Conto11 - Por um segundo.

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Da última cadeira desta igreja antiga e embolorada, por um segundo, quase acredito nas palavras do rapaz e grito Amém. Mas não vai ser desta vez, não mesmo!

Até senti vontade de crer neste teatro todo e, assim, desistir de minhas ideias e certezas para abraçar as do garoto falante, empolgado e gesticulador.

Ele diz coisas que faz com que as pessoas vejam de uma maneira distorcida, ingênua e simplória, talvez para que tudo fique mais fácil, mais confortável, perfeito e irreal.

Palavras boas de ouvir em uma noite fria, solitária, molhada e sem rumo como as de hoje, pode crer!

Eu podia gritar Amém. Porém, não consigo! Não acredito em nada do que o rapaz do altar afirma. Nada!

Moço novo e tão cheio de certezas, que até faz a gente crer nessas bobagens, nessas coisas absurdas e sem sentido! Que barato!

Seu Deus humanizado e seus demônios sem propósitos são tão bobinhos!

Garoto novo, sem família, sem dores e sem experiência... quase me fez dizer Amém! Mas, não será hoje... não mesmo!

É fato que aqui é bem mais quente, tranquilo e calmo, quase perfeito, se não fossem as crenças e as palavras!

Lembrei das pessoas queridas que conheci em minha vida e senti saudades. Ei! Sem dor, sem tristeza, apenas um Amor gigante!

Gostei do que vivi e ficaria muito mais se pudesse, mas tudo tem um tempo certo e o meu também chegou com a dose suficiente.

Com todas as crenças desacreditadas, esse rapaz, de alguma maneira, me fez feliz! Não por ele e nem por nada do que disse, mas pelo calor humano.

Até ficaria mais, mas a chuva passou, a vida continua e o frio não passa!

Marcelo Raymundo - 20 ContosWhere stories live. Discover now