29 - Fugitivos por uma noite: o zelador irritado!

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Certo, você pode me chamar de estranho por fazer todo esse esforço pela Sophia. Mas era realmente necessário, eu só não imaginava que seria tão complicado.

Escalei um muro protegido por uma grade elétrica, me esgueirei pelo bosque longe dos olhos dos seguranças e até pensei em me disfarçar de faxineiro juntamente de Natsuno. Isso sem mencionar o fato de termos entrado em baldes que cheiravam a produtos de limpeza!

Até aí tudo bem; tudo, de certa forma, estava se encaminhando razoavelmente – quando finalmente nos deparamos com uma situação inviável.

Natsuno e eu estávamos no gigantesco refeitório do colégio Martins, que estava infestado de faxineiros ambulantes. Homens e mulheres de diferentes idades limpavam as mesas e cadeiras ou esfregavam o piso branco do colégio, tudo em um só ritmo. Provavelmente estranhariam caso dois adolescentes aparecessem fantasiados com trajes pretos de espiões, uma vez que todos vestiam azul com listras verde e branco. A circunstância estava nos impossibilitando de completar a nossa super missão: encontrar os arquivos da Sophia, para então descobrirmos seu endereço.

- E aí Dio, o que nós vamos fazer? – Natsuno estava tão preocupado quanto a mim, pois logo daria oito horas e todos os portões se fechariam, nos deixando trancados na escola até o zelador ativar as luzes novamente, pela manhã.

Olhei cautelosamente para o amplo refeitório, pensativo. Havia mesas com cadeiras enfileiradas pelo canto esquerdo e pelo centro; à direita era um lugar vazio, perto da cozinha e do "local de briga" entre eu e os três grandalhões, há vários dias atrás. Pelo menos a base da escada era um local seguro, onde havia uma parede na qual poderíamos nos esconder tranquilamente – mas e se alguém surgisse do andar de cima?

O nosso destino – a ala da diretoria – situava-se do outro lado do pátio, depois das mesas, dos faxineiros, da cantina e da cozinha. Cerca de quarenta metros nos separava, uma distância não muito boa para quem precisava passar por todos aqueles obstáculos. Uma missão impossível, para resumir a situação. Não tínhamos outra escolha senão passar por entre os funcionários da limpeza e as mesas retangulares.

Natsuno me encarou com olhos inquietos, ainda esperando por alguma resposta, resposta esta que até eu mesmo queria. A única coisa que fiz foi ficar em silêncio, esperando por algum milagre.

Mordi os lábios inferiores, de tão nervoso.

De repente, a sineta da escola soou. Natsuno e eu estranhamos na hora, e notei que nem mesmo os funcionários entenderam. Um balbucio de perguntas se formou entre eles, interrompido pelo zumbido dos alto-falantes, um ruído como se uma estação de rádio não estivesse em boa sintonia.

- Todos os faxineiros do refeitório, favor ir para o pátio principal.

Ainda perplexos e estranhando, ninguém ousou desobedecer. Entraram na porta que dava no pátio e o refeitório ficou deserto, e me perguntei se aquilo era mais um milagre vindo de Deus.

- Você entendeu alguma coisa? – perguntei ao Natsuno.

- Nadinha, maninho, mas essa é a nossa chance. Vamos!

Rapidamente, nos esgueiramos em direção à diretoria à toda velocidade, pelo canto direito do refeitório, e Natsuno escorregou no piso molhado no meio do caminho, batendo a bunda no chão com força.

- Ai! – gritou, deslizando para frente sentado e fazendo cara de dor.

- Não grite! – adverti, olhando para trás.

- Foi mal. É que doeu... - Ele se levantou com dificuldade, sentindo dores, e não pude deixar de rir, fazendo-o ficar irritado. – Vamos logo!

Caçador Herdeiro (1) - Vento Sufocante | COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora