-Quê? Nunca!

-Se você for, dou a minha palavra que esquecerei a possibilidade de que tudo o que você disse no seu interrogatório seja mentira, e que seu pai e esse idiota do meu lado inflingiram a lei, escondendo tal informação.

-Escuta, vocês não entendem, sim, tenho esse dom, mas não sei controlar! Acreditem, desenvolvi muito bem meu dom de lutar, no entanto, esse meu lado de... mentira, não sei usar! Sai da OSCU muito antes de aprender.

-Você e o seu pai tem o mesmo dom, talvez ele possa lhe dar algumas aulas antes da sua partida. - propõe Jack.

-Quanto tempo tenho?

-Menos de vinte e quatro horas. - responde Miller.

-É quase impossível desenvolver meu dom em menos de vinte e quatro horas!

- Boa sorte...

(...)

Caminhava pelas ruas, lado a lado com o meu pai. Já faz um tempo que não nos víamos. Logo depois de que minha inocência foi provada, recebi sua visita na minha nova casa, mas depois disso, nem ao menos nos falamos por telefone.
Deixei Táu com Diana, precisava estar sozinha com ele, para que assim, pudesse ter uma concentração maior.

- Isso é difícil.

-Nem tanto assim. A verdade está nos olhos! A sua linguagem corporal é muito boa para mentiras. Porém, os seus olhos te entregam! Você não tem que controlar a suas pupilas, você tem que controlar a emoção que faz elas dilatarem, entende?

-Mais ou menos.

-Não fale de modo apressado, não dê muitos detralhes e principalmente, não desvie o olhar da pessoa que está te interrogando. Mantenha os olhos centrados nela. Primeiramente eles tendem a fazer perguntas simples, perguntas que você está acostumada, para somente depois fazer uma difícil, ou desconfortável. Essa retirada repetina da zona de conforto pode deixa-lá deslocada, ou assustada. Então procure manter a calma e esteja preparada para qualquer pergunta.

-Não vou de lembra tudo isso! - murmuro.

-Normalmente, nós expressamos nossas emoções através da tensão e relaxamento dos músculos faciais. São Microexpressões, mas são detectáveis. - continua, se me dar atenção.

-Sinto que voltei a escola...

-Natasha... Sei que é difícil aprender tudo isso em um dia só. Mas se não fizer isso, estará morta bem antes de entrar naquela prisão.

-Super reconfortante. - digo sarcastica.

-Não quero te assustar, mas essa é a realidade. Você vai conseguir!

-Como sabe?

-Acho que você tem sete vida. - brinca.

-Talvez elas estejam acabando.

(...)

Apago a TV e depósito o controle sobre a mesa de centro da sala. Passei quase três horas assistindo a séries e comendo coisas calóricas. A muito tempo não fazia algo assim. Em menos da metade desse tempo, Táu subiu as escadas cansado, ele não estava acostumado a esse tipo de coisas.
Recolho a bacia vazia de pipoca e o copo sujo de cima de mesa, lavando-os até a cozinha, lavaria a louça apenas amanhã cedo. Ouso o timbre da campainha tocar e franzo a testa confusa, já era tarde, quem visita alguém nesse horário?
Sigo até a porta com uma mão na cintura, pronta para pegar a arma se algo desse errado.

-O que está fazendo aqui?

-Nós temos uma conversa pendente, lembra?

-Sim, mas... Já é tarde...

-Me desculpe pelo horário, se quiser, volto amanhã.

-Não, deixa para lá. Entra aí. - digo dando passagem.

Tranco a porta e aponto para o sofá, sinalizando para que ele se sentasse.

-Quer beber alguma coisa? - questiono nervosa.

Por que estou nervosa?

-Não. Obrigada...

-E então? - falo, sentando ao seu lado.

-Bem eu... - gagueja. - É... que...

Reviro os olhos.

-Nesse pique ficamos a noite toda aqui! - murmuro. - Deixa que eu começo. Quero fazer uma pergunta.

-Sou todo ouvidos.

-Por que não me contou que ajudou Jack a tomar o lugar do motorista?

-Como? - indaga confuso.

-Sabe do que estou falando. Por que deixou que te odiasse?

-Você não me odeia.

-Responda a pergunta.

-Só achei que o fato de ter feito isso ou não, não mudaria nada. Eu te ajudei, mas também trai sua confiança quando te caçei sem fazer perguntas. Você está certa em me odiar.

- Você tem razão, não te odeio. Mas também não te adoro! Vocês pisaram na bola.

-Sei disso, por isso estou aqui para oficialmente pedir desculpas. Você nunca nos traiu, sempre esteve ali, arriscando sua vida e... me perdoa?

"Você nunca nos traiu". Meu cérebro paralisou com essa frase. Será que mesmo que não os trai? O que estou fazendo agora? Participando de uma força tarefa que caça um criminoso. Sei que tudo isso não vai levar a nada e que em poucos meses, estaram mortos, ou alienados. E mesmo assim, continuo no meio de tudo isso, escondendo que talvez, em alguns dias eles próprios não estejam vivos. Miller confiou em mim me contando sobre sua filha, sobre a morte dela. E agora estou prestes a permitir, e ajudar, para que outras mães passem pela mesma situação. Será mesmo que sou melhor do que eles? Ou pior?
Suspiro pesadamente, voltando a realidade com as mãos de Alfie sobre as minhas, em forma de conchinha. Olho para os seus olhos, sentindo a culpa me invadir. Esse tempo todo os culpei por traição, mas o que estou fazendo é muito pior.

-Sim. - murmuro com um sorriso fraco.

Seus olhos se enchem de alegria, e ele me envolve num abraço apertado. Sinto uma lágrima escapar pelo canto dos olhos quando penso na hipótese de que, talvez, Alfie me odeie ao descobrir tudo.
Me afasto do seu corpo, com os olhos fechados para evitar que mais lágrima escapassem. Sinto uma eletricidade se arrastar pela minha espinha assim que seu polegar tocou a região próxima aos meus olhos, secando as lágrimas.

-O que aconteceu? Disse alguma coisa errada? - questiona preocupado.

-Você não fez nada errado. Só estou um pouco sentimental. - murmuro abrindo os olhos, e vendo o quão próximos estávamos.

-Posso te pedir um favor? - indaga ele.

-Claro.

- Pode voltar a me chamar de Kansas?

-Pensei que odiasse o apelido.

-Não quando você diz.

Agente Morgan 3Where stories live. Discover now