0. O manifesto de um algoz

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Tomar-lhe a vida?

Tentador; causa uma sensação inebriante. O ato que amedronta o ser e invade as raízes do inexplicável não pode ser parado.

Por que tal ato entre tantos outros? Aviso de antemão para que não o pratique se não quiser senti-lo.

Repugnante aos olhos daqueles que se admitem essencialmente puros. Um ciclo de causa e consequência que sobrepuja as margens da visão carnal. Quem pode explicá-lo senão quem o sente?

Mas quem o sente já não prolonga a palavra. Então cabe à quem observa, sem se manifestar, a responsabilidade de dizê-la.

Não ouça a voz que o incita a maldade. Entenda-a.

Torna-se-á um pecador às custas de afrontas legislativas e divinas.

Mas já não era um?

O ato imoral não será mais que mera transgressão cotidiana; a sensação de inquietude não passará como a euforia que antecede a calmaria após a tempestade. Ela estará impregnada na veia que pulsa e arde.

E do outro lado da vida?

Medo. O medo é inerente ao homem e substancialmente sentido por todos. É o sentimento que satisfaz e — não seria ousado dizer — justifica, de certa forma, o ato de psicopatia. O medo é uma arte; é a sensação que equilibra uma mente desequilibrada. Quem é humano, o sente. Quem o sente, é humano.

E como tal, é válido afirmar que uma parte do imaginário humano — mentecapto, inerte ao senso racional — vê a morte como o ponto final.

Digo, pois, que aceitá-la e, sobretudo, ser a sua causa, seja o maior ato de força humana.

Não é mesmo, Adam?

— C

***

Olá, pessoal! O Carmesim é uma história que se distancia um pouco da forma que eu costumo escrever. Esse capítulo é apenas um "prólogo" narrado pela visão do antagonista. Espero que gostem da história!

O Carmesim (breve hiatus)Where stories live. Discover now