Cap 7

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Lorena

O dia amanheceu. Mesmo depois de seis horas de uma noite mal dormida, meu coração continuava a bater em um ritmo acelerado e minha pele estava enformigada onde seus lábios encostaram.
Porque ele tinha feito aquilo? Qual o motivo? Como brincava daquela forma?
Se ele me usasse logo como eu tinha me preparado, tinha sido cruel, mas talvez tivesse sido mais fácil. Já tinha acabado. Nada de demoras, brincadeiras sem sentidos, sentimentos.....
Meu Deus...coloquei as mãos sobre os lábios. Eu estava tão carente de sentimentos que estava me deixando se envolver por aquele homem sombrio. Precisa me afastar. Só que como, se era prisioneira?
O quarto tinha uma suite. Decidi tomar um banho para acalmar meus pensamentos.
Durante todo o dia, ele não apareceu. Fui deixada isolada e não me atrevi a colocar os pés para fora de lá. No horário das refeições, alguns empregados traziam alimentos em abundância e depois recolhiam os pratos.
Quando anoiteceu, acabei tomando outro banho e pegando no sono.
Acordei sem saber que horas eram, com alguém batendo na porta do quarto.
Levantei rapidamente, passei as mãos pelos cabelos para ficar com uma aparência melhor e corri para abrir, já que a pessoa em questão não tinha paciência e batia freneticamente.
- já vai- falei alto.
Dei de cara com Diogo, parado de cara amarrada, com os braços apoiados no batente da porta.
Pisquei algumas vezes na tentativa de recobrar os sentidos. Ele estava sem camisa! Os músculos perfeitos, a pela branca toda coberta por tatuagens negras me fizeram perder o fôlego.
Tentei focar em alguma, buscar no meio te todos aqueles desenhos, a compressão daquele homem incompreendido. Por fim desisti, já que ficar olhando causava sensações até então desconhecidas no meu corpo.
- que horas são?- eu tinha certeza que o dia não tinha amanhecido.
- hora que eu acordo. Se troque, estamos indo para o aeroporto. Tenho uma casamento e precisamos ir até o Rio. Como não posso te deixar sozinha, você vem comigo.
- sério isso? Eu posso continuar aqui trancada.
Viajar com aquele cara não daria certo, de maneira alguma. Eu temia por minha sanidade mental.
- olha, entenda que aqui você não tem opções. Além de tudo, vou me divertir como nunca. Aposto que você também. A próxima corrida é só daqui a cinco dias. Vamos ficar fora até lá e manter você livre de encrencas.
Senti um calafrio ao ouvi-lo falar da corrida.
Passei os dedos sobre os olhos, preocupada.
- como vai ser depois?
- não sei- falou sinceramente e com pesar. Ele se fazia de durão, só que se importava. Tenho certeza que sim- vou tentar ganhar as próximas, mas será impossível chegar invicto até o final. E aí, vai ser com você e seu jogo de cintura lá na casa dos outros caras.
Só de imaginar aquilo, meu estômago se embrulhava. Eu precisava lembrar do meu irmão para me manter firme se algo assim acontecesse.
- bom- ele falou me trazendo de volta para a realidade- vamos sair daqui a duas horas. Você tem alguma mala, coisas para levar?
Eu tinha muito poucas coisas. Era até vergonhoso.
- tenho. Vou organizar tudo. Estarei pronta.
Quando ele se foi, fechei a porta, me encostando nela.
Sem querer pensar mais no meu futuro sombrio, fui juntar minhas coisas e no horário combinado, já estava na sala esperando por ele.
- já chamei um taxi- ele apareceu falando- vamos com ele até o aeroporto para não ter que deixar o carro la. Vamos nessa.
Como sempre, reparei que vestia jeans, uma camiseta preta e tênis escuros. Ele combinava daquela forma. Fiquei pensando se colocaria um terno ou até um smoking para o casamento.
A ideia me fez sorrir. A imagem que formou na minha mente era tão sexy que corei
- porque está sorrindo?
- não te interessa- falei rapidamente.
Normalmente eu era bem mais educada. Só que eu estava imaginando ele de terno e nem sob tortura diria meus pensamentos.
- Realmente. Se os seus pensamentos não envolvem algo como nós dois nus, em uma cama, em cima de uma mesa, um tapete ou a combinação do três- ele parou de caminhar e me olhou sorrindo perversamente- realmente não me interessa.
Fiquei muda, vermelha e totalmente sem graça de pois do comentário.
Nunca tinha conhecido um cara que pudesse ser tão ousado e ficasse tão charmoso e irritante quanto ele fazendo isso. Era um misto de sentimentos que ele despertava em mim, que chegava a ser irritante.
Me peguei imaginando se aquilo também acontecia com as outras mulheres.
- melhor você parar de pensar em nós dois nus e entrar no taxi.
Olhei para a porta do carro aberta, me dando conta de que ele já tinha carregado as malas.
Sentei em um canto, esperando que Diogo se sentasse do outro, mantendo a distância.
Como tudo que ele fazia, me surpreendeu, se sentado no meio, tocando seu corpo no meu. Ele era alto e ficava desconfortável sentado naquele lugar. Pareceu não se importar.
Tentei quase não respirar durante o percurso.
O perfume dele era perturbador.
- porque prendeu o cabelo?- me perguntou, quebrando o silêncio.
- eu gosto assim- falei me desvencilhando de toda a explicação que vinha por trás daquilo.
- gosto deles soltos. Te deixam sexy para caralho.
- odeio parecer sexy- rebati irritada.
- como preferir, então.
Ele relaxou, se afastando um pouco de mim, tirou fones de ouvido do bolso e colocou nos ouvidos. A música era tão alta que eu escutava como se ela estivesse tocando no aparelho de som do carro.
Encostei a cabeça no encosto do banco, fechando os olhos.
Quando chegamos no aeroporto, ele me ajudou com minha pequena mala e o segui até o balcão de embarque.
Nunca tinha andado de avião. Seria minha primeira experiência, que em nada me animava. Aquele sonho era para uma viagem feliz, com uma família, alguém que eu amava; não para um passeio com um estranho para uma festa de pessoas desconhecidas.
Diogo me instruiu em todas as coisas, parecendo em alguns momentos até um cavaleiro, que eu sabia bem que ele não era.
Senti uma certa ansiedade quando o avião decolou. Por fim, me lembrei de todas as emoções da minha vida e aquilo era tão insignificante que decidi relaxar e aproveitar a vista maravilhosa que se tinha lá do alto.
Diogo continuou no seu mundo paralelo dos fones de ouvido, e mantendo assim quando descemos do avião, quando entramos no taxi no Rio de Janeiro, só os abandonando quando chegamos no porto.
Eu tinha a leve impressão de que ele estava evitando falar comigo. Ou era o seu estilo ignorar as pessoas.
Melhor assim!
Entraríamos no navio, ele cuidaria da sua vida, eu ficaria trancada no meu quarto sozinha e no final daquilo tudo, voltaríamos para São Paulo, sem grandes consequências.
Quanto mais falasse com ele ou ficasse perto, pior seria. Isso eu tinha certeza.
Tentei não ficar com a boca aberta, nem impressionada diante do tamanho e da beleza daquele navio. Foi impossível!
O negócio era gigante, com tanta beleza e glamour, que eu não conseguia quase mover os pés, hipnotizada por tudo.
- vem, deixa eu te ajudar- Diogo falou, pegando minha mão, me arrastando.
- não preciso da sua ajuda- puxei meu braço, irritada.
- então vem logo. Não a passos de tartaruga- revirou os olhos.
Acelerei meu passos e mesmo assim, só o alcancei quando chegamos no balcão do navio para fazer o check in.
- Diogo Gustaman- ele se apresentou, entregando um papel é um cartão de crédito- convidado do casamento de Meg e Leon Alster. Estou com uma acompanhante que não está na lista de convidados.
- sejam bem vindos- a recepcionista falou, digitando algo no computador- o quarto reservado para o senhor está com direito a acompanhante. Só preciso dos documentos da senhorita.
Arregalei os olhos diante da constatação. Eu e ele no mesmo quarto? Não? Sim?
- eu...eu...-desviei os olhos para o chão.
- não trouxe nenhum documento?- perguntou.
- sim, Diogo, trouxe. Só não acho uma boa ideia ficarmos no mesmo quarto.
Ele me encarou.
- não vou tocar em você. Esse navio já está lotado. Não tem outra opção.
- camas de solteiro?- me arrisquei a perguntar.
- camas de solteiro?- Diogo de virou e perguntou para a mulher que pacientemente aguardava nossa discussão.
- sinto muito, cama de casal.
- não....eu....isso é uma péssima ideia. Me deixa voltar para São Paulo?- olhei suplicante.
O desespero tomava todo meu corpo. Aquilo não tinha como dar certo.
Ele pendeu a cabeça, com a cara de piedade. Minha súplica deveria estar dando certo.
Até ele abrir o sorrio malicioso de sempre e se aproximar, sussurrando no meu ouvido:
- eu e você, no mesmo quarto, na mesma cama, com toda certeza é a ideia perfeita. Se lembra daquela pensamentos sobre nós dois nus?- senti meu ar faltar quando ele suspirou com a pergunta- então, poderei compartilhar todos com você lá dentro.
Sem se importar com nada, ele se afastou e continuo fazendo o check in.
A questão é que eu era um prêmio, uma pessoa qualquer de uma competição. Uma mulher que ele brincaria e se divertiria por uma noite.
Comigo seria diferente. Se ele me tocasse, seria como encostar no fogo, já que o simples olhar daquele homem entrava no meu coração.
Eu não poderia brincar com fogo. Não tinha não nada para destruir do meu ser. Já tinham destruído tudo.

Inexplicável amor  (degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora