I - PELOS CAMINHOS DE MARGARIDA (Margaret)

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31 dias antes do epílogo da Parte I


Com o coração pulando, Josephine bateu sutilmente na porta do quarto de Owen Arthuros, seu tão pavoroso futuro. Margaret, ao seu lado, lhe lançou um sorriso encorajador. Josephine com certeza passava muito mais medo do que Owen, e isso porque a garota de cachos alaranjados não era nada assustadora.

- Pois não? – um jovem de cabelos pretos até o maxilar e olhos azuis lhes atendeu. A controladora de água quase soltou um suspiro de alívio. Afinal, ele não era assim tão velho!

A situação suspensa do não-agir, que Margaret sabia que se estenderia por longos segundos, fez sua animação arremessá-la para a frente da menina.

- Senhor Owen! – pegou ela pelos braços e lhe trouxe para a vista do cavaleiro - Josephine de Favian, a encantadora filha de duque Ethan – e fez uma pequena mesura.

A ruiva referida tentou sorrir, quase rindo com a palavra "encantadora". Aquela ideia maluca tinha sido de Margaret, já ela apenas pretendia ver seu futuro... esposo no casamento - ou qualquer evento social que viesse antes disso.

Owen tentou sorrir também, os cantos levemente arqueados. O peito de Margaret inflou ao pensar que ele continuaria a conversa, mas não. Disse apenas:

- É um prazer conhecê-la, senhorita – sem mais nem menos. Afinal, se Anne estivesse aqui, ela perceberia a clara expressão de seu irmão que confirmaria que aquela visita não fora um real deleite.

Margaret até notou, porém preferiu ignorar.

Também não deveria ter esperado muito de Owen, ao mesmo tempo que a insegurança do rapaz a fazia nutrir um carinho fraternal por ele, aquilo às vezes lhe irritava. Ele nunca tomava iniciativa! Não que ela fosse uma perfeição nesse quesito, mas...

O futuro casal se fitava de uma forma um pouco desconfortável. E é claro que também encaravam Margaret esperando que ela quebrasse aquele silêncio constrangedor. E o que ela podia falar?! "Senhor Owen, Josephine não é encantadora? Olhe esses cachos!". "Senhorita Josephine, Owen não é uma graça? Olhe a sua falta de jeito!". Não, é claro que não.

Espera... Pensando no que pensou, Margaret se incomodou em atribuir naturalmente uma característica física a Josephine e não a Owen. Chegou à conclusão de que era porque não a conhecia direito, porém ao mesmo tempo não parecia ser só isso.

Os três miravam-se em um looping. O ciclo não dava sinais de que acabaria tão cedo.

Ainda bem que o bom-senso de alguém deu um fim naquilo:

- Foi um prazer conhecê-lo também – Josephine fez uma mesura, gesto o qual, ao rapaz tentar retribuir, foi respondido por um quase tropeção dele. Margaret controlou uma gargalhada galhofeira, contudo não pôde evitar um arquear sutil de seus lábios. O escudeiro era muito atrapalhado mesmo! A filha do duque encarou a jovem na sua diagonal – Não temos outros assuntos a tratar, senhorita Margaret?

- É claro! – que não.

E as duas rumaram para longe do silêncio de suas próprias bocas, para longe do desconforto de um ar ausente de notas.

Josephine encontrava-se sozinha em seu quarto, imersa em outro de tipo de silêncio, de turbilhão mental, quando sua boca parece voltar-se para si. Margaret percebera a necessidade da garota e, depois de mal andar nos corredores sem rumo nenhum e com um tédio muito grande para a quantidade de disposição com a qual tinha acordado naquele dia, resolvera assistir Matilda treinar. Ufa! Seu fôlego também se esvaiu como a paciência de Margaret?

Nuvens são Alexandritas - Metamorfose Bicolor [EM PAUSA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora