Sobrevivendo no fim do mundo - Livro 2

Capítulo 3 - Na estrada

Segunda-Feira

16 de novembro de 2026

 Dia 361  

Prezado Diário,

Agora é um pouco depois da meia noite e estou sem sono algum. Minha garganta está doendo, meu nariz está trancado e meu corpo está completamente mole. Esses sintomas são sinais de que o vírus finalmente me pegou ou de que finalmente as condições climáticas estão se reajustando e que meu organismo está tendo dificuldades para se adaptar a isso (Eu honestamente torço para que seja a segunda opção).

Marcus e Isla estão dormindo no banco de trás da cabine do caminhão e, eu só parei para escrever isso, pois minha cabeça está doendo demais para dormir e Alice me fez largar o volante para que ela pudesse dirigir. 

Estou com medo.

Acho que essa é a primeira vez que admito isso, ou pelo menos a primeira vez que me lembro de estar admitindo isso, mas é a verdade. 

Toda a situação com a morte do Tommy foi muito traumática para mim, porém serviu para me trazer de volta a realidade. Desde aquele dia não tenho mais devaneios sobre minha antiga vida com Ella ou sobre nosso bebê natimorto. 

De alguma forma, a morte daquele garotinho foi o gatilho que eu precisava para evoluir nesse novo mundo, mas diante da situação que se apresenta a minha frente hoje, eu seria completamente idiota se não admitisse o quão petrificado estou.

Dentro de algumas semanas finalmente vou descobrir como é ser pai. 

Isso também me dá medo, e em parte é o motivo de eu estar omitindo dos outros o quão mal realmente estou, pois me forçariam a tomar algum remédio, e nosso estoque de medicamentos está seriamente limitado. 

Eu não posso usar nada do estoque, ainda mais sem saber qual surpresa que meu filho ou filha pode trazer consigo.

***

Paolo engoliu em seco, fechou o caderno surrado e acariciou o barriga de Alice enquanto sorria para ela.

Tudo havia passado tão rápido...

Ele, Marcos e Isla, haviam pego a estrada depois de todas aquelas mortes, sem ter um rumo específico, com o único intuito de ir para longe de tudo aquilo, e então, após algumas semanas eles havia encontrado Alice vagando por uma rodovia, indo em direção ao que costumava ser a cidade de São Paulo.

Nada importava agora. Tudo o que importava era que ela e Paolo estavam juntos e que em breve teriam um bebê. Seria possivelmente a primeira criança desse novo mundo, o que alegrava e entristecia Paolo ao mesmo tempo, pois o futuro seria cruel com aquela criança.

Alice notou que Paolo estava um pouco apático, então colocou seu pendrive no rádio e apertou o play na música Your Song da Rita Ora, em uma versão em que ela cantava com o Ed Sheeran. 

Paolo sorriu, é claro que ela colocaria aquela música. Ela nunca se enjoava daquela música. 

_Ali... O que vamos fazer? 

_Não quero pensar nisso. E antes que alguma palavra saia de seus lábios, eu sei o que você vai dizer, que nós temos que pensar nisso, que é algo importante, mas eu realmente não quero ter que pensar nisso, não agora.

Ela afastou seus cachos louros do rosto, exatamente da mesma forma que Ella costumava fazer quando tentava evitar um assunto.

_Ali... Eu não quero perder outro filho.