Prólogo

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Pont des Arts, Paris
2002

Há sessenta anos não vinha aqui. As memórias são mais vívidas do que imaginei que seriam.

Depois de muito insistir e economizar, minha neta concordou em me trazer até a França.

A Pont des Arts continua a mesma, exceto pelos cadeados. Particularmente, eu acho lindo e desesperador.

O amor é assim, afinal. Ocorre sem aviso prévio, sob circunstâncias extraordinárias e é interrompido de forma violenta, em algumas ocasiões.

— Obrigada por me trazer aqui. — sorrio.

— Não precisa agradecer, vó. Foi bom sair de Londres. — minha neta suspira pesadamente.

— O que está deixando esse coração inquieto? — encaro seus olhos tristes.

— Eu conheci uma pessoa.

— Isso não deveria ser bom? — franzo a testa, fazendo minhas rugas multiplicarem.

— Sim, quando o impossível não está envolvido.

Rio ligeiramente, pensando na ironia da situação.

— Como ele se chama? Ele é bonito?

— Arthur. Ele é lindo, muito rico e os pais dele não aprovam nosso relacionamento. — os olhos de Mirela ficam marejados.

— Querida, o que são duas pessoas comparado a uma nação? — ergo as sobrancelhas.

— O que está dizendo, vó?

— Posso estar velha, mas ainda lembro perfeitamente do que aconteceu aqui há sessenta anos. — sorrio sentindo os olhos marejarem.

— O que aconteceu?

— A flor conheceu o beija-flor.

A Flor e o Beija-FlorWhere stories live. Discover now