CANTO E CONTO: MELODIAS CONTADAS

@lucasguicevan - In My Head

Eu o sentia, tinha certeza da sua presença. Depois de anos ele estava ali, ao meu lado. Mas ele estava diferente, estava estranho.

—Depois de todo esse tempo, por quê?

—Não sei.

Sua expressão estava diferente, ou eu tinha esquecido da sua fisionomia. O branco reinava ao nosso redor, era como se nós dois estivéssemos de pé em uma caixa totalmente branca.

—Eu estava com tanta saudade. — falo entre soluços, não consigo mais conter minhas lágrimas.

—Eu também estava.

Lembro de nós dois correndo na praia, brincando na areia, sendo duas pessoas que se amavam, mas... eu não estou lembrando do seu rosto.

Ele havia sumido da caixinha branca na qual nos encontrávamos. É verdade, agora eu me lembro, ele sumia.

—Por favor, não me deixe.

—Nós tentamos.

Sua voz ecoava em minha mente.

—Você não sabe o quanto eu esperei para te ver novamente. Eu estou com medo, não sei o que está acontecendo comigo.

—Acorde. — em todos os nosso encontros na caixa branca ele sempre me falava esta palavra, mas eu não entendia o seu significado.

—O que é isso? — eu gritava, sentia como se meus pulmões fossem explodir com todo aquele horror que tomava conta de mim.

—Acorde. — sua voz estava se dissipando.

—Não me deixe para trás, me leve com você.

E em questão de milésimos, eu sinto uma corrente elétrica correr em meu corpo. Abro meus olhos, a caixa não mudou, mas havia algo diferente. Minhas mãos e meus pés estavam amarrados à uma cadeira, e algo metálico estava encaixado em minha cabeça.

Então percebo a presença de três pessoas ali, eles usavam jaleco. Mas tinha algo diferente e pavoroso neles, eles não tinham rostos. No lugar onde deveria existir suas faces, se encontrava um buraco como um poço, onde não se via o fim deste, só as sombras.

—Por favor me tirem daqui. Quem são vocês? — eu gritava, mas eles não pareciam se importar, só anotavam coisas em suas pranchetas. —Onde ele está? Eu preciso dele.

Novamente, a corrente elétrica toma conta do meu corpo e como se nunca tivesse saído dali, estou de volta à caixinha branca.