27 - Neblina da morte

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Depois de um dia daqueles, eu acordei com a minha cabeça estourando. Olhei no relógio e ainda eram seis e meia da manhã. Billy ainda estava dormindo – em uma casinha que Karen fizera para ele no meu quarto – e, não conseguindo mais pegar no sono, decidi me levantar.

Tirei meu pijama e vesti uma roupa comum, depois desci para comer alguma coisa.

Na cozinha, peguei alguns biscoitos no armário e comi, sem nem ao menos me sentar à mesa. Billy apareceu, sem fazer barulho.

- Bom dia, amigão – o cumprimentei. Em vez de latir, Billy chegou até mim e esfregou sua cabeça na minha perna. Abaixei e o acariciei. Depois decidi que precisava refletir. Mas eu não estava com a mínima vontade de ir ao parque perto da minha casa. Não depois do que aconteceu ontem.

Pensei em um outro lugar.


Uma intensa neblina cobria a bela manhã de sábado, enquanto eu caminhava pela rua deserta do meu bairro, acompanhado do meu alegre cachorrinho vermelho. Não para estudar, eu estava indo à escola Martins, para refletir um pouco sobre a vida. No campus, especificamente.

Cheguei à praça e um filme passou pela minha cabeça. Eu me lembrei de quando vim ao colégio pela primeira vez, onde eu via jovens desconhecidos conversando e se divertindo entre si, todos uniformizados. Eu era apenas um estranho, sozinho, sem amigos. Ninguém me notava. Entrei na escola e me perdi entre os confusos corredores do primeiro andar. Tantos passaram por mim sem sequer tentar me ajudar, a não ser... a Sophia. Ela foi tão gentil e carinhosa que foi impossível não me chamar a atenção, e desde então eu não parava de pensar nela. Depois conheci o Natsuno, atualmente o meu melhor amigo. Ele era um cara de bem com a vida, sempre de bom humor. E um Caçador de Vampiros, assim como eu.

A neblina pairava sobre o ambiente, ainda, deixando a praça deserta e, de certa forma, um pouco sinistra. Caminhei em direção a um dos bancos de pedra do campus e me sentei, com Billy pulando no meu colo logo em seguida. Eu estava de fronte para o enorme edifício verde-claro de três andares da escola. O banco ficava na praça, que era separada da escola apenas por uma ruela – que era reservada aos carros dos pais que levavam ou buscavam seus filhos. A ruela de paralelepípedo era estreita, uma vez que nela só havia uma mão. No final dela, a avenida, à minha esquerda, esta já mais larga e movimentada. A observei e, me recordando de alguns dias atrás, lembrei do motoqueiro misterioso, que eu seguira por avenidas até aquele beco. Lembrei também de quando Sophia ia embora, pelo mesmo caminho, todos os dias. Senti um aperto no coração quando me lembrei dela.

Só depois de algum tempo eu percebi que, na outra ponta do banco, havia alguém sentado também. Era uma garota. Eu não conseguia ver quem era porque ela estava com o capuz da sua blusa rosa tampando as laterais do seu rosto e, ainda por cima, seus cabelos loiros ondulados escondiam sua testa numa franja.

A ignorei.

Comecei a pensar em Zoe e Sophia, em como me explicaria com ambas e no que havia acontecido. Um encontro entre as duas, e da pior maneira possível. Eu aguardava a resposta da Sophia quanto ao meu pedido de namoro, resposta essa que nunca chegou. Quando vi a Zoe chorando sozinha no parque, meu coração se entristeceu, e me senti no dever de tentar animá-la. Só não esperava que acabássemos nos beijando. Tampouco que a Sophia iria aparecer nesse exato momento. E agora as duas estavam decepcionadas comigo.

- Droga! – exclamei, mais uma vez sentindo raiva de mim mesmo.

E foi aí que me surpreendi...

Caçador Herdeiro (1) - Vento Sufocante | COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora