Ao chegar em casa, tive a estranha sensação de que tudo o que vivera, as aventuras com o Wilson e o Jack, na realidade, nunca acontecera de verdade, ou pelo menos, não tinha rastros de nada daquilo que havia deixado para trás há poucos meses.

A casa estava abandonada, mas não parecia com a bagunça que conhecera junto ao Jack e a galera, apenas aparentava com uma das últimas arrumações que meu pai havia feito.

Procurei o Jack, chamei pelo seu nome umas três vezes, até que cansei e muito assustado, não recebi nenhuma resposta... silêncio total!

Aquela parecia mais uma casa mal-assombrada e por alguns segundos tive medo, mas não medo pela casa abandonada, mas pelo tudo que não vivi por ali.

Por um segundo achei que estava doido, foi então que escutei, vindo do fundo do quintal, um choro.

Parecia uma criança se lamentando. Um pouco receoso, pois ainda estava assustado com o que acabara de viver, fui vagarosamente até o fundo do quintal e ali eu o pude ver.

Era uma criança debruçada em seus joelhos e encolhida no cantinho mais escuro, entre as árvores e o muro.

– Olá! Chamei sem saber de quem se tratava e ainda bastante receoso com tudo aquilo, me aproximei... vagarosamente.

– Olá, menino?! Quem é você? Perguntei já bem perto dele. Quando ia chamar pela terceira vez, vi que a criança se levantou rapidamente e para meu desespero, confirmei que se tratava do Jack, exatamente como quando eu o conhecera em minha infância, mas seu rosto transfigurava entre aquele menininho e um verdadeiro demônio.

Dei alguns passos para trás de susto, quase desmaiei, porém, tentei me controlar e perguntei:

– É você Jack? Falei e esperei que ele parasse de chorar, até que começou a rir e sua risada foi engrossando, assim como seu corpo foi se transformando até a idade que já tínhamos naqueles tempos.

Ele parou de rir, ficou em silêncio por alguns segundos e então, falou:

– Me desculpe, Mac!

Estava perplexo e sem reação, uma mistura de medo e agonia, por imaginar que talvez eu jamais tivesse vivido tudo o que imaginava ter vivido.

– Desde quando estou assim? Perguntei meio gaguejando e com lágrimas nos olhos.

– Desde o dia em que sua mãe morreu. Me respondeu sereno e com cara de arrependido.

– Então, aquelas aventuras, toda aquela gente, nada foi de verdade? Disse chorando, lembrando de minha mãe, meu pai, meu irmãozinho, as filhas da Valquíria.

– Foi verdade, aconteceu mesmo, mas não foi neste plano material. Você experimentou um plano paralelo, um lugar onde eu domino e dito as regras.

– Nem a moto que bati na cerca da Valquíria? Perguntei em prantos.

– Aquela moto foi um acidente, alguém encostou ela por aqui. Por algum motivo do destino, você teve acesso àquela moto e na confusão de suas realidades, com a ajuda de alguém, você a pegou emprestada e saiu sem mim. Creio que este foi o único momento em que descuidei de você. Exatamente quando perdi o controle de sua vida.

– Você não é uma boa pessoa. Creio que você nem mesmo seja uma pessoa – falava em um diálogo alucinado, como se estivesse sozinho naquela casa assustadora –, afinal, o que é você?

– Sou o que você chama de demônio, meu amigo... apenas um demônio!

Fiquei paralisado por alguns minutos, o observando e imaginando mil coisas. Tentava compreender aquela maluquice, em vão.

Conflitos - Entre Jack e GodOnde as histórias ganham vida. Descobre agora