Capítulo 2 - Sem Comunicação

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A luz vermelha tornava tudo na estação uma versão macabra da realidade

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A luz vermelha tornava tudo na estação uma versão macabra da realidade. 

Rafael tentou puxar em sua mente o que havia sido falado no treinamento sobre o significado daquela luz, mas o som da sirene estava dificultando a passagem de suas memórias. 

Kwan saiu correndo pelo corredor, e vendo que suas alternativas estavam limitadas, Rafael o seguiu.

_O que significa isso?

_Eu não sei. Essa luz só deveria ser acesa em caso de emergências. Só pode ser algo ruim.

_E quais são as nossas alternativas?

_Se for realmente algo ruim?

Rafael fez que sim, com medo de dizer as palavras em voz alto e elas se tornarem realidade. Kwan parou e encarou seu colega.

_Se for algo ruim não creio que haja muito o que possa ser feito. Talvez possamos fugir daqui, mas tendo em vista que não temos suprimentos e que não sabemos se o vírus nos faria algum mal, nossa melhor chance seria rezar por uma morte rápida.

Aquilo pegou Rafael de surpresa, o fazendo parar para analisar as alternativas enquanto Kwan continuava correndo como louco pelos corredores da estação. 

Infelizmente Rafael só percebeu tarde demais que não deveria ter parado. A porta da seção onde ele estava se fechou e todas as luzes ao seu redor se apagaram completamente, o envolvendo no mais puro breu enquanto uma voz mecânica desdenhava dele com uma informação cruel em vários idiomas.

Atenção habitantes da Estação Salvation, para sua segurança todas as seções não vitais estão sendo isoladas e desativadas por tempo indeterminado. Recomendamos que todos se dirijam ao compartimento central da estação o quanto antes.

Em seguida a gravação foi repetida em inglês, koreano, espanhol e nos demais idiomas da tripulação, mas isso não importava, pois Rafael estava preso, sem luz e, ele temia, sem aquecimento.

***

O silêncio é, possivelmente, a pior coisa que pode rondar um ser humano, fazendo-o enlouquecer antes que sequer perceba, sem ao menos ter a chance de se libertar do medo crescente que infla em seu peito a cada respiração.

_Rafael acalme-se.

O som da própria voz era tudo o que ele tinha naquele momento, mesmo sem saber se isso o ajudava ou apenas prejudicava.

_O que eu faço? O que eu faço? O que eu faço?

Seu passos ecoaram pelo chão gelado. Suas próximas ações eram decisivas. Ele não podia se dar ao luxo de parar para analisar a situação com calma, pois o ar a sua volta já começava a ficar gelado. Seu corpo tinha que se manter em movimento para não esfriar. 

_Eles vão acabar se dando conta que não estou com o grupo e vão vir atrás de mim.

Mas, e se ele não fosse o único que havia ficado para trás? E se ninguém tivesse conseguido chegar ao compartimento central?

_Não! Eu não posso ser pessimista agora... O que eu faço?

Seu corpo já começava a tremer e seu queixo estava batendo descontroladamente. Ele tinha que fazer exercícios.

Lentamente Rafael começou a fazer polichinelos, o treinamento mais básico e possível naquele momento. Isso faria seu sangue circular, aumentaria sua temperatura corporal e clarearia seus pensamentos.

Após quinze minutos ele já conseguia ver as coisas de forma mais acertada. E se simplesmente batesse na porta? O som talvez guiasse seus colegas até onde estava.

Ele tateou na escuridão em direção à porta e começou a bater com as mãos, mas provavelmente aquele som não era alto o suficiente, isso se sequer estivesse chegando até o outro lado.

A euforia do exercício começava a passar e seus músculos já se entorpeciam devido ao frio.

Esse seria o seu fim?

_Eu não quero morrer aqui...

Em sua mente Rafael visualizou suas filhas e ele fez uma prece silenciosa para que ainda estivessem vivas.

Uma lágrima rolou por sua face, fazendo um arrepio percorreu seu corpo. Ele se agachou no canto próximo a porta e respirou fundo, abraçando seu corpo e tentando manter o calor, mas já não sentindo as pontas de seus dedos.

O relógio em seu pulso parecia uma pedra de gelo, mas o som dos ponteiros chamou sua atenção, o tirando da nuvem de pensamentos e fazendo-o concentrar-se naquilo. De uma forma ou de outra eles iriam encontrá-lo. Ele sabia disso. E enquanto isso, para se manter são sua mente ficaria focada naquele simples som que ecoava pelas paredes.

Tic Tac... Tic Tac...



Sobrevivendo no fim do mundo - Livro 2Where stories live. Discover now