38 - Prova de amor

951 66 5
                                    

No decorrer da semana, eu me senti mais atormentado do que nunca.

Entenda: era a semana do Dia dos Namorados, portanto, era a semana em que os bilhetes românticos eram entregues nas salas. O famoso Correio do Amor, algo que eu pensara ter somente na minha outra escola, em Belém. E funcionava da seguinte forma: alunos voluntários passariam em todas as salas recolhendo cartas que remetentes escreveriam com todo o carinho para destinatários de outras salas ou, até, da mesma. Consequentemente, a maioria dos alunos participava, mesmo que não levassem tão a sério.

O problema de tudo isso?

Sophia.

Acho que você já deve ter percebido o quanto eu era apaixonado por ela, e que talvez ela também estivesse gostando de mim. Tudo seria uma "mil maravilhas" caso ela não sentisse mágoas de mim pelos últimos ocorridos – preciso nem citar, já que você está cansado de saber. O grande problema era que ela era a garota que mais recebia cartas de outros caras, cartas bonitas e... românticas. Eu não gostava muito daquilo. Ela era a garota que eu amava, então era eu quem deveria escrever uma carta para ela.

Mas eu não tinha coragem.

Natsuno até insistia para eu escrever um poema pedindo desculpas e me declarando, no entanto era estranho chegar perto da garota sabendo que ela era uma caçadora. Seria ainda mais estranho devido ao fato de que suas amigas me lançavam olhares furiosos a cada cinco minutos. Eu definitivamente estava perdido. Até me surpreendi quando recebi duas cartas, mas uma delas era pegadinha dos idiotas da minha sala; a outra não tinha assinatura, então não dava para saber de quem era e nem mesmo levar a sério.

Jake foi o que mais recebeu na minha sala. Até mais que o Natsuno e os outros populares da turma. Pelas minhas contas, havia uma dúzia de bilhetes decorados com florzinhas e coraçõezinhos. E a maioria tinha assinatura!

- Essa vai para a Ohana, essa vai para a Luiza, essa vai para a Tainá e essa vai para a Amanda. – Natsuno escreveu quatro poemas idênticos em quatro bilhetes diferentes. Enviaria para meninas de outras salas, alegando que era a fim delas.

Mas eu estava sem ânimo. Felizmente, Sophia parecia não se importar em escrever as cartas românticas, ao contrário de Ana e Jéssica, que escreviam uma cada.

A boa notícia: Shin não havia aparecido nesses dias. Pelo menos não na semana. Presumi que ele apareceria só nos dias dos jogos ou nos treinos, que aconteciam às quintas e sextas. Treinos que focavam-se apenas em bolas paradas e chutes de pênalti.

Falando em treinos, decidi que me focaria em me adaptar ao Rio das Águas Pesadas, uma vez que adquiriria agilidade e velocidade com aquilo. Tio Michael me ensinava movimentos novos, sempre acompanhado do calado e sombrio Riku, mas a minha cabeça, admito, estava em outra pessoa.

- Parece que a senhorita Abigail está doente - comentou Joe, quando já estávamos no intervalo, na segunda-feira após o Dia dos Namorados.

- O que ela tem? - perguntei.

- Deve ser algo relativo à raiva - brincou Natsuno, rindo. – Aquela velha enche o saco. Será que não teve infância?

Jake riu.

De longe, eu observava a Sophia conversando com suas amigas, todas encostadas na parede perto da cantina. Eu me sentia péssimo com a distância, e por algum motivo sabia que ela sentia o mesmo – muito embora Sophia me fuzilasse com o olhar a cada instante. Ainda assim ela era linda. Possuía lindos cabelos que desciam por suas costas, em um penteado elegante que combinava perfeitamente com seu corpo bonito. Pele tão lisa quanto macia. Sorriso tão lindo quanto perfeito. Olhos castanhos tão profundos quanto... furiosos. E que me olhavam de novo.

Caçador Herdeiro (1) - Vento Sufocante | COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora