O casamento | Página 01

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Ao estalar o pescoço, para direita e depois para esquerdar, Fernando Aguiar, um dos herdeiros do narcotráfico de Bogotá, Colômbia, sentia-se com os ombros menos pesado.

Trajado de noivo, com um belíssimo terno preto, camisa branca com abotoaduras de ouro, que lhe caia muito bem no corpo grande, musculoso, ele estava trancado no escritório da mansão Aguiar, onde encarava a gravata de seda prateada que, estendida sobre a cadeira a sua frente, teria que colocar dentro de minutos.

Depois, seus olhos cinzentos, emoldurados por espessos cílios negros, caíram na caixinha de veludo que continha um par de alianças de ouro dentro dela, o delicado objeto estava próximo ao braço estendido sobre a mesa, e o único desejo que ele tinha era joga-la no lixo.

O relógio fazia seu tic tac habitual, o som, era como marteladas em sua mente, lembro-o que estava se aproximando a hora de sair, encarar os convidados, esperar a noiva no altar, dizer sim...

O cheiro de couro e madeira, do cômodo, estava em todo o lugar, mas apenas um cheiro Fernando estava disposto a sentir...

Tirando do bolso do seu paletó um pequeno saquinho transparente que carregava não mais do que cinco gramas da sua melhor felicidade. Branca como neve, refinado como suave perfume de mulher excitada.

Com familiaridade, fez uma linha fina sobre a mesa de mogno, alinhou depois sugou toda linha para dentro. O movimento de se acomodar na cadeira, se encostando, não apenas para projetar o nariz para cima e impedir que resquícios caíssem no seu terno negro, era também para continuar a relaxar, esvaziar a mente, apertando o nariz para sentir tudo entrar, envenenar o sangue, acalmar os nervos.

— Ah, você está aí! — disse Antônio, seu irmão mais novo, ao ver Fernando no escritório.

Quando Antônio abriu a porta para entrar, o som da sala e do jardim fizeram o estômago de Fernando se revirar, os olhos abrir. Já havia tomado quatro doses de uísque, acendido um charuto e consumido gramas de cocaína pura, mas nada, nem ninguém tirava a repulsa que ele sentia no momento. Quando a porta foi fechada, Fernando conseguiu fechar os olhos novamente, contudo não se perdoava da merda em que se meteu.

— O que quer? — indagou Fernando, indiferente, pegando o resto do charuto que havia acendido um pouco antes de encher a cabeça de drogas.

— Como assim o que eu quero? — Antônio se aproximou de seu irmão, flagrando a face carrancuda, as pupilas dilatadas, o cheiro forte de bebida e tabaco, sobre a mesa rastros de pó. — O casamento, porra! — Apoiou-se na cadeira que tinha a gravata. — O seu casamento. Lídia lhe espera. Não vá me dizer que desistiu?

Fernando bateu as cinzas do seu charuto no cinzeiro, levando o charuto a boca, olhando para Antônio de soslaio, tragando mais um pouco.

Ele tinha que cumprir a palavra, fazer valer a assinatura que colocou em um contrato de aliança feita a base de ameaças.

— Não — respondeu Fernando, soltando a fumaça, deixando seu rosto coberto por ela. — Não desisti.

Desistir implicaria o desequilíbrio do seus negócios, a posição em sua família, derramamento de sangue, mortes de familiares. Fernando poderia ser um homem traiçoeiro, frio e sem coração, mas pela família, pela honra dos Aguiar, ele meteria um anel no dedo e casaria com a mulher que ele adoraria fazer sofrer um pouco.

— Aquela mulher é o cão! — exclamou Camilo, entrando no escritório e se juntando aos irmãos. — Acredita que sua esposa mandou o padre ir a merda? — contou animado, achando graça da ousadia da futura Senhora Aguiar. Se servindo do uísque que Fernando havia deixado sobre a mesa, Camilo se acomodou com os irmãos. — Parece que ela não compareceu na igreja ontem para se confessar e o padre sugeriu que fizesse antes do casamento, ela gritou um monte de palavrões e chutou a bunda do padre para fora do quarto antes que ele conseguisse fazer o sinal da cruz.

— Estamos no inferno, Camilo — resmungou Fernando. — Aqui ninguém precisa se confessar.

Fernando levantou-se, sentia tontura, estava fora de seu equilíbrio, zonzo pela bebida, enjoado pela situação, entorpecido pela droga. Antônio o segurou.

— Você não parece nem um pouco feliz em casar — observou Camilo, vendo estado deplorável de seu irmão.

— Sonho em estrangulá-la — confessou Fernando, entredentes, olhar assassino. — Acha mesmo que com esse pensamento estaria feliz em me casar com Lídia?

— Mas que merda você está me dizendo? — Camilo questionou. Ele era testemunha, estava lá, na reunião onde a família Aguiar e família Garcia assinaram o acordo onde Fernando fazia suas próprias exigências. — Você quem escolheu Lídia para ser sua mulher, tinha a opção de ficar com Lilian, a irmã mais velha, mas não quis. Agora me diz que detesta a mulher? Eu sei que aquela raça não vale nada...

— Nenhum de nós, Camilo — corrigiu Antônio.

— Mas então porque diabo Fernando aceitou casar justamente com aquela vadia?!

Camilo foi longe demais, e viu exatamente isso quando Fernando avançou com fúria para ele, segurando-se na aba de seu paletó, o olhando como se fosse lhe quebrar ali, naquele momento.

— A vadia a quem se referiu — Em tom ameaçador, Fernando intimidou seu irmão. — Vai ser minha mulher em minutos. E eu... serei o único homem a chamá-la assim. Se eu imaginar que você... disse que ela era uma vadia, novamente, eu...

— Não direi — Camilo adiantou-se.

Eles eram em três irmãos, cada um concebido por uma mulher diferente, filhos de Afonso Aguiar, chefe do cartel de drogas de Bogotá.

A família Aguiar controlava todo o território em drogas na área norte do país. Ali, ninguém pertencia as ordens de governo ou da justiça, todos atendiam ao poder da família Aguiar, a mesma pela qual está se unindo a família Garcia para adquirirem mais poder econômico e de fogo, a fim de serem grandes, impenetráveis, poderosos.

— Solte Camilo! — Antônio conseguiu tirar Fernando de cima do irmão. — Lave o rosto e faça uma cara melhor — sugeriu, pegando a gravata e colocando sobre os ombros de Fernando. — Termine de se arrumar antes que papai entre aqui com a ira dele. Muito menos que seu sogro acuse de humilhação pública em seu casamento. Você não vai querer uma guerra entre as duas famílias justamente agora, não é?

Fernando olhou para Antônio.

— O mais novo e mais sensato — declarou Fernando, dando tapinhas no rosto do irmão.

Quando seus irmãos finalmente o deixaram sozinho, Fernando tirou o casaco do seu terno e, sobre os ombros, amarrou seu coldre com duas pistolas, uma de cada lado. Colocou a gravata, tendo o cuidado de não apertá-la tanto. Se serviu de mais uma bebida, imaginando como seria sua lua de mel. Ele tinha planos de tratar bem sua esposa até que a lua de mel, em seguida ele seria o Fernando que ela merecia por ter arrastado até aquele casamento. Iria lhe dar o prazer que ela merece, lhe chamaria de meu amor, mas depois... ele voltaria a ser o homem vil e cruel que ela deveria conhecer.

Fernando não suportava nem mesmo pensar em ter que acordar todas as noites do lado daquela mulher. Mas cumpriria seu papel de marido. Segurança, riqueza, sexo...

— Um brinde aos noivos — disse Fernando, erguendo seu copo, com tom totalmente irônico, bêbado, drogado, mas pronto para ser marido de uma mulher tão suja quanto ele.

— Um brinde aos noivos — disse Fernando, erguendo seu copo, com tom totalmente irônico, bêbado, drogado, mas pronto para ser marido de uma mulher tão suja quanto ele

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