Capitulo 26

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O forte bater do seu coração e a sua serena respiração acompanhavam-no numa harmonia estrondosamente harmoniosa. Olhei uma vez mais para as estrelas e beijando a pele quente do seu pescoço esperei pelo futuro, pela eterna vida conjunta, pela liberdade. “Espera por mim Josh!” ...

Durante a noite senti Zayn instável. Pressenti algo terrível pois os pesadelos vinham aos milhares. Sempre que me punha numa posição minimamente confortável minutos depois tornava-se desconfortável. Algo não estava bem, tinha a sensação que iria acontecer algo mau. Passadas algumas horas consegui finalmente adormecer por completo nos braços dormentes de Zayn.

Acordei mais tarde no entanto a luz do dia ainda não era visível. Seria de madrugada? Senti que me faltava algo, o seu calor tinha desaparecido do meu corpo. Abri pouco os olhos a tempo de ver Zayn vestir-se.

- Onde vais amor? – perguntei numa voz ensonada. Sorri-lhe fechando os olhos cansados. As minhas pálpebras pesavam incitando-me a adormecer novamente. O calor acumulado no meu casaco confortava-me o corpo gelado fazendo com que todo o meu espírito se enfraquecesse nele.

- Amo-te muito Sophia… desculpa-me. Até sempre… - não percebi o que ele quis dizer com aquilo pois já quase dormia e, após sentir um beijo doce nos lábios, voltei a adormecer ferrada mergulhando novamente nos meus sonhos mais profundos.

Uma gota gelada de chuva na ponta do meu nariz fez-me acordar horas após a partida de Zayn. A manhã finalmente tinha chegado mas, consigo, uma tempestade aproximava-se. Corri e abriguei-me debaixo de uns espessos galhos de uma árvore antes que a chuva torrencial me atingisse. Fiquei ali minutos, horas esperando que a chuva abrandasse mas apenas se intensificou ainda mais. “Onde estará o Zayn?”, esta pergunta invadia-me a mente vezes sem conta mas tentava não pensar no pior. Não me lembrava do que ele me dissera quando partira e naquele momento punia-me por isso. “Deve ter ido dar uma volta antes de irmos resgatar o Josh.”, tentava convencer-me repetidamente. Esfreguei os braços e aqueci as mãos com a minha respiração quente, estava um gelo, já quase não sentia os dedos. Sentei-me num tronco caído e esperei. As nuvens cinzentas juntavam-se formando um manto negro que cobria todo o céu. Arrepios apoderavam-se do meu corpo, eu esfregava as minhas mãos geladas por todo ele tentando aquecer-me tal como Zayn me fizera mas sem efeito.

Esperei a sua chegada. Esperei ouvir a sua voz chamar-me. Esperei pacientemente com a preocupação a explodir-me no peito ao ver os segundos passarem por mim sem me aperceber da sua perda.

Ao entardecer o meu estômago roncava ruidosamente mas não desistia, permanecia no mesmo lugar à espera da sua presença calorosa. Até que… “Chega!”. Levantei-me, sacudi a roupa que tinha vestido e fui caçar. Tinha de descarregar as energias nalguma coisa útil senão dava em doida. Reparei que as coisas de Zayn não estavam no nosso abrigo, a sua faca, as folhas e o carvão tinham desaparecido. Olhei para o chão lamacento e reparei que tinha algo escrito, já estava meio apagado mas eu consegui decifrar: “Não me procures, quero-te segura!”. Segura? Eu?

- Não! – a minha pulsação explodiu num turbilhão de pensamentos. Eu sabia que algo não estava bem, ele tinha partido mas… porquê? Tinha prometido a mim mesma não deixar mais ninguém se sacrificar por mim, e, mais uma vez, promessa falhada.

Tinha de fazer alguma coisa, não ia ficar ali parada a olhar para o nada. Juntei todos os meus pertences e enrolei-os numa corda velha fazendo uma mochila improvisada. Destrui o abrigo, vesti o casaco, coloquei a “mochila” ao ombro guardando lá a carne para mais tarde e comecei a caminhar.

Não sabia por onde deveria ir, qual seria o meu caminho, apenas sabia que desistir não era solução. Sentar-me no chão e chorar a minha solidão, chorar a perda das duas pessoas mais importantes da minha vida não iria resolver nada. O meu plano era simples mas complexo. Primeiro procurar Zayn onde quer que estivesse e depois resgatar Josh.

A chuva entranhava-se no tecido do casaco congelando-me o corpo. Por momentos pensei que fosse impermeável mas tinha sido tão barato que nem me dei ao trabalho de reclamar. As minhas pernas tremiam de cansaço mas eu teimava em continuar. Desistir não existia no meu dicionário, a minha força interior era mais forte que qualquer outra dor física.

Naveguei por entre a vegetação molhada durante horas sempre chamando pelo seu nome, sempre com esperança de uma resposta sua. A tarde estava perto do fim e o gelo da noite começava a fazer efeito sobre mim. Não sentia os dedos das mãos, os meus dentes batiam constantemente no silêncio do parque, não se via ninguém. Todo o meu corpo doía mas eu continuava.

Enquanto andava, cantava uma canção, a canção que ele me tinha cantado na noite anterior. Cantava-a repetidamente com esperança que ele a ouvisse e fosse ao meu encontro. Os pássaros, há muito adormecidos devido ao frio, cantavam comigo. De braços cruzados ao peito entrei numa pequena estrada de lama, ia dar a um celeiro. “Talvez possa passar lá a noite antes de continuar a busca.”. Sorri levemente esperançosa deixando algumas gotas entrarem na minha boca. Caminhei até que um barulho me fez acordar dos meus pensamentos vagos. Eram pequenos cães que estavam no meio da estrada. Quase que tinha pisado um deles.

- Então pequenotes? – franzi as sobrancelhas e agachei-me tentando ver por detrás das gotas. Que estariam dois cães a fazer ali? Debaixo daquela chuva torrencial? Mas rapidamente percebi… Um cadela tinha sido atropelada, tinha uma mancha de sangue no pelo e gania sofregamente, já o cão, escanzelado, ajudava a sua amiga enquanto tentava empurra-la para fora da estrada e do alcance da chuva. O cachorro olhava para mim com olhos suplicantes, se fosse humano tenho a certeza que naquele momento estaria a chorar enquanto beijava a sua amada e lhe dizia para não desistir da vida. O desespero do cão comoveu-me, lágrimas cresceram-me nos olhos e ao percorrer a minha bochecha diluíram-se com a chuva.

Por vezes podia parecer bruta por fora, fria e sem coração mas não. Não apoiava qualquer tipo de violência contra os animais, aquelas criaturas frágeis, inocentes. Sim, eu caçava. Mas matá-los por sobrevivência é bem diferente que matá-los por desporto, por pura diversão.

Limpei a água da cara e peguei na cadela ferida. Corri e pousei-a delicadamente perto do tronco de uma árvore onde não apanhasse com a chuva. O cão veio saltitante atrás de mim. Via-se a alegria que o seu ser transmitia, a esperança. Fui à mochila, peguei na carne e sem pensar duas vezes pousei-a ao pé do cão. Ele rejeitou-a. Em vez de se alimentar deu à cadela, empurrou a carne até ela deitando-se ao seu lado oferecendo-lhe todo o seu calor. Sacrificou-se por amor.

Levantei-me sem antes receber uma lambidela de agradecimento do cão. “Espero que fiquem bem”. Eu tinha de ir, tinha de continuar a minha busca.

Comecei a caminhar quando, perto de um cano enferrujado, vi os pertences de Zayn caídos. O carvão estava partido, as folhas rasgadas, a faca amolgada, no entanto não havia sinal do desenho que ele tinha feito de mim. Zayn estava perto, e foi então que, vindo do celeiro, ouvi algo animalesco. Era um grito sobrenatural, masculino.

- ZAYN! - comecei a correr o mais que pude. Não sabia o que se passava lá dentro nem que cenário iria encontrar, apenas sabia que tinha de o salvar. Corri com a lama a entranhar-se nas minhas botas e o casaco a cair-me. O frio já não me incomodava pois uma onda de adrenalina percorreu-me debaixo a cima. A porta do celeiro era enorme e difícil de abrir mas eu continuei a chama-lo para que ele soubesse que eu estava a chegar. Farpas cortavam-me a pele, no entanto eu continuava a forçar aquela porta a abrir-se. Lágrimas de desespero caiam-me dos olhos mas eu tentava não entrar em pânico.

Mais um grito doloroso encheu-me de adrenalina e, com a persistência de um leão, respirei fundo e coloquei as mãos feridas no portão sentindo mais algumas farpas entranharem-se-me na pele. Apoiei todo o meu peso e toda a minha força na madeira abrindo-a finalmente.

Faltam 4 capitulos para terminar e o Epílogo 

Enough of Happy Endings, This is Reality...(Zayn Malik)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora