16 - Se ele não lembra...

163 28 44
                                    

● Megan Narrando ●

Cheguei em casa super apressada pra ir ao meu quarto ver se alguma coisa tinha saído do lugar por aquele cachorro enorme.

Pra minha sorte, não tinha acontecido nada. Tudo nos seus conformes. Então desci novamente e as meninas estavam na sala esperando. Trouxe elas pra cá pra almoçarmos juntos. Por insistência da minha mãe. Engraçado que com Isaque ela não faz isso...

--- Tudo no seu devido lugar! - exclamei ao descer os últimos degraus da escada.

As meninas riram.

--- E onde ele está? - Anna perguntou.

--- Nem sei e nem quero saber!

Rimos novamente. Então minha mãe apareceu saindo da cozinha com um pano na mão, a secando. Estava de avental e tudo. O almoço parece que seria bem importante.

--- Oi tia Hannah! - as meninas disseram em uníssono e abraçaram ela ao mesmo tempo.

Ouvimos um barulho atrás de nós. Era a porta se fechando. Lá vem Leonardo com a camisa jogada no ombro, todo soado e segurando o seu cachorro pela coleira. Ele deu logo um latido quando viu as meninas olhando pra ele e abanou o rabo. E só então Leonardo percebeu nossa presença. Acho que ele não contava que estaríamos aqui, senão não teria vindo sem camisa, né?

--- Assanhado ein garoto! Não pode ver quatro belas moças que já fica assim - ele disse enquanto bagunçava os pelos da cabeça do cãozinho. - olá meninas. Olá Lara! - sorriu.

--- Olá... - ela respondeu sem jeito.

--- Que cachorro lindo! - Anna disse ao se ajoelhar pra falar com ele. O Léo ficou rindo e olhou pra mim. Reclamei com ele pelo olhar por estar sem camisa. Ele revirou os olhos.

--- Leonardo, querido, porque não sobe pra tomar um banho enquanto eu termino o almoço, você deve estar bem cansado.

Ele só entendeu a indireta quando eu dei um "viu só" pra ele com o olhar.

Então ele subiu e o cachorro ficou, mas minha mãe o levou para a casinha dele no quintal.

Sentei ao lado de Lara.

--- Ta tão calada, amiga.

Ela deu um sorriso fraco.

--- É a fome - risos.

Minha mãe foi para a cozinha e Anna ofereceu ajuda, ficando só eu e a Lara na sala.

--- É bem chato saber que o garoto dos olhos azuis que eu manchei a blusa branca dele é logo esse seu primo, sabia?

--- Esperava que fosse um príncipe encantado? - falei num leve tom de brincadeira. Mas ela olhou para o lado e deu um suspiro, confirmando minha suspeita.

--- Mas ele sequer lembra de mim, Megan.

Senti a tristeza dela. Tadinha.

--- Fora que ele não é alguém recomendado a você, amiga. Você sabe.

--- É. Eu sei... mas eu queria ao menos conversar sobre aquele dia, sabe? Saber o que ele sentiu quando olhou nos meus olhos...

--- Essa conversa tá igual de menina apaixonada, Lara!

--- Não, Meg. Você não entende! - ela exclamou.

--- Meninas! - dona Hannah gritou da cozinha - venham. E chamem o Léo, por favor.

--- Vai lá, eu chamo ele. - eu disse a Lara.
Então assim ela fez. Eu fui até o quarto. A porta estava entreaberta. Vi o Léo jogado na cama. Sua mão estava no chão próxima a uma garrafa de vidro. Uma bebida alcoólica. Suspirei. Meu pai não gostaria nada de saber disso.

--- Leonardo! - falei alto e ele acordou. Sono leve. Ótimo.

--- Oi? - resmungou.

--- Almoço!

Ele resmungou algo. E por um segundo eu passei os olhos por aquele quarto escuro, bagunçado e com mau cheiro. Então desci para a sala que é clara, outra energia.

--- Ele já vem! - eu disse antes de sentar a mesa.

Começamos a comer depois de conversar um pouco e nada do meu primo descer.
Comemos tuudo e ele não desceu.

Anna ajudou minha mãe com a louça e eu tava arrumando o resto da cozinha. Lara pegou o pano pra secar a louça, mas minha mãe pediu para que ela fosse lá em cima deixar o almoço de Léo. Deu a ela o prato feito e um copo de suco. Ela foi.

--- Aconteceu algo na escola? Lara está tão quieta...

--- Tirando a preocupação de ir mal em física, tudo tranquilo. E totalmente normal - Anna disse e riu.

Escutamos um barulho e um grito vindo lá de cima. Congelamos.

● Lara Narrando ●

Lá estava eu subindo a escada normalmente. Entre tantas portas naquele corredor, de quartos e banheiros, eu acertei aonde era o quarto de Leornado só pelo cheiro forte e indefinido. A porta entreaberta permitiu que eu o visse lá dentro. Então eu bati. Ele me olhou assustado. Estava vestido dessa vez. Então ficou de pé ao lado da cama.

--- Vim trazer seu almoço, que a dona Hannah pediu.

--- Huum - ele não sabia o que dizer - entra. Q-quer dizer. Coloca aí nessa mesinha.

Abri a porta do quarto e fui colocar na mesinha, que estava encostada na parede próxima a porta, mas essa mesinha tinha um monte de lixo, vários pacotes de salgadinhos. Um aparelho de som e algumas coisas que não reconheci.

Ele percebeu minha confusão e veio até mim. Sem querer chutou uma garrafa de vidro que estava ao pé de sua cama. A apanhou, mas de mal jeito, então ela caiu, se despedaçando no chão. Fez um barulho maior do que deveria. Ele estava descalço e tomou cuidado pra não pisar em algum caco.

--- Isso é uma merda! - insultou enquanto apaganhava os cacos.

Eu tava parada né, ainda. Com o prato e o copo na mão.

--- Ai! - ele gritou alto, me assustando - droga! Cortei minha mão!

Olhei para a mão dele e só vi sangue jorrando.

--- Ai meu Deus! - eu exclamei.

--- Faz alguma coisa! - ele disse. - pega aqui uma blusa nessa gaveta - apontou - para amarrar e estancar esse corte!

Assim eu fiz. Botei tudo na mesinha por cima dos pacotes mesmo e fui até a gaveta que ele indicou.

--- Tem uma toalhinha aí no fundo! - ele dizia com expressão de dor e sentado na cama.

Abri a gaveta às pressas e comecei a procurar.

--- Não tô achando! - falei.

--- Mas tá aí!

Continuei. Baguncei tudo. Procurei, e nada. Então, puxei algo branco. E quando desdobrei a camisa, congelei. Todos os fios do meu corpo se arrepiaram e um frio subiu a minha espinha. Era ela. Era a blusa branca manchada! A blusa que eu manchei!

De repente eu fui acordada para o mundo real. As meninas entraram no quarto e dona Hannah pegou a primeira camisa que viu para amarrar na mão dele. E eu continuei paralisada com aquela roupa manchada de dois anos atrás...

Se ele não lembra de mim, então porque isso está guardado até hoje?

A Resposta Das Minhas OraçõesWo Geschichten leben. Entdecke jetzt