3 - PALHAÇADA

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      Assim que acredito que todos já dormiram, levanto bem de mansinho só para conferir se estão realmente dormindo. Vou até o quarto da mamãe, com a lanterna do meu aparelho celular e a vejo em sua cama com alguma coisa no rosto, a boca aberta e uma máscara nos olhos. Quando a observo dormir sempre me pergunto o que aconteceu com o conselho de dormir sempre preparada e por que mamãe nunca segue os próprios conselhos.  

     Controlo o ímpeto de colocar algo dentro da boca dela. Difícil ver  Senhora Amélia Oliveira desarmada e vulnerável, afinal com o sono pesado que ela tem podem sambar em cima da testa dela com salto agulha que não vai acordar. E como Belly diz, sou moleca e quase nunca resisto a vontade de aprontar, aliás essa será a segunda vez. Com a mesma calma saio do quarto e vou até meu ex quarto, que agora foi tomado por uma sem teto. Que ódio! Tenho vontade de jogar água ao ver o casal na minha cama, aliás Belly na minha cama, já que o pobre do Max está quase caindo no chão. Nunca vi uma mulher tão pequena — em altura —  ocupando tanto espaço e um homem tão grande — de altura e músculos — conseguir se equilibrar na beiradinha da cama. Então casamento é isso. Mordo as bochechas para não rir e com cuidado caminho até a porta da frente. Ao contrário da mamãe eu já durmo preparada pra dar... Minhas fugidinhas no meio das madrugadas da vida. 

     Sinto o vento frio acertar meu rosto e afundo ainda mais no blusão enquanto abro o portão de casa. Verifico que a rua está aparentemente deserta, aparentemente sei que as vizinhas já estão olhando pela fechadura de suas casas assim que ouviram o barulho do portão. Retiro um boné do bolso da blusa colocando logo em seguida sobre a touca para cobrir mais áreas do meu rosto. As roupas folgadas de homem normalmente me deixam bastante aquecida mas pelo visto hoje não são o suficientes. Quem diria que faria frio no nordeste, porque aqui até de madrugada é quente como o Saara e nem no inverno é frio. Porém o frio não é o motivo para está vestida como homem, na verdade é porque são duas da manhã e claro que não confio em sair linda e loira pra rua vestida de mulher mesmo Thomas estando perto, prefiro não arriscar.

       Todos sabem o perigo que uma mulher sozinha corre e infelizmente ou felizmente como homem não tenho tanto problema, aliás como homem o único problema que tive foi quando Max usou uma bermuda minha achando que era de Ricky e quase descobriram. Óbvio que mamãe odiaria saber que ando sozinha por aí a noite. Seria mais um ponto negativo para Thomas.

     Só pensar nele que a visto, com alívio, seu carro prata parado um pouco distante da rua que moro, aceno pra ele que vem em minha direção.

— Que demora — reclama descendo o vidro do carro.

      Dou a volta no veículo sem esboçar nenhuma resposta, só pela cara dele sei que estava dormindo quando mandei mensagem e sei também que está com muito trabalho. Vive cansado, estressado e sem paciência.

— Belly chegou hoje, estávamos em festa por isso demoraram a dormir — justifiquei colocando o cinto.

— Deveria arrumar uma roupa mais apertada...

        Reviro os olhos. Ele nem gosta que eu use roupas apertadas. O problema é que geralmente uso as de homem mostrando um terço da bunda.

— Homem não veste roupas apertadas e quanto mais maloqueiro ou maluco eu parecer melhor é.

— Você não precisa parecer maluca, você é maluca.

— Mas você bem que gosta. — sussurro safada. Viro seu rosto e dou um selinho em sua boca.

      Ele sorrir manobrando o carro.

— Vai ver sou louco também — brinca — ou é sono. Desde que te conheci não durmo direito. Estou precisando. — comenta passando a mão nos olhos e logo em seguida na cabeleireira castanha.

Operação: não Caso - (DEGUSTAÇÃO) Livro 2🎈🎉Onde as histórias ganham vida. Descobre agora