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Deep End -Birdy

Losery, Sul da Virgínia

Há quem diga que pequenas cidades são naturalmente acolhedoras e brilhantes, no entanto, Losery sempre foi o oposto disso. Tão esquecida pelo sol quanto pelo resto do mundo, o lugar era muito parecido com um poço escuro, deprimente e potencialmente capaz de nos engolir completamente. Sempre embebida pelo silêncio e ar monótono, o minúsculo pedaço de terra não poderia ser considerado um ponto turístico, mesmo que sua existência dependesse disso. Não quando haviam tão poucos visitantes e o último lunático a se mudar para cá, tinha chegado há pouco menos de dez anos. E, definitivamente, não quando os habitantes - as pobres almas que não conseguiram juntar suas coisas e sair rápido o suficiente - ainda se mostravam sedentos pela menor das chances de correr daqui.

Como eu.

E por estar sedenta pela minha chance de sair, meu último ano na Losery High School (LHS) era o equivalente ao início de um sonho que havia sido minuciosamente planejado. Antes do fim do ano letivo, minhas malas estariam prontas e assim que eu estivesse oficialmente formada, eu deixaria a pequena e amaldiçoada cidade sem nunca olhar para trás.

No fim, não importava o quanto eu gostava dos dias chuvosos, de correr sob o céu nublado, do meu trabalho no Café ou de um grupo seleto de pessoas, nada no mundo era ou seria, capaz de me fazer querer ficar. Afinal, eu também ouvi que nossa visão do mundo - e de lugares - muda drasticamente depois que coisas ruins acontecem. E por muito tempo, Losery tem sido a cede do meu inferno pessoal.

Hoje era o primeiro dia do meu último ano.

Hoje, faziam mil e noventa e cinco dias que meu pai havia morrido. Exatamente três anos desde que ele se matou.

Na maior parte do tempo, eu estava certa de que era isso que alimentava o desejo desesperador de sair da cidade e nunca mais voltar, mas no restante do tempo, eu gostava de pensar que queria mais.

Mas era só o primeiro dia de aula. E, novamente, eu estava me obrigando a comparecer, apenas porque me sentia plenamente disposta a enfrentar todos aqueles olhares penalizados - que não aceitavam que o tempo havia cumprido seu papel - e garantir à eles que sim, porra, contrariando todas as possibilidades, eu sobrevivi.

E embora eu não tivesse o costume de pensar sobre os últimos anos, não conseguia deixar de me sentir aliviada por estar terminando. Não quando o ensino médio havia sido um inferno do qual eu gostaria de ter sido poupada.

- Veteranos! Finalmente somos veteranos, Alyssa Marckley! - Josh gritou, dando pulinhos e rodopiando.

E eu não pensava sobre isso porque Joshua nunca me dava tempo. Segundo ele, uma fada morria toda vez que eu tentava ser racional ou melancólica.

- Sente isso? É o sabor da vitória! Hum, nunca pensei que fosse tão doce. - Resmungou e lambendo os lábios carnudos, fez careta, acentuando a pequena cicatriz em sua sobrancelha. - Mas eu gosto, posso até me acostumar. - Decidiu, encolhendo os ombros.

Afundando as mãos no bolso do meu casaco, eu ri e, sem resistir, provoquei:

- Não se atreva! Você sabe... Somos perdedores!

Sem se abalar com meu comentário, ele se aproximou e entrelaçou nossos braços, radiante e bonito como só ele conseguia ser às seis da manhã. Vendo-o sorrir e planejar, como se o frio da manhã não estivesse deixando a ponta do seu nariz vermelha, eu só conseguia pensar que devia cortar sua cafeína, pois ela só servia para dobrar sua energia e reduzir a nossa autopreservação.

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