capitulo 20

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- Boa noite… Cinderella… - sussurrou Josh naquela sua voz melodiosa. Zayn abraçou-me e adormecemos mais uma vez preparados para fugir para bem longe na manhã seguinte, preparados para enfrentar o futuro…...

- PHIA! PHIA! Ajuda-me!!! – saltei tão bruscamente que acabei por bater com a minha cabeça no teto baixo. A dor não me abalou portanto levantei-me curvada e olhei para os lados inconsciente do que tinha acabado de acontecer. Apercebi-me que era de manhã e ouvia o som das milhares gotas de chuva a baterem bruscamente na calçada já corroída. Um ar gelado parava-me os músculos… tinha sido Josh a gritar. Todos os momentos que passamos juntos, toda a minha vida passou-me à frente dos olhos como um filme atacando o meu peito com uma dor insuportável. Olhei para o chão e não encontrava Josh em lado nenhum. Os meus joelhos estremeceram e dirigi-me a cambalear para a porta que estava entreaberta. Lágrimas ameaçavam cair-me dos olhos violentamente, o desespero mantinha os meus músculos tensos e eu apenas sussurrava vezes sem conta:

- Não pode ser… não pode ser… acorda! – a minha respiração acelerada quase me sufocava de dor. Rezei inconscientemente e abri mais um pouco a porta fazendo-a chiar um pouco. Até podia ser um sonho mas a este ponto já estaria mais que acordada. Os gritos de Josh continuavam e o meu coração rebentava de frustração, que lhe estariam a fazer? Espreitei e vi…

Um grupo de polícias fardados tapava o corpo frágil de Josh fazendo uma roda à sua volta. Os seus gritos agudos e desesperantes fizeram-me perder a respiração e a cabeça. Abri a porta e pus uma perna rapidamente de fora ainda vidrada na roda, prometendo a mim mesma que se não o ajudasse deixaria de viver. As minhas mãos tremiam e estavam molhadas com as lágrimas de desespero que teimava em querer limpar mas que nunca paravam. Ia a gritar quando alguém me agarrou por trás tapando-me a boca e puxando o meu corpo mole de volta para o esconderijo. Eu esperneei desesperadamente, só conseguia pensar no que eles estariam a fazer a Josh ali… talvez a magoá-lo brutalmente, sem compaixão… Não o podia deixar, abandonar tal como os meus pais fizeram comigo, não podia fazê-lo sentir essa dolorosa tristeza.

- Estás maluca?! – perguntou agarrando-me os pulsos para que eu não fugisse, impedindo-me de fazer o que tinha a fazer, de protege-lo. Agarra-me os pulsos, uma memória invadiu-me de imediato o pensamento e estremeci. O homem também costumava agarrar-me os pulsos para eu não escapar.

- Eles apanharam o Josh, Zayn! Tenho de o salvar… - tentei soltar-me enquanto soluçava e engolia algumas lágrimas que se escapavam para os meus lábios abertos exprimindo a cólera que explodia dentro de mim.

- Tens de deixá-lo ir Sophia… para teu bem!

- Mas… eu não consigo! – perdi as forças. Deixei cair a cabeça nas minhas mãos soluçando cada vez mais e o meu corpo perdeu a força de viver. Caí de joelhos e enrolei os braços à volta das minhas pernas à espera de acordar daquele pesadelo, à espera de ter de me despedir daquele ardor no peito. No entanto outro grito ecoou por toda a biblioteca fazendo-me ir até à porta e espreitar mais uma vez. Não o devia ter visto!

Por entre o meu olhar turvo das lágrimas vi um cenário tão doloroso que perdi a voz, a respiração e a força de viver.

Estavam a algemá-lo. A cara de Josh apresentava dolorosos golpes e o sangue escorria-lhe pelo rosto sujando a roupa e o chão de madeira. Estava quase inconsciente mas os seus pequenos e lindos olhos ainda estavam entreabertos.

- Está mais alguém contigo?! Responda!! – perguntou-lhe um polícia dando-lhe um pontapé doloroso nas costas fazendo-o o gemer e cair no chão já sem forças para continuar a viver. As minhas lágrimas silenciosas deslizavam pelo meu rosto.

- Não… ninguém! – aquela voz pequenina e melodiosa tinha desaparecido. Era agora substituída por uma forte e fria. Os polícias levantaram bruscamente o Josh e antes de começarem a descer as escadas ele olhou para a porta, para mim. Os nossos olhares cruzaram-se, uma lágrima percorreu o seu rosto e estendeu-me a mão. Eu não me podia mexer por isso apenas mais uma lágrima deslizou pelo meu rosto e murmurei um “Amo-te, peço desculpa…”. Os olhos dele fecharam-se lentamente e sorriu disfarçadamente. Perdeu os sentidos…

De todos os momentos passados apenas um me fez perder a cabeça, apenas um me fez cair na realidade… tinha sido numa manhã. O sol brilhava radiante e iluminava as copas das árvores, uma suave briza refrescava-me a pele e nós estávamos a flutuar lado a lado na água fresca do lago.

- Obrigado… - murmurou Josh após longos minutos de silêncio. “Obrigado?”

- Pelo quê amor?

- Se não fosses tu a minha vida não fazia sentido… Tu! Sim, tu guiaste-me e mostraste-me o caminho certo. Nunca te poderei agradecer por isso, és como uma mãe para mim, Phia… - eu olhei-o e vi um sorriso lindíssimo. Estendi-lhe a mão e ele apertou-ma carinhosamente. Abracei-o dentro de água pegando-lhe ao colo. Os seus braços envolveram o meu pescoço e os seus molhados lábios beijaram-me a bochecha delicadamente.

- Adoro-te meu filho… - sim, foi aí que me apercebi que o considerava um filho. Uma flor esperançosa que tinha nascido mesmo no meio do Inverno, uma força da natureza que me acordou, um milagre que ficará sempre escondido num canto do meu frágil coração.

Mais uma dor intensa atacou-me o coração. Afinal era assim que uma mãe se sentia quando perdia um filho, era simplesmente insuportável. As lágrimas molhavam naquele momento a gola da minha camisola e Zayn fazia-me carícias no cabelo tentando acalmar o meu desespero.

- Tenho de salva-lo… salva-lo… salva-lo… - repetia vezes sem conta. Já não estava em mim. Josh estava a sofrer, magoado, ferido e nem queria imaginar no que lhe poderiam fazer mais. Fechei os olhos lentamente e imaginei-o de olhos fechados, de pele fria e branca, deitado no cetim macio do interior de um caixão, de braços ao peito e com um “Adeus” nos lábios ainda por dizer…

Levantei-me e bati com a cabeça mas nem sequer me importei. Alcei uma perna, depois outra e saltei para o chão de madeira da biblioteca. Corri tentando arranjar forças nos meus músculos. Corria sem parar e ainda pude ouvir Zayn ainda a chamar-me mas não liguei. Continuei a correr e a correr, não podia desistir dele… do meu filho. Os polícias já tinham descido as escadas há já algum tempo mas eu continuava determinada com o fogo no olhar e o desespero no peito. Comecei a descer as escadas e tropecei. Esfolei os joelhos que já estavam em sangue quando me levantei mas liguei importância continuando a correr.

Naquele momento vi os polícias a porem-no numa carrinha à força, ele chorava.

- JOSH! JOSH! NÃO! – cambaleei tentando correr o melhor que podia até à porta de entrada com as lágrimas a caírem-me bruscamente no rosto. Abri violentamente a porta partindo os vidros e saí para a rua inundada de gotas de chuva que me ensopavam a roupa. A carrinha tinha começado a andar e eu corria atrás dela gritando apenas o seu nome. Josh olhou-me uma última vez através da janela da carrinha com uns olhos sem vida, uns olhos que um dia tinham sido luminosos, vivos e alegres sempre acompanhados por um sorriso lindo estavam agora melancólicos e aterrorizados. Caí no chão gasto da calçada e comecei a rastejar mas era demasiado tarde… ele tinha partido…

- Não… não… não está a acontecer… - senti uns braços a envolverem-me o tronco e a levantarem-me. Era Zayn. Ele também chorava mas tentava disfarçar virando a cara. Um calor assolou-me o corpo quando consegui ver o seu tronco por debaixo da sua camisa molhada.

- Está tudo bem meu amor… arranjaremos um plano, prometo – e abracei-o. Mas eu sabia que não estava tudo bem, que nada iria correr bem eles tinham-me levado Josh e isso bastava para destruir metade do ser que ainda me restava. Os meus músculos tremiam e os ossos não se sustentavam uns aos outros. Estava uma mazela, as minhas calças rasgadas e cheias de sangue, os meus olhos inchados e lacrimejantes e os meus sapatos rotos. Tentei limpar a minha mente e apertei Zayn contra mim tentando aliviar a minha dor e na verdade ele conseguia, conseguia afastar os meus pesadelos por instantes, por pequenos instantes. Olhei mais uma vez para a carrinha que já ia longe, limpei a minha última lágrima e murmurei:

- Irei encontrar-te Josh… prometo - e um arrepio assolou-me o corpo quando senti a pele macia e molhada dos lábios de Zayn nos meus. Ele afastou-se, por breves instantes olhou-me nos olhos, entrelaçou os seus dedos nos meus e disse:

- Não desistiremos! 

Enough of Happy Endings, This is Reality...(Zayn Malik)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora