Capítulo 2

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Minha doce Ruht,

É com pesar que escrevo ti esta carta, talvez sejam as minhas últimas palavras. Por favor não chore, não suportaria  ver-te assim. Sei que prometi voltar, mas já não tenho tanta certeza que conseguirei cumprir com minha promessa. Mas quero que saiba que sempre hei de te amar, não importa o que me aconteça. Você foi e sempre será a única mulher que amei. Peço ti que cuide de nossa mãe, diga a ela que não deixe de viver, pelo contrário, viva cada dia como se fosse o último, pois não sabemos quando o fim chegara. E você também, não se sinta pressa a mim, seria egoísta da minha parte,por isso deixo te livre do nosso compromisso.Quero que seja feliz minha amada, mesmo que não seja ao meu lado. Tenho que ir agora, a guerra me chama.

Com amor, Bernado.

Caiu no chão aos prantos, seu coração estava dilacerado por dentro. Dona Beatriz ao ver o estado da jovem e a carta em suas mãos, logo deduziu o que estava acontecendo.

– Não!!! Meus filhos não. – Gritou desesperada.

– Dona Beatriz! – A jovem se levantou abraçando a mulher. – Eles...se foram.

– Por que meu Deus? Por que permitiste isto. O que fiz de errado para merecer tanta dor e sofrimento? – Disse se lançando em terra. – Porque não me levaste junto?

E ali choram juntas, uma sentindo a dor da outra. Confirmando assim a frase que havia visto em algum lugar: "A guerra destrói três histórias: A de quem se vai, a de quem fica e a de quem ainda está por vir."

Aquela semana foi a mais difícil de todas, olhar para as roupas e sentir o seu cheiro era uma tortura diária. A jovem estava muito abatida, mal comia direito, seus olhos possuíam olheiras profundas. Dona Beatriz apesar de tudo tinha se conformado.

– Ruht você tem que se alimentar ou ira adoecer. – Disse a mulher entrando no pequeno cômodo.

– Talvez seja melhor assim.

– Não digas isso, ele não gostaria de ti ver assim. Você precisa ser forte minha querida.

– Só queria que ele estivesse aqui.

– Eu sei, eu também queria tê-los aqui, mas infelizmente não é possível. Lembre-se "Entender a vontade de Deus nem sempre é fácil...

– ...mas crer que Ele está no comando e tem um plano para nossa vida, faz a caminhada valer a pena!" – Completou a jovem enxugando uma lágrima solitária que escorria pelo seu rosto.

– Sabe querida, eu estava pensando. Muitas pessoas estão indo embora em busca de uma vida melhor. Já não temos mais nada que nos prende aqui.

– E para onde iriamos ?

– Para Judá. Antes de vir para aqui, meu marido e eu tínhamos comprado um pedacinho de terra para construir nossa casa. Podemos recomeçar nossa vida por la, longe de toda essa guerra.

– Mas dona Beth o que duas mulheres fariam sozinhas em outra cidade. Sobreviveríamos de que?

– Deus providenciara tudo.

Ruth nunca imaginou que um dia sairia das terras de Moabe, ali viveu momentos difíceis, mas apesar de tudo foi feliz. A viagem fora marcada para daqui três dias. Seria uma longa jornada, por isso preferiram levar apenas o necessário, algumas peças de roupa, e alguns trocados que haviam juntado, não poderia esquecer sua caixa com as cartas de Bernardo. Malas prontas, partiram rumo ao seu destino. Apos dois dias chegaram em Judá, o cenário era completamente diferente, verdes campos se avistavam a quilômetros de distância. As pessoas andavam tranquilamente pelas ruas. Estavam exaustas, a única coisa que queriam eram comer alguma coisa e descansar. Andaram mais um pouco antes de chegar em frente a um barraco, deteriorado por conta do tempo.

– Está pior do que imagina. – Disse a mulher analisando o estado daquela que um dia fora sua casa.

– Cuidado dona Beth. Isso pode ruir a qualquer momento.

– Não tem condições nenhuma de ficarmos aqui. O que faremos agora ?

De repentes finas gotas de chuva começa a cair do céu.

– Era só o que nos faltava. Temos que nos abrigar em algum lugar. Vamos! – Disse a jovem pegando as malas e conduzindo a mulher pelas ruas.

– Bea? É você mesmo ? – Gritou uma senhora ao avistar as duas mulheres perdidas.

– Margarete? – Dona Beatriz franziu a testa tentando reconhecer a senhora.

– Sim sou. Não reconhece mais uma velha amiga.

– Não acredito que depois de anos nos reencontramos novamente. – Disse abraçando a mulher visivelmente emocionada.

– O que faz aqui ? Cade o Osvaldo e os meninos ? – Perguntou com entusiamo.

– Você deve ter ouvidos os rumores sobre a guerra... – Disse com o semblante triste.

– Sim, mas...minha nossa! Eu- eu sinto muito querida. – Abraçou-a após ligar os pontos. – Mas me digam para onde estão indo, daqui a pouco ira cair um temporal. - Disse olhando para o céu.

– Na verdade não temos para onde ir. Pensei que poderíamos nos abrigar na minha antiga casa, mas seu estado está deplorável.

– Bem, moro em uma pensão aqui perto. Não é la essas coisas, mas eles fazem um bom preço. Além darem café da manha, almoço e janta.

– Esta ótimo para nós.- Não tinham muitas escolhas .O quarto era pequeno, possuía apenas um beliche, um armário velho, e uma penteadeira com o espelho trincado. Apos se instalarem, tomaram um banho e se alimentaram.

– Não se preocupe, amanha mesmo procurarei um emprego. – Disse a jovem arrumando suas roupas no armário.

Na manha seguinte acordou cedo, apos fazer sua oração e se arrumar, tomou seu café e saiu a procura de algo em que pudesse trabalhar. Porém , foi mais difícil do que ela esperava. Passou o dia todo batendo de porta em porta, perguntando se precisavam de alguém, muitos a olhavam com desconfiança, outros simplesmente batiam a porta em sua cara. Seus pés já estavam doendo quando se sentou-se em banco massageando-os.

– Dia difícil ? – Perguntou um senhor já de idade.

– E como ! Nunca pensei que arrumar um emprego seria tao difícil.

– Olha não sei se seria do seu interesse. Mas estão contratando pessoas para trabalhar na colheita de algodão na fazenda El Dourado.

– Serio?! Onde fica? – Perguntou animada.

– A poucos metros de distância daqui.

Depois de se informar direito, a jovem não perdeu tempo. Apos uma rápida conversa com o gerente, logo foi contratada. O salário não era muito, mas o suficiente pagar a pensão e se manterem. Era um trabalho árduo, que exigia paciência e dedicação. Com o tempo suas mãos já estavam calejadas e habilidosas. Seis meses já haviam se passado. Durante esse tempo um dos trabalhadores havia se encantado pela beleza de Ruth,não perdia oportunidade de dar em cima dela. Ela por sua vez, sempre o ignorava. Porem, certo dia, durante o fim do expediente quando todos já estavam arrumando suas coisas para ir para casa, ele ficou na espreita esperando o momento certo de agir. Quando percebeu que só restava ela, agarrou-a por trás.

– Agora não tem com fugir de mim. – Disse ele roçando em seu pescoço. Era possível perceber que estava alterado por conta do álcool.

– Deixe me em paz. – Gritou a jovem tentando se soltar em vão.

– Por que a pressa vamos conversar mais um pouco.

– Socorro por favor alguém me ajude. – Gritava desesperada.

– Não precisa ter medo docinho, vai ser rápido nossa conversa. – Disse beijando seu pescoço.

– Me solte. Socoooro! – Se debatia desesperada.

– Ouviu a moça, solte a imediatamente. – Uma voz imponente bradou.

– Quem você pensa que é para atrapalhar o meu momento de prazer ? – Virou-se cambaleando.

– Seu patrão!

*1298 palavras.

Era uma VezWhere stories live. Discover now