Capítulo 12

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Tentei abrir os olhos, mas, enquanto parecia despertar de um sono de mil anos após ser esmagada completamente, minha cabeça latejou irritantemente. Grunhi, sabendo que precisaria levantar, porque minhas contas não se pagariam sozinhas. Ergui meu tronco lentamente, apertando os olhos pela enxaqueca horrorosa que já dava indícios de assombro, acabei soltando um gemido e desisti de me poupar do esforço, levantando de uma vez enquanto abria os olhos. O mundo tornou a girar freneticamente em minha visão enlouquecida pela merecida ressaca. Foram três ou quatro drinks? Como se fizesse alguma diferença…

Apoiei minhas mãos nos joelhos enquanto meus pés tocavam o piso frio, trazendo certo alívio em meio ao incomodo que sentia. Nem lembrava se alguma vez já havia me sentido da mesma forma e me arrependia amargamente pelos mililitros mais mínimos de álcool que ingeri na noite passada, e mais ainda por não conseguir recordar alguma memória inteira e consistente. Enquanto me jogava no chão, ansiando por sentir o frio contra meu rosto a acalmar meu organismo devastado, percebi os sapatos masculinos organizados ao lado da cama. Prendi a respiração; não por medo nem nada assim, mas por lembrar de Daniel. Não conseguia dizer em que momento isso ocorrera nem narrar uma sequência de acontecimentos, mas poderia vislumbrar com mais firmeza sua feição nada amigável para meu lado – nem um pouco-- e sentir seu toque incisivo queimar minha pele.

Me levantei rapidamente, ainda permanecendo ajoelhada enquanto tentava buscar os acontecimentos da noite passada como se todo o mal-estar anterior tivesse, simplesmente, sumido. Olhei em direção ao criado-mudo, me esticando com desespero para alcançar meu celular e verificar que estava muito mais do que atrasada. Duas horas e trinta e dois minutos de atraso, para ser mais exata. Céus

– Achei que não acordaria ainda hoje… – Aquela voz grave que me deixava completamente eriçada, ecoou por todo o cômodo, mesmo com a leveza que Daniel demonstrava no falar; era o trovão numa noite silenciosa, anunciando que a chuva estava a caminho. Ele não estava no seu estado normal, eu sentia isso; Daniel raramente me tratava com alguma ironia e, quando o fazia, tinha algum motivo notável e eu sabia que havia feito algo para tirá-lo do sério. Permaneci calada, enquanto visualizava muito rapidamente uma mensagem de Carlton, que não conseguiu chegar nem perto de capturar minha atenção. – Como você está?

Virei-me devagar ao passo em que levantava, tentando demonstrar alguma dignidade no meu posicionamento, mas não era como se Dan fosse colaborar. Nunca que vê-lo vestindo somente uma bermuda básica de corrida, com o peitoral portentoso nu para a admiração me permitiria manter a classe que desejava. Minha boca estava seca, mas sentia que o resto do meu corpo se inundava no pecado que era observá-lo daquela forma, ridiculamente tentador e sugestivo. Suspirei, tentando não me aproximar para, ao menos, comprovar se emanava o calor absurdo que parecia transmitir, nem para sentir seu cheiro extremamente masculino ou para sentir a vermelhidão de suas bochechas queimar na palma das minhas mãos.

– Estou como mereço. – Falei baixo, com a garganta arranhando minha voz a deixá-la mais rouca que o normal. Eu não sabia nem o que dizer; não lembrava exatamente do que havia feito e nem se ele realmente sabia o que se passava, por isso, acabei com meias palavras presas na garganta e as que saíram somente me deixaram ainda mais confusa. – Eu, bem…

Daniel colocou uma das mãos nos quadris e, com a outra, coçou levemente o supercílio, desviando o olhar com um sorriso travesso a brotar em seus lábios, avermelhados demais para minha visão tolerar. Ele estava se divertindo com meu estado e nem havia tentando me tocar ainda, ou, pelo menos, se aproximar, o que deixava claro que eu havia errado de alguma forma.

– Você ainda nem se alimentou. – Daniel crispou os lábios, voltando a me encarar. – Venha, vamos resolver isso antes de qualquer coisa.

Um frio na barriga me fez estremecer. Cerrei as mãos ao lado do corpo enquanto o encarava, durante segundos curtíssimos, porém, mais intensos até que o dia anterior. Seus olhos estavam brilhantes, mas eu sabia que não era por mim e sim, provavelmente, pelo esforço físico que deveria ter feito antes de entrar no quarto. Azul; um azul-celeste que transmitia sua vibração escandalosa num mar de calmaria. A cor me torturava, ainda mais que a vontade de tocá-lo e ignorar tudo. Eu iria ouvi-lo e também falaria, porém, seria totalmente diferente de como era antes onde o melodrama reinava e terminávamos nossas conversas de jeitos grandes demais para poucas coisas.

The One I Need - Livro 2. Duologia The 2 Of Us.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora