Capelobo

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Sua área de influência está limitada pelos rios do Pará. Fróis Abreu registrou-o no Maranhão com o nome de Cupelobo. Das estórias, duas vinham do rio Xingu. Nessa região o Capelobo goza de popularidade e espalha medos incríveis, especialmente entre os indígenas caçadores. Nos rios paraenses, definem o Capelobo como o Lobisomem dos índios. Difere, entretanto, do tipo maranhense do rio Pindaré. Pintam-no como um animal ora com formato humano, quase ao jeito do Mapinguari, tendo as mesmas atividades ferozes e desnecessárias. Como animal, o Capelobo parece com a Anta (Tapirus americanus), sendo maior e mais veloz. Tem cabelos longos e negros e patas redondas. A cabeça finda por um focinho lembrando o porco e o cachorro. No Maranhão é um focinho de tamanduá-bandeira. Sai à noite e ronda os acampamentos, barracões e residências perdidas na mata, catando cães e gatos recém-nascidos. Apanhando animal ou homem, parte a carótida e bebe o sangue. Depois abandona no local o corpo da pobre vítima, para que outros animais possam se servir dele. Só pode ser morto com um ferimento no umbigo.
No Maranhão o Capelobo, como também no Xingu, não tem a boca como o Mapinguari e o Quibungo. A curiosidade maior é o focinho de tamanduá- bandeira saindo de um corpo humano. Sua presença nas proximidades de qualquer moradia isolada pode ser percebida com facilidade até mesmo por pessoas menos observadoras, pois além de seus pés com formato de fundo de garrafa deixarem rastros perfeitamente reconhecíveis a um simples olhar, assim como o Mapinguari e o Pé de Garrafa, o Capelobo grita muito, anunciando-se. Como o Mapinguari, o Capelobo não tem amizades com os homens nem faz alianças para caça, pesca, corte de madeiras, caucho, seringa. É simplesmente uma fabulosa máquina de matar. Aperta a vítima num abraço mortal, talvez daí lhe tenha vindo a semelhança com o tamanduá (Myrmecophagideo), vara-lhe o crânio e, pondo a tromba, suga toda a massa cefálica. Não se intimida diante de um bicho maior que ele, pois sempre consegue dominá-lo com facilidade, para depois lhe cortar o pescoço e beber o seu sangue. Dizem, no rio Xingu, que certos indígenas depois de velhos, muito velhos, perdida a própria noção de vida, tornam-se Capelobo bebendo puçanga, embora admitam que sobre esse processo de modificação não existem informações que possam esclarecê-lo de forma satisfatória. Mas não mais retomam a forma humana. É uma transformação espontânea e deliberada, sem que intervenha força mágica do pajé. O misterioso animal tem corpo de homem, coberto de longos pelos extremamente resistentes a tudo, a cabeça é igual à do tamanduá-bandeira e o casco é como um fundo de garrafa. Quando encontra um ser humano, abraça-o, trepana o crânio na região mais alta, introduz a ponta do focinho no orifício e sorve toda a massa cefálica.

Glossário Da Mitologia Brasileira - V.L.IWhere stories live. Discover now