Capítulo único

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Segunda-feira, mais um dia entediante onde eu estou sentado em uma cadeira qualquer da guilda, olhando ao redor.

Eu poderia fazer uma missão, mas nenhuma das que estão no quadro parece interessante, não estou muito afim de colher flores ou fazer entregas delicadas, além de que, felizmente, não estou precisando de dinheiro.

A guilda hoje está mais vazia do que o normal, afinal é a última semana do mês. A maioria dos magos no final do mês começam a correr desesperados atrás de alguma missão fácil e rápida que pague bem, provavelmente porque em suas missões anteriores o dinheiro não rendeu por conta dos estragos, sei bem como se sentem... Meu time é perito nisso.

Ouço a porta se abrindo, ninguém além de mim pareceu perceber. Finalmente a pessoa que eu tanto ansiava em ver chegou.

Lucy sentou-se no balcão, logo engatando em uma conversa animada com a Mira. Melhor assim, eu não saberia o que falar caso ela decidisse vir na minha direção.

Admito que já fazia alguns meses que eu a via com outros olhos, aos poucos fui percebendo o que isso significava e como as coisas poderiam ser mais complicadas de agora em diante.

Observar a loira tinha se tornado meu maior passatempo, mas nunca passei disso. Eu não fico olhando para ela diretamente, seria estranho se ela percebesse e resolvesse perguntar o que tanto olho. Sempre dou algumas olhadas de canto, disfarçando ao máximo.

Durante esse tempo eu pude conhecer melhor ela, comecei a reparar em coisas que antes eu sequer sabia que eram possíveis de se perceber apenas olhando, como por exemplo que tipo de comida ela gosta ou não, o quanto ela fica fofa quando se assusta, ou até mesmo o quão assustadora ela poderia ser quando fica nervosa.

Obviamente, ela não precisa ter conhecimento sobre o que sei sobre si, pelo menos não ainda. Continuo agindo normalmente perto dela, sempre tentando não transparecer o que realmente sinto, mas alguém percebeu: Juvia.

A azulada reagiu melhor do que eu esperava, e por mais incrível que pareça, ela tentou de várias formas me empurrar para cima da loira como se esse fosse o maior objetivo de sua vida.

— Juvia acha que você deveria ir falar com ela — pulei no lugar, eu estava tão aéreo que nem vi sua chegada.

— Que susto, Juvia... — respirei fundo para me recuperar. — Você sabe que não é uma boa ideia.

— Juvia sabe que o melhor a se fazer é admitir logo o que sente, assim o baque é menor se você for rejeitado, nesse caso é só tentar seguir em frente.

— É... Você tem razão, mas é difícil.

— Juvia fez o máximo que podia, agora é com você — sorriu carinhosa antes de se afastar, me deixando sozinho novamente.

Eu sabia que ela tinha razão, ela sabia exatamente como eu me sentia, mas ela seguiu em frente quando finalmente aceitou que eu não a correspondia, talvez eu devesse mesmo arriscar e finalmente tirar esse peso das minhas costas.

Reúno toda minha coragem, bebo o resto da minha água e olho para Lucy novamente, espero um pouco até a Mira se afastar. Levanto e começo a andar em passos lentos em sua direção, apesar do medo eu preciso continuar.

— Lucy?

— Gray, que surpresa — ela me olhou com seus belos olhos castanhos. — Pensei que estivesse em alguma missão...

— Eu só estava sentando em uma mesa mais afastada, não estou muito afim de me meter em alguma confusão hoje — sentei ao seu lado.

— Realmente, é sempre bom evitar...

— Lu, eu preciso te contar uma coisa meio complicada...

— É algo grave? Você está bem? Quer que eu chame a Wendy? — levantou-se.

— Ei, calma — impedi que ela saísse correndo atrás de ajuda. — Não é nada grave, eu estou bem — sorri a tranquilizando.

— Tem certeza? Você não está mentindo só para eu não me preocupar, né?

— Claro que não.

— Ok, vou acreditar. Então, o que tem para me contar?

— Bem... Eu não sei como te explicar isso, mas é que... — sou interrompido pelo barulho de um chute na porta da guilda.

— LUCEEEEEEEE, vamos pegar uma missão — Natsu chega gritando perto de onde estávamos, já começando a puxar a loira.

— Mas... Eu estava conversando com o Gray...

— Tudo bem, Lu, depois a gente conversa — levantei-me do banco onde eu estava sentado, sorrindo para ela.

— Tem certeza? Não quer ir com a gente?

— Não, eu prefiro ficar descansando, fiz muitas missões esse mês, sabe como é...

— Sei sim, então nos vemos depois — sorriu para mim uma última vez, antes de seguir o foguinho até o quadro de missões.

Suspiro e volto para o mesmo lugar de antes. A sorte parece não estar do meu lado, ou será que esse é um sinal do destino me impedindo de fazer a maior besteira da minha vida?A gora que eu parei para pensar no que eu estava prestes a fazer, nem tão cedo vou conseguir repetir esse feito de novo... Parece que vou apenas continuar a observando, assim como um mero observador... Por enquanto.

Um Mero ObservadorWhere stories live. Discover now