"Os velhos olhos vermelhos voltaram
Dessa vez
Com o mundo nas costas
E a cidade nos pés
Pra que sofrer se nada é pra sempre?
Pra que correr se nunca me vejo de frente?"Olhos Vermelhos (Capital Inicial)
Passar duas semanas dentro de casa, em plena harmonia com Ana e Matheus, foi maravilhoso. Era como se finalmente pudéssemos ser uma família de verdade.
O problema é que depois de duas semanas sem nem meter a cara na janela para olhar o tempo, as coisas começaram a ficar um pouco monótonas. Sabia que precisava liberar o acesso das visitas que insistiam em ligar, mas sempre que alguém ameaçava aparecer, inventava uma desculpa qualquer para não ter que receber ninguém em casa.
— Dor de cabeça outra vez? — Guilherme perguntou com ironia assim que atendi o celular.
— Não é isso. — Tentei desconversar. — Não tenho me sentido muito bem nos últimos dias.
Ana arqueou a sobrancelha em sinal de descrença ao ouvir meu último comentário. Ela estava sentada no sofá, esperando que eu desligasse o celular para tirar o seriado de época que estávamos assistindo do pause, e eu sabia que teríamos uma longa conversa sobre o assunto depois da ligação de Gui.
— O que foi? — Perguntei carrancudo assim que despachei meu amigo e finalizei a chamada.
— Nada.
— Não vai me dar um sermão? — Já estava preparado para as lições de "Como voltar a viver em três malditos passos", que ela me passava vez ou outra.
— Não amor. — Ana cruzou as pernas e voltou a encarar a televisão. — Você sabe o que faz.
Ali tinha coisa! Eu sabia disso!
Minha adorável namorada jamais perderia a oportunidade de me mostrar que estava sendo idiota, mas naquele fatídico dia ela parecia conformada com minha má vontade em sair na rua.
— Pode parando com a psicologia reversa, ok? — Esbravejei.
— A gente vai voltar a ver o seriado ou não? — Ana descruzou as pernas e as puxou pra cima do sofá, jogando-as despretensiosamente sobre meu colo. — Tô realmente interessada em saber como Henrique VIII vai fazer pra se livrar da "malditinha" da Ana Bolena.
— Para de desconversar, Ana.
— O que você quer que eu diga? Você não sai dessa casa há duas semanas, Alex. — Ela me encarou. — Sabe que temos consulta com seu médico daqui a dois dias, mas você não parece disposto a ir até o corredor, que dirá ir ao hospital para fazer uma revisão.
— Ele pode vir me atender em casa, não tem necessidade de ir ao hospital agora. — Rebati.
— Sim, ele pode, mas isso custa dinheiro.
— Então o problema é grana?
— Não! — Ana se irritou. — O problema é sua atitude! Você está saudável.
— Diga isso para minhas pernas então.
Observei satisfeito quando vi a expressão de minha namorada mudar, ela não estava tão calma quanto queria que eu pensasse. O rosto de Ana foi assumindo um tom de vermelho pouco a pouco, a ponto de parecer que tinha tomado muito sol. Ela estava realmente irritada, tive certeza quando fechou os olhos por alguns segundos e respirou fundo umas quatro, talvez cinco vezes.
— Não vou entrar nessa, tá bom? — Quando ela finalmente respondeu, parecia subitamente calma. — Acho que seria uma boa opção receber visitas, deixar que seus amigos venham em casa para conversar com você e talvez te convencer a sair um pouco dessa caverna.
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Kika vai ter um bebê! (Livro 2)
ChickLit#5 Literatura Feminina em 08/07/2017 Conheça o livro "O bebê do meu melhor amigo" que deu origem ao casal mais amado do Wattpad. (Não é preciso ler o primeiro livro para acompanhar esse) Já disponível também o spin-off "Contraditório" e saiba tu...