VII - PECADORES (Josephine)

43 6 27
                                    

29 dias antes do epílogo da Parte I      


Com um gesto do guarda, abandonei o corredor e adentrei nos aposentos de rainha Lúcia. Tive certeza que eu observava o quarto com olhos de alguma coisa morta, uma expressão sem expressão - como sempre acontecia quando não sabia como reagir do modo esperado com pessoas por perto. Nervosismo. Nervosismo de gente.

Era um cômodo incrivelmente amplo. A monarca estava sentada em uma das muitas cadeiras amadeiradas ao redor de uma mesa redonda e grande, no centro do aposento. Atrás, parcialmente escondidos por uma cortina avermelhada, podia ver uma cama de casal e um armário.

- Muito obrigada, Ernesto – um aceno sútil de cabeça partiu da governante, seguido de um fechar de portas atrás de mim – Senhorita Josephine, querida, bem-vinda!

- Vossa Alteza – fiz uma mesura, minha voz tensa saiu firme.

Para meu estranhamento e curiosidade, a rainha não se encontrava sozinha, havia um homem, de cabelos laranja-avermelhados e olhos azuis, acomodado ao seu lado.

- Fique à vontade, querida. Sente-se – a monarca sorriu.

Foi caminhando a passos lentos, tentando não transparecer minha hesitação por aquela presença desconhecida. Sabia que rainha Lúcia queria conversar sobre a tentativa de assassinato ao meu pai. Ou ao menos, foi o que o criado encarregado de me dar o dito recado, da exigência de meu comparecer aos aposentos dela, contou. Cautelosa, acomodei-me em uma cadeira em frente ao casal. Acho que não estava sendo exatamente bem-sucedida na minha tarefa de esconder meu desconforto.

- Suponho que Felipe tenha lhe esclarecido o porquê de eu convocá-la aqui.

- Esclareceu, Vossa Alteza – balancei a cabeça.

- Ótimo! O que você acha que pode nos contar sobre o atentado a seu pai?

Eu estava prestes a abrir a boca, quando...

- Ah! Já estava esquecendo-me, querida. Desculpe-me – deu uma risadinha - Senhorita Josephine, esse é meu primo, Ruan. Ruan, essa é senhorita Josephine.

- Prazer – o homem me cumprimentou com um sorriso acolhedor, o qual eu correspondi, porém de um modo um tanto incomodado:

- Prazer.

Senti vontade de franzir o cenho. Achei incomum que ele fosse primo da rainha e não tivesse títulos ou uma forma de endereçamento específica. Não fazia o menor sentido.

- Está tudo bem, você podia confiar nele – a soberana sorriu.

De repente, senti o mirar dela sobre mim, junto de minha garganta seca.

- Sei que a tentativa de assassinato contra meu pai foi realizada por um sujeito de nome Justice, um criado que servia as refeições no castelo. Acredito que ele ajudava na cozinha també...

- Nossa Senhora! – saltou em um ímpeto da boca da rainha. Fez-me arregalar os olhos, tornando minha expressão tal como a dela. Seu ímpeto continuou, tremeluzia - Criado que servia as refeições, que perigo!

Concordei com a cabeça.

Uma sombra inconsciente passou por mim ao perceber o risco de envenenamento que isso envolvia. Não era Justice, uma pessoa aparentemente gentil que cometeu um ato estúpido em um impulso, podia ser qualquer um. Podia acontecer comigo. Podia acontecer com a rainha. Podia acontecer com a rainha.

Quando vi, já estava abrindo a boca:

- Talvez se o criado que serve as refeições alimentar-se dela antes, poderíamos evitar problemas... – exprimi sem pensar. Logo depois percebi as circunstâncias daquilo. E se o veneno ter sido posto por outra pessoa? A nossa vida não vale mais do que a de ninguém, ninguém. Mas ninguém entende isso. Onde estava com a cabeça para sugerir aquilo? – Não, foi uma má ideia, perdão, Vossa Alteza.

Nuvens são Alexandritas - Metamorfose Bicolor [EM PAUSA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora