atividades na coordenação.

- Que bom, vou dar algumas voltas e acompanhar a turma no alongamento.

Saí de perto dele, dei cinco voltas ao redor da quadra e fiz o alongamento pela metade para acompanhar a turma.

Após isso jogamos futebol, tanto as meninas quanto os meninos e foi obrigatório. Boa parte dos meninos amaram e outra parte queria jogar rugby. Já as meninas não ficaram tão empolgadas assim mas salvaram umas dez que ficaram bem animadas.

No meu time a única pessoa que eu converso é a Raíssa. No time adversário estão a Camila, a Louise e outras meninas que compõem as duas turmas da última série.

Estávamos animadas jogando e a Raíssa fez dois gols no primeiro tempo, levando o nosso time a sair na frente enquanto o outro time estava com zero.

No segundo tempo eu avancei com a bola e estava correndo tanto que o meu pulmão ardeu como não fazia há muito tempo.

Já estava próxima ao gol quando a Louise me empurrou sem nem tentar disfarçar. Eu caí igual uma jaca no chão e ela riu, ouvi o apito e tentei levantar mas estava difícil então a Cami me ajudou.

- Porque você fez isso? É só um jogo.

Camila perguntou chateada e me ajudando a limpar o meu uniforme.

- Porque eu quis.- Ela respondeu sem vergonha nenhuma e eu cerrei o punho.

- Olha aqui garota...

- Olha aqui o que?

- Ah, é hoje que você vai correr chorando para os bracinhos do papai.

Falei avançando para cima dela mas a Raíssa me segurou e disse:

- Não faz isso.

A Camila também falou:

- É, não vale a pena.

- Já ouviu falar da caixa de Pandora? Quanto mais falam para você não abrir mais você quer abrir. Essa é a natureza humana. Agora que vocês estão me falando para não fazer eu quero fazer mais ainda, chega mais perto querida. Vou te colocar no seu devido lugar.

Eu falei e parti para cima.

Friever's (SPIN-OFF)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora