Capítulo 3

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     Sentada em uma sorveteria de um dos bairro mais afastado da cidade, pedi para a garçonete uma taça de chocolate. Para o mundo, Natasha Morgan morreu a dois anos, e a chance de ser reconhecida são  mínimas. Ainda mais vestida daquele jeito, com roupas e capuz masculino.
     Os sinos da porta anunciam a entrada de alguém, avisto  na entrada do lugar, minha mãe, que pelo olhar procurava por mim.
      Mandei uma mensagem de texto a pouco mais de meia hora, informando o local e data do encontro. E nele, especifiquei ser um amigo necessitado, para que se a OSCU interceptasse a mensagem, não suspeitasse.
      Assim que ela se aproximou da mesa, seus olhos lacrimejaram enquanto me abraçava. Aconcheguei minha cabeça no seu ombro, e a apertei ainda mais contra mim. Nunca pensei que voltaria a ve-la, e aqui estou, abraçando-a.
        Quando as pessoas começaram a olhar demais a cena, nos afastamos, ainda um pouco abaladas, e sentamos de frente uma pra outra.

-Você esta viva... como...?

-É uma longa história, mas a pergunta certa seria, onde ?

-Não sabe quantas noites sonhei com isso... - diz, tocando minha mão. - E ainda não  acredito que é  real...

-Eu também mãe, não havia uma noite em que não  pensasse em vocês. Onde está o meu pai? Pensei que ele viria também.

-Seu pai está  despistando alguns homens, sem ele, não com certeza seria seguida.

-Eles já mandaram agentes para vigia-los? Estão sendo mais rápidos do que pensava.

-Na verdade, esses caras nos vigiam á dois anos, desde que tudo foi  descoberto.

-Você sabe que não fiz isso, não é?

-É  claro que sei e, é  por isso, que trouxe isso.

        Ela estendeu uma pasta preta sobre a mesa de forma discreta.

-Ai estão todas as minhas investigações sobre o caso... espero que consiga o que não consegui. Enquanto isso, vou continuar pes...

-Mãe. - intervenho- Agradeço por nunca ter desistido de mim, até mesmo quando pesou que estivesse morta... você lutou pela minha memória... mas não posso deixar que continue assim... Essa luta é minha, e não quero que você sofra as consequências do que pode acontecer.

-Mas...

-Por favor, fique longe de toda essa confusão, e mantenha o meu pai a uma distância ainda maior.

-Esta bem, mas me prometa que se precisar de ajuda vai vir até  mim, promete?

-Prometo. - olho para as câmeras do local, e depois para o relógio roubado do meu pulso. - Agora tenho  que ir, programei as câmeras para não  gravarem nada durante trinta minutos... e ainda temos tempo suficiente para sair sem sermos vistas.

        Ela tocou minha mão  mais uma vez, antes de me deixar guardar a pasta debaixo do meu casaco.

-Se mantenha viva Natasha, não quero perde-la novamente.

-Pode deixar, mostrarei a eles quem é  Natasha Morgan.

-Essa frase foi extremamente metida.

      Reviro os olhos.

-Eu sei.

     Levanto, afastando suas mãos das minhas e caminho até a saída sem olhar para atrás. Se olhasse, dificilmente sairia dali tão cedo. Ao entrar na OSCU, jurei proteger esse país e, é  isso que vou fazer. Mas para fazer isso, preciso me equipar e estar bem protegida.
       Procuro entre aqueles que caminhavam pela rua, alguém que tivesse um bom status social. Ao longe, vejo um homem se aproximar, falando ao telefone enquanto gesticulava sem parar com as mãos. Ajeito o capuz na cabeça, e espero que ele se aproxime para esbarrar de encontro ao seu corpo, roubando assim, sua carteira.

-Desculpe... - digo, antes de me afastar.

       Caminho até  a próxima quadra, tomando a devida distância antes de abrir a carteira e verificar quanto dinheiro roubei. Era o suficiente para conseguir um bom disfarce e alugar um quarto de motel.
         Jogo o celular que roubei para apagar as imagens da câmera da sorveteria no lixo, e me dirijo para a farmácia.

      É... estou virando uma bela de uma trombadinha. Se não for presa por terrorismo, talvez seja por furto.

       Assim que comprei o que necessitava, afanei mais dois celulares antes de chegar ao motel. O homem da portaria me olhava, provavelmente suspeitando de uma garota que usava roupas masculinas de número duas vezes maiores que ela.

-Existe algum quarto disponível?

-Sim, apenas uma noite?

-Isso mesmo.

       Sorrio mais uma vez, antes de pegar as chaves e pagar pelo quarto. Não é um lugar luxuoso, mas era perfeitamente capaz de me abrigar durante noite. Deixo a sacola de compras sobre a cama, e me dirijo até o banheiro para um bom banho. Acreditem, já faz mais de uma semana que não  tomo. No mar, as coisas eram muito racionadas, e quando cheguei à cidade... bom... digamos que não tive muito tempo pra isso.
       Deixo que a água leve as impurezas do corpo, junto com a preocupação que durante alguns segundos parecia não estar mais ali.
       Encaro meu reflexo no espelho, meu cabelo estava enorme e meu supercílio cortado. Esse foi um dos efeitos da fuga do navio. Seguro a tesoura entre dedos e diminuo o comprimento dos fios para um novo visual.
        Sobre a pia do banheiro, estavam minhas novas roupas. Não eram largas ou masculinas, mas eram aquelas que a velha Natasha costumava vestir.
Deito sobre a cama, ligando em seguida  a televisão para assistir aos noticiários. As pessoas ainda não  comentavam o meu retorno, o que significa que por enquanto, o governo decidiu manter tudo em sigilo. Retiro de uma das sacolas o celular roubado, e invado a rede de Wi-Fi do hotel. Agradeço a Simon por insistir em me ensinar pequenos truques, que talvez fossem necessários para uma missão, e a Karen por me ajudar a aprofundar esses conhecimentos. Tenho certeza que todos eles seram de grande ajuda nesse momento.
      Segundo os sites de pesquisa, Dr.Kepler ganhou dois Nobels e uma Medalha Priestley em Química molecular e ciência Biológica, além  de outras áreas de pesquisa. Em 2002 foi preso por espancamento á sua mulher, e solto em 2004 por bom comportamento. Sua filha morreu em 2003 de hemofilia, após um tiroteio na escola de San Francisco. O que significa que o cientista pode visita-la, pois naquela época, ainda estava preso.
      Hemofilia é  um distúrbio hemorrágico hereditário, ou seja, dependendo do ferimento, a pessoa pode sangrar até a morte porque o sangue não coagula facilmente. Se a filha hemofilica do Doutor herdou isso dele, com certeza ele ja teve ter visitado algum hospital nesses últimos dois anos. E assim, denunciaria sua localização.
      Hackeio a rede pública de postos e hospitais de saúde, assim como também os convênios particulares. Foi necessário filtrar alguns nomes, e esse processo demoraria mais do que o esperado.
       Deito a cabeça no travesseiro, e início minha busca.

        

       
         
        

     
     
     

    

     

Agente Morgan 3Onde histórias criam vida. Descubra agora