Noite Vermelha [COMPLETO]

Capítulo 5

5

Uma Atração Bastante Incomum

Eu encontro você

Sobre a ponte, a trilha está fresca

Seu suor pinga, seu sangue cálido

Eu não vejo você

Sinto apenas seu cheiro e sua presença

Um predador faminto que frita

Eu consigo te farejar a milhas de distância

Du Riechst So Gut - Rammstein

Se fechasse os olhos e permanecesse com a mente vazia por tempo suficiente, seus instintos o traíam e ele se lembrava do cheiro. Do cheiro e do gosto, main Got, como era delicioso!

Ele seria capaz de drená-la completamente, se tivesse a chance. De beber até a última gota de uma só vez, como um viciado em álcool que passa tempo longe demais de seu principal objeto de desejo.

Gottfried levantou os olhos para a noite, deixando que seus sentidos o guiassem para mais perto.

Já não podia mais usar a caverna como abrigo — a diabinha o havia descoberto antes do previsto! —, então tivera que se refugiar na floresta. Voltara a viver como antigamente, quando fora transformado: um dia de cada vez. Caçava o que precisava para se manter, mesmo bebendo até à morte suas primeiras vítimas de tão tomado pela sede que estava, e se enterrando debaixo de toda aquela terra escura e úmida e da imensidão de grama verde para descansar.

Então sonhava com ela. Com o cheiro a impregnar sua pele e o sangue enchendo sua boca, descendo grosso por sua garganta e deixando-o quente e mais perto de sua aparência habitual. Então tomaria seu corpo, também, e ela seria completamente dele. Estariam unidos por carne e sangue e nada conseguiria separá-los.

Gottfried riu sozinho. Justamente ele, que achava que jamais seria traído pelos instintos, agora estava ali obcecado pelo líquido vital que enchia as veias de alguém. O frenesi por ela o distraía de qualquer outra emoção.

Fora quase impossível não sucumbir a seus desejos e aparecer ali, no meio daquela clareira perdida no meio do mato, para reivindicá-la e levá-la embora. Mas ele já tinha um plano, e estava saindo melhor que o esperado.

Ela não poderia escapar dele, de sua fome, de seu desejo. Poderia até tentar fugir, porém não conseguiria porque ele a encontraria em qualquer lugar. Enquanto estivessem ligados pelo laço de sangue desenvolvido quando bebera, sem querer, dela e ela permanecesse com o machucado no braço, que era uma isca tentadora demais, ela não poderia se esconder por muito tempo.

Fatalmente, ele a encontraria e então... Então tudo estaria feito.

Ele acordara completamente perdido. Não sabia onde estava, muito menos em que época. Suas últimas memórias eram do confronto com inimigos que o forçaram a entrar em torpor em um velho cemitério. Depois, tudo se tornara um negrume silencioso cortado, vez por outra, por lapsos de sons do mundo exterior.

Então, o caixão em ruínas que escolhera para se enfiar após retirar os restos de ossos de seu antigo dono fora removido para algum lugar. Vieram os cânticos, batidas, sussurros e, por fim, sua parte preferida: o sangue restaurador, que inundou seu corpo de vida.

Foi quando começou sua obsessão, que só foi completamente entendida quando ele a encontrou.

Dali em diante, seus dias se tornaram um borrão disforme diante da única certeza que passara a ter. Ele precisava dela, precisava tê-la em seus braços, de seu sangue a inundar sua boca.

Não seria fácil, já que ela parecia saber exatamente o que fazer para mantê-lo afastado, mas ele não tinha sobrevivido a tantos contratempos e à passagem de incontáveis anos para desistir tão fácil assim do que queria.

Gottfried iria tê-la e nem a proteção de uma residência comum cercada de pessoas encarapitada em um prédio alto, amuletos mágicos e armas modernas iriam pará-lo.

Ao primeiro descuido, ao primeiro deslize, ela viria para seus braços. E nada iria separá-los até que o sangue e corpo dela estivessem completamente sob seu poder.