— É delicioso. — Falei ao notar que esperava a minha aprovação. — De verdade.

— Que maravilha! Azule vai ficar muito contente quando ver que sua receita agradou o paladar da princesa!

— Ah... ela sabe que estou aqui? — Não consegui disfarçar o desanimo.

— Sabe. Ela te viu, mas não se preocupe. Manteve o restaurante fechado para que você pudesse ficar sossegada.

— Não precisava ter feito isso! Não vai perder clientes? Aqui as coisas não funcionam na base de trocas?

— Não. O Ivan está financiando tudo. Achamos o que precisamos na floresta e não precisamos usar o sistema de trocas.

— Quer dizer que tudo isso é de graça?

— Exatamente. Ninguém é dono de nada e todos cuidam de tudo. É uma relação de ajuda mútua.

— E está dando certo?

— Por enquanto, sim. Alessia, algo me diz que você não veio aqui só para comer.

— Não. Vim te perguntar umas coisas também.

— Então, pergunte. — Disse, sorrindo.

Não poderia dizer quem me informou sobre o feitiço da memória e teria que inventar uma maneira pela qual pudesse ter descoberto. Tudo bem. Poderia mentir um pouco pelo bem de alguém.

— É verdade que usaram um feitiço da memória em mim? — Tentei manter uma expressão séria e seu sorriso desapareceu.

— É verdade sim, mas como foi que soube?

— Pesquisei os sintomas que estava tendo e deu nisso. Por que usaram esse feitiço?

— Acho que não queriam que você soubesse de algo.

— Como, por exemplo, que o Mestre das Sombras morreu.

— Você... — estava realmente pálida — você sabe?

— Sim, eu sei, mas pelo que entendi ninguém queria me contar. O que vocês acharam? Que iria ficar chorando pelos cantos por que um traidor havia morrido?

— Você não sabe... — sussurrou com um olhar de pena.

O que disse? O que não sei? — Apoiei os cotovelos na mesa.

Ela se levantou de repente e disse que não poderia mais conversar porque tinha que abrir o restaurante. Já havia entendido que não queria me dizer alguma coisa que sabia, mas não adiantaria tentar arrancar a informação. Se não quisesse contar, não iria obrigar.

Saí do restaurante e cobri novamente o rosto com o capuz do manto mágico. Não precisaria ter me disfarçado de camponesa para sair do castelo ou andar pela vila. Ninguém teria notado, já que estava encoberta pela magia.

Fiquei vagando pela vila e observando as outras criaturas em mais um dia comum de suas vidas. Comecei a pensar por quanto tempo suas vidas estariam tranquilas assim, com a ameaça de Leslie ainda viva, controlando Fantasy. Mesmo que estivesse longe dali no momento, havia o portal que poderia trazê-la para a ilha quando bem entendesse.

Por que ainda não havia nos atacado? Será que pensava que seu querido Mestre das Sombras ainda estava destruindo a vida dos fugitivos? Ou será que já havia calculado que tentaríamos voltar para salvar as criaturas que ficaram? Tudo dependeria do funcionamento do poço e de saber se era mesmo o portal que procurávamos.

Teríamos essa resposta hoje à noite e junto teria uma solução própria para o problema da ameaça de Leslie. Matá-la era a única maneira de impedir que seu reinado de maldades viesse a se espalhar e, se voltasse para Fantasy um dia, seria para enfiar aquela espada de sangue no coração dela.

MagicWhere stories live. Discover now