Capítulo 1

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***

— É perfeitamente compreensível eles me chamarem de nerd. – virei o rosto para encarar o meu filho, que apesar de tentar esconder a empolgação, eu sabia que ela estava ali em algum lugar. — Que tipo de pessoa vai a escola no domingo? - perguntou, revirando os olhos.

Estávamos indo buscar um prêmio que a escola havia concedido a ele, pelo bom desempenho na feira de ciências estadual. Ele era o garoto mais inteligente que eu conhecia, e apesar de em partes ser o meu lado mãe falando, eu ainda me surpreendia com o quão esperto ele era.

— Ser nerd é bom, não é? Significa que você é inteligente. – comentei, mas ele revirou os olhos, começando a rir.

— Ah, mãe! Eu sei que nos anos cinquenta não tinha essas expressões, mas nerd não é coisa boa. – olhei para ele com uma falsa indignação, vendo-o começar a gargalhar.

— Eu só tenho o dobro da sua idade. - encolhi os ombros, fazendo pouco-caso daquilo. Meu filho não parava de rir.

Empurramos o pequeno portão de entrada da escola para encontrar a diretora esperando ansiosa do lado de fora. Ela nos cumprimentou e entregou um papel para que eu assinasse, parecia até mais orgulhosa e empolgada do que eu.

— Segunda-feira teremos eleições do grêmio estudantil, deveria concorrer. – a escola onde o Arthur estudava era muito pequena, mas com um ensino de qualidade. O que para mim era o mais importante.

Por ter aprendido a ler aos quatro anos de idade, foi quase impossível encontrar uma escola que estivesse suficientemente adaptada à situação dele, muitas creches o recusaram por saber tudo o que estava sendo ensinado às outras crianças. Aos seis anos, ele estava na quarta série. Terminou o ensino médio com treze e por opção escolheu repetir o último ano para não ficar sem estudar, pois eu ainda não tinha dinheiro para colocá-lo na faculdade.

Assinamos alguns papéis e deixamos a escola.

Um terço da viagem a pé ele estava calado, o que de certa forma era estranho demais, considerando o fato de que a cada dez segundo uma série de coisas se passava pela mente brilhante daquele garoto.

— Quando morreu o Thomas Edison? – ele tirou o foco das pedras do caminho e olhou para mim, sorrindo.

— Thomas Edison morreu no dia 18 de outubro de 1931, aos 84 anos. – Arthur me encarou com a sobrancelha erguida. Exibido como sempre.

— Como vou saber que você não inventou alguma data aleatória, se aproveitando do fato de que eu não saberia, de qualquer forma? - ele sorriu e balançou os ombros, passando na minha frente. O vi seguir na direção de um supermercado. — Não, filho, vamos para casa.

— Por favor, mãe. Só umas batatas, eu juro! - ele colocou as mãos cruzadas na frente do corpo, me olhando com um sorriso no rosto.

— Só umas batatas. – revirei os olhos pela minha falta de pulso firme, e o segui.

Percebi que havia alguma coisa o incomodando, ele agia como se tentasse mascarar os próprios sentimentos. Deixei que ele escolhesse as batatas, e aproveitamos para comprar outras coisas que faltavam em casa. Megan e eu trabalhávamos o dia todo. Quase nunca tínhamos tempo.

A fila do caixa estava praticamente vazia, como nunca tinha acontecido, Arthur correu na frente com o carrinho para se certificar de que ninguém roubaria o nosso lugar. Parei para escolher algumas frutas e observei a atendente do caixa conversar com ele. Desde os três anos ele sempre interagia muito bem com as pessoas, respondia perguntas e se divertia com a surpresa dos outros. Diferente de mim, meu filho era bom em se comunicar.

Um Quarto Desse Amor Where stories live. Discover now