Kuru'pir (Curupira)

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Curupira e currupira procedem do tupi kuru'pir, que significa "o coberto de pústulas". Curupira, na Amazônia, no Maranhão e no Sudeste do Brasil, vem de curumi (menino) e pira (corpo), portanto "corpo de menino".

No Amazonas se apresenta como um tapuio pequeno, de 4 palmos (Santarém) calvo ou de cabeça pelada (piroca), ou de cabelos vermelhos em chamas com o corpo todo coberto de longos pelos (Rio Negro); de pernas sem articulações (Rio Negro);com um olho só (Rio Tapajós); muciço e sem ânus (Pará); de dentes azuis ou verdes e orelhas grandes (Solimões). Sempre com os pés voltados para trás servindo para despistar os caçadores e invasores, deixando-os sempre a seguir rastros falsos num labirinto. Quem o vê, sente antes um cheiro forte de alho perdendo totalmente o sentido e o rumo, não sabendo mais achar o caminho de volta.

Dotado de uma força prodigiosa, é o responsável pelos estrondos da floresta. Para experimentar a resistência das árvores conservando-se fortes para resistir as tempestades e prevenir aos moradores da mata do próximo perigo, bate-lhes com o calcanhar, armado com um casco de jaboti, no Alto Amazonas, e em Óbidos, com o pênis.

Poderoso senhor e dono das matas cujos segredos sabe e defende, o curupira persegue os caçadores e invasores com os seus assobios (Rio Negro) emitindo também gritos, e gemidos que imitam um animal ou uma ave que fazem o caçador perder-se na floresta ao tentar persegui-lo. Ou ainda reproduz a voz semelhante à um ente querido. Defensor da fauna e da flora. Sob a sua guarda direta está a caça, e é sempre propício ao caçador que se limita a matar conforme as próprias necessidades. Aos que matam por gosto fazendo estragos inúteis, perseguindo as fêmeas, especialmente quando prenhes, pequeninos ainda novos, o Curupira é um inimigo terrível. Umas vezes vira-se em caça que nunca pode ser alcançada, mas que nunca desaparece dos olhos sequiosos do caçador, que, com a esperança de a alcançar, deixa-se levar fora de caminho, onde o deixa miseramente perdido, com o rastro, por onde veio, desmanchado. Outras, o que é muito pior, o pobre do caçador alcança a caça, até com relativa facilidade, e a flecha vai certeira embeber-se no flanco da vítima, que cai pouco adiante com grande satisfação do infeliz. Quando chega a ela porém, e vai para colher, em lugar do animal que tinha julgado abater, encontra um amigo, ou sua esposa, um filho, ou a sua própria mãe.

O Curupira gosta de descansar na sombra das mangueiras para comer os frutos. Lá fica entretido ao deliciar cada manga. Mas se percebe que é observado, logo sai correndo, e numa velocidade tão grande que a visão humana não consegue acompanhar.
Costuma levar crianças pequenas para morar com ele nas matas. Após encantar as crianças e ensinar os segredos da floresta, devolve os jovens para a família, após sete anos.
As índias adolescentes, ao doce embalar das redes de tucum, adormecem sonhando com o Curupira. Se alguma delas cometer uma falta e não a puder justificar, logo será acusado o Curupira pelo crime de sedução.

Glossário Da Mitologia Brasileira - V.L.IOnde as histórias ganham vida. Descobre agora