1980
Era uma noite fresca de solstício de verão e a velha casa de madeira mal se aguentava sobre suas vigas, com os saltitos e danças das dezenas de adolescentes em seu interior. Meliodas não sendo o garoto mais festivo dentre seus amigos, se sentindo incomodado com a música alta, levanta da poltrona afastada dos demais e sai pela porta dos fundos. Lá observa a bela paisagem noturna enquanto traga um cigarro de menta.
Um feixe de luz surge acima de seus olhos. Curioso, Meliodas adentra a floresta para ver mais de perto. Quanto mais se aproximava, sentia rajadas de vento quente o atingirem. Ele para bem abaixo do feixe luminoso, já não conseguindo abrir seus olhos. De repente, suas pálpebras ficam pesadas e ele adormece ali mesmo.
Ao despertar, se vê com um forte enjoo. Por instinto, tenta levar a mão à boca, mas não consegue, se dando conta do aperto gelado em seus pulsos. Não bastou uma olhada para assimilar o cenário à sua volta. Ele entra em pânico.
O garoto era rodeado por aparelhos e canos que levavam seu sangue até frascos de vidro. Ele sente sua face suar. Com o clique que ouve a seguir, pularia de susto se não estivesse preso à parede por amarras. A porta da parede oposta se afasta, permitindo a entrada de uma figura estranha.
Era como um general do exército de farda e pele cinzenta e mucosa.
- Bon jour. Ça va bien?
- O quê? Não entendi – reponde Meliodas, ainda sonolento, pela perda de sangue.
O ser pisca os olhos esbugalhados.
- Ah, português. Derivado do latim.
- Onde eu tô? – pergunta o garoto, impaciente.
- Por enquanto você não precisa saber. Tudo o que tem fazer é ficar quieto, assim coletamos seu sangue mais rápido. - A porta se abre novamente. Dessa vez era um tipo de mulher com a mesma pele cinzenta e longos e emaranhados dreads. - Não podemos perder nenhuma gota.
O general se vira e deixa Meliodas sozinho com o outro ser vestido de enfermeira. Abismado ele espera a enfermeira começar a furá-lo com seringas e fazer dele a sua vítima de experimentos, mas ela apenas se encaminha até os frascos e os enche com um líquido vermelho tirado de um frasco em seu bolso.
Melioda não se aguenta e a metralha com perguntas.
- O que você tá fazendo? Quem são vocês? Onde eu estou?
Ela apenas revira os olhos e o observa de relance. Em um surto de pânico o garoto berra e se debate, mesmo sabendo que não daria em nada.
- Cala boca! – ela grita. Respira fundo e volta a cochichar. –Você vai estragar o plano.
Sem entender, baixa a voz e pergunta:
- Que plano? – Sem resposta. Seus olhos se enchem de lágrimas. – O que está acontecendo?
A mulher caminha em sua direção e o rapaz baixa a cabeça, aceitando seu destino terrível. Mal percebe as amarras dos pulsos afrouxarem e caírem soltas.
- Você precisa ficar aqui só por mais algumas horas, até virem te buscar.
Com um toque de seu dedo pegajoso na testa dele, a enfermeira se afasta, pega os frascos cheios e some de vista. Assim como todo o resto. Meliodas adormecera novamente.
Enquanto Meliodas dormia, um pequeno módulo de coleta pousava na doca da nave.
- Módulo 239. Coleta de corpos.
- Confirmado. Pode abrir.
O piloto desce do módulo e as portas se abrem, mas ele não entra antes de também abrir a traseira do módulo e de lá tirar uma espécie de prateleira de alumínio com rodinhas, ocupada com fileiras de gavetas. Finalmente o piloto entra na nave. Levando consigo a prateleira, atravessa os corredores até chegar ao certo, e entra nas saletas, uma seringa com líquido esverdeado para cada um, as cobaias adormeciam e uma a uma eram postas dentro das gavetas.