59. Dizer palavras de um futuro bom

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— Quando é que você vai resolver voltar pra casa? — Minha mãe desandou a falar assim que atendi sua chamada. — Até quando vai ficar nessa guerra de braço comigo, meu filho?

— Até o dia em que você desistir de tentar controlar minha vida. — Respondi com indiferença enquanto analisava um relatório.

— Tudo que falo é para seu bem, você não percebe?

— O que percebo é sua insistência em tornar as coisas difíceis entre Ana e eu. 

— Não é nada disso! — Ela parecia exasperada. — As coisas mudaram tanto desde a gravidez dela, você mudou também, acha que não percebi.

— Olha mãe... — Realmente não queria ter aquela conversa por telefone com Dona Teresa. — Não gostei das suas insinuações sobre eu querer me aproveitar da hospitalidade da Ana, não gostei da sua postura da última vez em que esteve aqui. Não gosto do seu tom de voz quando fala da Ana, nem do jeito que você costuma se dirigir a ela.

— Não fiz nada demais! — Ela se exaltou um pouco.

— Você nunca faz. — Cocei a cabeça e fiz algumas anotações de rodapé no relatório.

— Só não concordo com o jeito que você trata a Clarice, que é a maior vítima nessa história toda.

— Você sabe que terminei o namoro com a Clarice. — Repeti a informação pela vigésima vez, na esperança que dona Teresa assimilasse. — Esquece a Clarice, não temos mais nenhuma ligação.

Minha mãe não respondeu. Era minha deixa.

— Tenho muito trabalho pra terminar, preciso ir. — Falei de uma vez.

— Filho?

— Sim.

— Eu te amo. — Senti uma fisgada no peito com as palavras carinhosas da minha mãe.

— Te amo também, só tô chateado com você agora.

Encerramos a ligação e uma dorzinha de cabeça se instalou.

Não tinha mais desculpas para dar a Ana que nos impedissem de ir até Petrópolis. Ainda achava que nosso filho era pequeno demais pra encarar uma viagem daquelas, mas ela estava sendo bastante criativa nas tentativas de me convencer.

— Você é impossível! — Falei quando encontrei uma mensagem desenhada no espelho do banheiro com batom. 

Ouvi sua risadinha marota de dentro do quarto, e balancei a cabeça quando li outra vez:

"Quem eu tenho 

que chupar para 

te convencer 

a viajar?"

Ela estava me deixando realmente maluco. Ainda estávamos sem fazer sexo, aquilo só podia estar subindo para minha cabeça. Entendi que apesar de toda vontade, ela ainda não confiava o bastante em mim. Por um lado era bom, mas por outro era um inferno. Meu humor não andava muito bom, era difícil conviver com a dor.

— A única pessoa que você vai colocar essa boquinha sou eu. — Avisei assim que deixei o banheiro.

— Não promete o que não pode cumprir, bonitão! — Ela provocou.

— Ah é? — Ameacei. — Vem cá que eu te mostro quem não pode cumprir!

Ana saiu correndo para o corredor e se trancou no quarto do Matheus.

Kika vai ter um bebê! (Livro 2)Where stories live. Discover now