Fernandes

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Gabriela Fernandes, essa sou eu.
Pra resumir a minha história, eu quero ser um espírito livre.
Eu faço teatro, porém só porque minha mãe me obrigou. Ela disse que eu precisava fazer alguma coisa pra aprender a externalizar meus sentimentos.
O foda é que ela estava certa.
Desde que meu pai morreu, eu me fechei pro mundo. Eu não chorava mais tinha uns 10 anos. Ele morreu quando eu tinha 6.

Agora com 16 anos e o último ano do ensino médio batendo na minha cara, começaram as cobranças sobre o que eu quero fazer no futuro.

Porra, eu não sei! 
Não consigo escolher uma coisa só pra ser. O mundo tem tantas opções, não é?

Por isso minha mãe estava puta comigo.
Era engraçado que ela não reclamou quando eu comecei a colocar piercing, ela até foi comigo fazer minha primeira Tattoo. E o principal, ela super me apoiou quando descobriu que eu sou lésbica.
Sim, tem isso. Eu descobri minha sexualidade com 14 anos. E contei pra minha mãe. Meu irmão Emanuel ficou assustado no começo, mas depois acabou se acostumando.
Ou seja, minha família me apoia em tudo, menos em não saber o que quero para meu futuro.

Era isso que eu estava fazendo naquela manhã na escola de teatro de Floripa. Minha mãe me obrigou a fazer a matrícula, já que fui aprovada pra turma da noite.
Ai minha mãe começou a conversar com o coordenador, falando de mim como se eu não estivesse ali.

Levantei e sai com raiva.
Foi quando eu bati em uma coisinha pequena, que corria na minha direção.

Eu sei que fui grossa com ela, mas porra. Assim não dava. Ela não podia estar correndo aqui.
E foi apenas quando ela me olhou, que eu pude ver que ela estava chorando. Eu me segurei pra não perguntar o motivo, e só fui embora.

[...]

Eu tinha uma raiva enorme de primeiros dias. Eu não gostava de não conhecer as pessoas, então eu fiz o Gustavo, meu melhor amigo, ir comigo e ficar comigo.
Estávamos conversando tranquilamente enquanto as pessoas não chegavam.
Tinham umas 5 pessoas da minha antiga turma ali, então pude conversar com elas também.

Do outro lado da sala, tinha um grupinho muito maior que o nosso, e mais animado também. Eu pude ver que eles estavam com alguns veteranos.
Turma da manhã, eu pensei retorcendo a boca.

Minutos depois dessa minha observação, a porta se abriu e eu olhei fixamente pra lá.

Não é que era a garota do corredor?

Ela era ainda menor do que eu lembrava, tinha o cabelo descolorido em um tom de loiro que era horrível, um rosto cheio de sardas e um piercing no nariz.

Ela fechou a cara no momento em que me viu. Eu virei o rosto.

Ela entrou e foi em direção ao grupinho popular, onde todos pareciam animados em vê-la.
Aff, odeio gente popular.

Segundos depois, ela veio até o nosso lado e começou a falar com todos os meus colegas. Quando chegou em mim, ela simplesmente virou a cara e não falou comigo.

Típico.

O professor apareceu e mandou todo mundo sentar em roda.

"Vamos começar as apresentações", ele disse. E um por um, nós fomos dizendo nossos nomes.

Logo depois disso, ele pediu pra turma se misturar e sentar em duplas. Eu não saí do meu lugar.
Segundos depois, percebi que Thalita ( agora eu sabia que esse era o nome dela) também não tinha se mexido.

-Ei Meneghim, seja legal e vá conhecer a Gabie, anda! - o professor disse, animado, achando que aquela era uma boa ideia.

Ela fechou a cara, e andou até mim.

-Oi. - ela disse.

-Oi flash. - Eu falei em tom de zoeira.

-E aí, qual é o seu plano pro futuro? -
Ela perguntou.

-Vender minha arte na praia. - eu respondi rindo.

Ela revirou os olhos.

-Eu pretendo ser alguma coisa, que eu ainda não escolhi. - eu dei de ombros.

-Thalitaaaaaa Meneghim!!! - O diretor entrou na sala gritando - Finalmente mais uma Meneghim nessa escola! Tenho certeza que você vai brilhar muito aqui.

Pronto, já vi tudo. Ela era uma daquelas queridinhas da direção, riquinha metida.
Olhai pra ela, e ela estava de cabeça baixa, aparentemente com vergonha. Revirei os olhos.

Quando o diretor saiu, todo mundo começou a fazer piadas sobre ele. Eu relaxei um pouco, até perceber que aqueles olhos castanhos estavam me fitando.

-Perdeu alguma coisa aqui? - eu não resisti.

-Nossa garota, para de ser grossa sem motivo! - ela  me disse. - Será que você não tem nem um pingo de educação?

-Eu guardo minha educação pra falar com quem vale a pena. - Eu rebati na hora.

Ela apenas balançou a cabeça.

-Você é um pé no saco! - ela falou e saiu andando pro outro lado da sala.

Se eu teria que ficar com aquela garota até o final do ano, eu poderia ser a chata que eu quisesse.


Mais um cap! 😍
Espero que gostem, kkkk
Me mandem comentários, ok?
Beijoooos!

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