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FELIZ ANIVERSÁRIO, NATHI! <3 

"Não sou o único viajante que não pagou sua dívida. Estive buscando um caminho para seguir novamente, me leve de volta para a noite em que nos conhecemos e então eu posso dizer a mim mesmo que diabos devo fazer, e então posso dizer a mim mesmo para não andar ao seu lado. Eu tive tudo, e então quase tudo de você. Um tanto, e então nada de você. Me leve de volta para a noite em que nos conhecemos." THE NIGHT WE MET - LORD HURON

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Minha boca tinha um gosto horrível, eu precisava escovar os dentes com urgência

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Minha boca tinha um gosto horrível, eu precisava escovar os dentes com urgência.
Era uma droga não ter noção de que horas eram, mas tentei lidar bem com isso. Encarei a parede a minha frente e respirei fundo, sabendo que se continuasse tentando fugir da verdade por mais tempo provavelmente piraria.

Me sentia abençoada por ter uma medicação tão pesada e conseguir dormir sem sonhar, era como uma maldição ser perseguida por meus torturadores enquanto me mantinha de olhos abertos ou minimamente consciente. Eu só conseguia afastá-.los quando transferia o pensamento para Louis e deixava toda a raiva e ressentimento tomar conta do meu peito, era uma merda me sentir tão suja carregando aquele peso...

Minha fé em mim mesma estava extremamente abalada por saber que eu estava pagando o preço por outra escolha errada. Mais um erro irreparável na minha enorme lista, mesmo que dessa vez fosse diferente. E era diferente. Dentro da minha mente eu já havia me culpado o bastante, antes por ser inocente e burra, agora só por ser burra. Isso era alguma vantagem?
Eu me lembrava de como lidei em silêncio absoluto com as primeiras marcas, mas dessa vez eu não me calaria. Tudo em mim havia mudado e eu precisava reconhecer que não era mais a garota sonhadora de onze anos, eu precisava lidar com o fato de ser uma mulher quebrada.

Estiquei o braço para fora da cama, enxergando as cicatrizes que eu mesma me fiz quando o barulho interno era demais para suportar e cheguei a sentir saudade dele porque tudo o que me sentia naquela hora era oca, vazia. Se me perguntassem como estava lidando com aquilo muito provavelmente eu não saberia responder.
Meu corpo estava anestesiado, se eu ficasse bem parada, podia ouvir o sangue correndo pelas veias e quase não sentia dores, se eu me forçasse, podia imaginar que estava em casa, na minha cama, tendo mais sonhos esquisitos para transformar em histórias.

Como eu sentia falta de escrever, seria ótimo fugir para dentro de um universo totalmente novo, totalmente meu, onde ninguém poderia me machucar ou onde eu lidaria com o que aconteceu sem que ninguém precisasse olhar para mim com cara de dó, sem pensarem em como eu era uma fodida... Não queria nunca mais ver o olhar de pena nos olhos que me encaravam, o que era uma merda porque eu sabia que em algumas horas Isabella entraria como um vendaval dentro do quarto e provavelmente me encararia com aqueles espelhos gigantes que ela chamava de olhos, mostrando o quanto eu estava horrível.
Por um segundo pensei na minha aparência... Era bom estar pronta pra quando ela chegasse.
Feliz o bastante por me sentir nula, apertei a campainha chamando a enfermeira, rezando para que o peso de tudo não despencasse de uma vez nos meus ombros fazendo que eu tivesse uma crise na frente de alguém.

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— Você não precisa se preocupar, acredito que em alguns dias os pontos vão estar bem sequinhos... — A enfermeira falou enquanto tirava o curativo das minhas costas. — Só tente não fazer movimentos muito bruscos, os pontos da barriga são os que mais me preocupam. Foi bom você me chamar para levantar. Como está se sentindo? — A mulher era animada.

— O enjoo melhorou, mas confesso que ainda quero deitar e dormir por um ano. — E era verdade, meu corpo ainda não havia se recuperado da surra, parecia que eu carregava uma tonelada nos ombros. — As tonturas também passaram. Acha que aguento tomar banho sozinha? Eu realmente preciso lavar me lavar. — Não aguentava mais ficar deitada ali, quase deixando o colchão com o formato do meu corpo.

— Sem problemas. Vou colocar uma cadeira dentro do box, assim você pode se sentar caso se sinta mal. Vou ficar aqui fora esperando enquanto a equipe limpa seu quarto e troca os lençóis. — A mulher me ajudou a descer da maca com cuidado e foi até o banheiro com uma cadeira de plástico branca, me deixando sozinha por um minuto. — Você pode esperar um pouco até eu chamar o pessoal da limpeza?

— Não se preocupe. — Tentei tapar meu corpo o melhor que podia com o robe branco que ela havia me dado — Acho que dou conta. —Tentei sorrir para a mulher.

— Sem problemas, volto já. — A enfermeira saiu, finalmente me deixando sozinha.

Me mover até o banheiro não foi tão ruim quando eu pensava que seria, meu corpo parecia ter ânsia de se movimentar, mesmo que tudo doesse a cada passo que eu dava, como se estivesse enferrujada. Meu estômago tremeu quando finalmente cheguei em frente a pia do banheiro. Me aproximei e acendi a luz, vendo a marca da massa que prendia ali antes um espelho que devia ser grande o bastante para que eu enxergasse todo o meu corpo da cintura para cima. Passei os dedos pela massa irregular na parede, tendo certeza que aquilo era obra de Louis. Sabendo que ele não queria que eu me visse naquele estado... Será que era tão ruim assim? Será que eu me assustaria?
Eu tinha uma vaga ideia do que iria encontrar, mas de fato, Louis estava certo em não querer que eu visse... Assim que abri a porta para onde ficava o vaso e o chuveiro, a luz automática se acendeu e o ar me faltou quando me olhei no reflexo do box.
Eu havia virado um monstro disforme.
Não tinha como me esconder, meu cabelo que sempre havia sido minha proteção agora era curto demais, tão curto que nem meu pescoço ele cobria. Meus olhos estavam envoltos em manchas escuras, havia um corte na minha testa, outro na minha bochecha e sobre o meu lábio inferior. Passei os dedos, processando a informação que aquilo era eu. Passei a língua pelos lábios, sentindo o machucado ser real e respirei fundo, tentando ser forte para conseguir tirar o robe sem gritar.
Demorou, mas deixei o tecido escorregar pelos meus braços em direção ao chão e tentei segurar as lágrimas que surgiam ao ver o estado em que meu corpo se encontrava.

Louis havia ido embora com uma bela visão do inferno.
Chegou uma hora que meus olhos estavam tão cheios d'água que a visão ficou embaçada e eu precisei piscar, fazendo as lágrimas grossas rolarem pelo meu rosto enquanto eu podia enxergar novamente meu corpo no reflexo perfeito do box escuro. Meus seios estavam cheios de marcas escuras, minha barriga também, e agora havia a nova cicatriz ali... Me atrevi a olhar para baixo e encarar as casquinhas que haviam se formado sobre a minha pele, todas no formato das bocas daqueles homens... Virei de costas lentamente, sabendo que a próxima olhada faria o demônio dançar sobre a minha alma mais uma vez, pisoteando o que havia restado de mim até sobrar apenas cinzas do que eu consegui reerguer um dia.

Quando finalmente tomei coragem de olhar sobre o ombro, vacilei, apoiando uma das mãos sobre a porta. Coloquei a outra sobre a boca e abafei o grito que queria sair conforme eu escorregava em direção ao chão frio. Tudo tinha voltado, tudo estava ali, me engolindo como se o buraco negro ainda não tivesse sugado minha alma o bastante.
O que eu não daria naquela hora, deitada sobre aquele chão gelado, para voltar um mês atrás. O que eu não faria para não ter sido tão massacrada... Minha alma pesava uma tonelada e eu ainda me sentia vazia. Haviam levado tudo de mim, tudo o que me restava estava destruído.

Fiquei deitada, sentindo as lágrimas escaparem continuamente dos meus olhos enquanto meu coração parecia falhar, batendo fraco como se algo dentro de mim dissesse que ele ainda precisava tentar... Era uma pena eu não ter tanta certeza se queria continuar.

Se fosse possível fazer um único desejo, aquele certeiro por ser atendido por Deus, eu escolheria morrer. Pior do que ver o que aquilo tudo tinha feito com meu corpo era sentir o que havia feito com a minha alma.

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INCONSEQUENTE - SÉRIE DARK HAND - VOL II [RETIRADA 24/4/2020]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora