Capítulo 4

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Um Par de Olhos no Escuro


Sara acordou suando frio e prendeu os cabelos em um coque com os dedos trêmulos. Respirou fundo e tentou caminhar sem fazer barulho até a cozinha simples para pegar um copo de água.

Seu sono fora perturbado durante quase toda a madrugada por vozes sussurrantes e imagens confusas de olhos que a espreitavam das sombras, de garras que se precipitavam do meio da mata para agarrá-la e levá-la embora. Para onde? Não sabia.

E, sinceramente, não fazia nenhuma questão de saber.

Voltou para a sala um pouco mais calma após olhar pela janela e analisar o ambiente a seu redor. Tudo continuava tão calmo quanto deveria ser. Nenhum som ou visão estranha, nenhum visitante macabro. Aquela paz típica de residências mais isoladas estava espalhada por toda parte.

Sentou-se no sofá que lhe servia de cama e viu Thiago dormindo na poltrona onde deveria estar vigiando. Pensou em que tipo de bronca poderia dar, desistindo com um sorriso. Ele estava exausto, já ela perdera o sono com os pesadelos. Nada mais justo que ela ficasse de tocaia esperando o que quer que fosse.

Para passar o tempo, pegou o celular. Primeiro checou as mensagens em busca de alguma atualização do caso ou novo informe da Sociedade, porém ainda não havia nada. Depois se permitiu alguns breves minutos de lazer enquanto checava as redes sociais.

Pensou se poderia pegar os fones de ouvido para ouvir música ou ver algum vídeo, e resolveu que aquilo a distrairia e impediria de ouvir alguma ocorrência estranha.

Afinal, estava ali trabalhando, não passando férias.

Levantou-se mais uma vez para esticar as pernas e, para não relembrar as imagens que vira enquanto estava dormindo, tentou prestar atenção aos detalhes do interior da residência.

A maioria dos casos que precisavam resolver se davam mesmo no interior ou em localidades distantes de centros urbanos. Era de se esperar que muitas das criaturas fossem preferir locais menos habitados, onde ficariam longe de todo o aparato midiático que poderia revelá-los e, ainda por cima, próximos de pessoas que os mais preconceituosos chamariam de simplórias e supersticiosas.

Não à toa qualquer relato de locais mais distantes, especialmente de zonas rurais, era visto como mera crendice e recebia pouco crédito. Piorava se quem contava eram pessoas de mais idade: virava, automaticamente, sinal de que a pessoa estava senil.

Por outro lado, cidades menores, vilarejos e bairros afastados do centro traziam uma séria desvantagem para as atividades daqueles que planejavam se manter eternamente nas sombras: era praticamente impossível permanecer fora do radar por muito tempo. Em tais lugares, todos se conheciam e qualquer forasteiro com um comportamento muito diferente era visto com maus olhos. Além disso, as ações suspeitas eram notadas e se espalhavam rápido.

Sara nunca imaginou ficar tão feliz por existirem fofoqueiros em certos lugares.

Abafou uma risadinha e se aproximou novamente da janela do corredor. O vento frio soprou seus cabelos quando ela resolveu fechar o trinco. Passou direto para usar o pequeno banheiro, tomando o cuidado de dar duas batidinhas da porta para não precisar dar de cara com ninguém da família e gerar uma situação constrangedora.

Depois, voltou para seu posto de observação e bocejou longamente enquanto se recostava ao sofá. Fechou os olhos e respirou fundo. Seria um péssimo momento para dormir, então resolveu voltar a se concentrar em algo para se manter desperta. Pegou o celular mais uma vez, mas antes que pudesse escolher qual atividade levaria adiante pelos próximos minutos, um som estridente cortou a noite.

Noite Vermelha [COMPLETO]Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon