@AllanaAraujo - Arashi no Atode - Após a Tempestade

81 13 24
                                    

— Está chovendo novamente. — disse para ninguém em especial, enquanto observava a tempestade pela janela.

A verdade era que eu gostava de dias chuvosos. Sempre enxerguei a beleza das tempestades, e a admirava sempre que possível: os raios, os trovões e as nuvens carregadas, que convertiam o céu azul e límpido em cinza. Era poético, em minha opinião, embora muita gente nomeie essa poesia de forma um pouco pejorativa, como "tempo feio" ou "tempo ruim"... Bem, muitas pessoas não entendem poesia, então não seu se posso julgá-las.

Vi quando um raio cortou o céu e sorri encantado pelo fenômeno. Observei, então, as pessoas que transitavam pela rua — todas com os seus guarda-chuvas abertos protegendo as suas cabeças do temporal. Porém, o que realmente chamou a minha atenção foram os dois jovens que corriam desesperados até um ponto de ônibus, com o intuito de se abrigarem até que a chuva diminuísse. A garota sorria de modo aberto, escancarado; o garoto, porém, apenas a observava encantado.

Então me veio a recordação de certo dia chuvoso, há alguns anos, quando ainda éramos jovens e inocentes. Você lembra o caminho que percorremos naquele dia, com o asfalto como cascalho e o vento que acariciava os nossos rostos? Foi um dia especial para mim, e acredito que ele é um dos vários motivos que instigam a minha fascinação por tempestades. Foi o dia no qual, na repentina e forte chuva, os nossos corações encharcados passaram um pelo outro.

— É uma lembrança bonita, você não acha? — sorri quando mais um raio atravessou o céu, que estaria iluminado pelas cores brilhantes e harmônicas do pôr-do-sol àquela hora, se não fosse inverno e não estivesse chovendo.

E foi neste momento que mais uma recordação daquele dia encantado pela chuva retornou à minha cabeça. O sol se escondia no horizonte, colossal e imponente, nos agraciando com um espetáculo particular. E nós sorrimos e fechamos os nossos olhos para sentir os últimos raios de sol batendo em nossos rostos, como quem recebe uma benção. Abrimos os nossos olhos novamente e voltamos a contemplar a grandiosidade do Astro-Rei, quando você disse:

— Está tão longe, mas tão perto ao mesmo tempo.

E eu só pude pensar que as suas palavras se encaixavam perfeitamente ao momento, porque era exatamente assim que eu me sentia em relação a você. Tão longe... Tão perto... Tão paradoxal, que talvez tenha me deixado perdido por alguns segundos, minutos ou anos.

Nesse momento, uma forte chuva nos pegou desprevenidos e corremos para qualquer lugar que pudesse nos proteger, o que resultou ser um ponto de ônibus. Mesmo assim ficamos encharcados, o que me deixou um pouco frustrado e com frio. Porém, você sorria e se divertia. Estava parecendo um gato molhado, encolhida de frio, mas parecia tão feliz, com o seu sorriso brilhante que, naquele momento, poderia ofuscar tão facilmente o sol que outrora contemplávamos como dois devotos. E eu simplesmente não entendia e pensei em perguntar o motivo quando a chuva terminasse.

E no telhado do ponto de ônibus, a alta melodia da forte chuva abafava todos os sons do lado de fora, de modo que aquele parecia ser o nosso mundo particular.

— Ei... — eu disse, motivado por sei lá o quê.

— O quê? — você respondeu, e me impactou tanto com os seus olhos sorridentes que perdi instantaneamente a fala. Então seguimos em silêncio, enquanto brincávamos com os nossos cabelos molhados.

Você lembra da promessa que fizemos enquanto estávamos perdidos e sem rumo? Aquela de sempre ficarmos juntos, não importa o que acontecesse? Eu procurei desesperadamente por essa promessa que parecia perdida no fundo da minha mochila, pensando que deveria confiar nela de alguma forma. Mas algo em mim dizia que já estávamos perto do fim, e por isso a mantive guardada e em seu lugar tirei uma toalha.

— Pega, usa isso... — ofereci, após soltar um suspiro e pensar "o que diabos estou fazendo?".

Você pegou a toalha e enxugou os cabelos de forma triste, talvez decepcionada. Então a chuva foi parando, porém esperamos até que a última gota caísse, na esperança de prolongar o nosso tempo juntos em nosso mundo particular.

E eu queria dizer para você qualquer coisa que nos mantivesse juntos, mas esqueci o que era. Você me sorriu, à espera de algo que eu nunca seria capaz de dar para você. Então eu só peguei a sua mão e disse:

— Vamos!

E depois disso, quando o tempo parecia estar ao nosso lado novamente, você apenas disse adeus.

— Adeus. — eu respondi.

Quando você já estava longe, quando começava a brotar a esperança de que um de nós dois pudesse acabar com a distância, eu fiquei sem ação e meus pés estavam grudados ao chão, e eu tive a certeza de que você não olharia para trás. E aquele foi realmente um adeus.

Você mudou de cidade depois daquilo, e com o passar do tempo, com a correria das nossas vidas adultas, perdemos o contato de forma definitiva.

— A chuva parou. — constatei e logo procurei com os olhos os dois jovens que haviam se abrigado da chuva no ponto de ônibus.

Eles estavam caminhando de mãos dadas, sorridentes. Pareciam felizes e eu, estranhamente, fiquei feliz também. O garoto foi mais corajoso do que eu jamais seria em sua idade. Talvez ele não fique com a garota no fim das contas, mas ele nunca vai remoer o arrependimento de não ter insistido, como eu fazia havia anos.

Olhei para a mochila que guardava a nossa promessa e a agarrei como se a minha vida dependesse daquilo. Uma coisa que eu aprendi com a vida é que nunca é tarde para tentar novamente, e era exatamente isso que eu faria.

Sorri, pensando que outro fato que me instigava sobre as tempestades é que, quando elas chegam ao fim, o céu fica mais límpido e brilhante, como quem diz: Ei, vai lá e tenta novamente.

CANTO E CONTO: MELODIAS CONTADASWhere stories live. Discover now