Precisei ir ao Café para acertar alguns detalhes da tarde de autógrafos e Lúcia foi comigo. Ela não tocou mais no assunto "aquele carinha é seu irmão", porém notei um sorrisinho ardiloso ao canto dos seus lábios. Maldita Lúcia! Era óbvio que eu e Fabien não tínhamos nada a ver um com o outro. Eu era nativa, caiçara, praiana, enquanto ele era um francesinho construtor de iates, cujo pai tinha incríveis alhos azuis penetrantes. Aliás, o próprio Fabien tinha olhos lindíssimos. Já eu... eu tinha olhos castanhos, como a maioria da população brasileira.
Ainda assim, quando ligaram da gráfica e disseram que o office-boy estava a caminho para entregar o banner que encomendamos, tratei logo de incumbir Lúcia de recebê-lo e me apressei em ir à sala de Benjamin. Bati na porta rapidamente e girei a maçaneta. Para minha surpresa, ela não estava trancada.
— Olá, meninos. — Coloquei apenas a ponta da cabeça para dentro.
— Entre, gata — Fabien disse e sorriu de modo cordial, porém Benjamin arregalou os olhos, como se eu os tivesse flagrado.
— Atrapalho? — Entrei, mas me mantive parada ao lado da porta, que ainda estava entreaberta.
— Não... — Ben respondeu, seus olhos ainda arregalados.
— Claro que não! — Fabien deu um salto do divã e veio até mim, tocou em minha cintura e fez um sinal com a cabeça, do tipo, "vai lá". Depois me empurrou à frente, pelos ombros, e fechou a porta. Eu avancei em direção a Benjamin e fiquei na ponta dos pés para beijar seus lábios.
— Que bom que você está aqui — ele disse, respirou fundo e, enfim, sorriu.
— Também achei ótimo você ter vindo, Amel. — Fabien caminhou até perto de nós e colocou uma das mãos em meu ombro e a outra no ombro de Benjamin. — Conta pra ela, Ben...
Olhei para Benjamin. Ele havia fitado os olhos em Fabien. Em sua face, uma estranha expressão de negativa.
— Conta! — Fabien insistiu.
— Agora não...
— Oi? — Balancei as mãos diante deles. — Eu estou bem aqui, entre vocês dois. O que Benjamin deve me contar, Fabien? E por que agora não, Ben?
Os dois se entreolharam. Enquanto Benjamin parecia engolir em seco, Fabien ria.
— Não é nada de mais — Ben respondeu.
Não acreditei. Se fosse algo simples, para que todo aquele suspense?
— É o seguinte, Amel...
— Despedida de solteiro — Fabien interrompeu a fala de Ben. — É isso.
Olhei para Benjamin. Estranhamente ele parecia tão chocado com a resposta de Fabien quanto eu.
— Eu propus ao Ben que te incentivasse a arrastar Julienne para Salvador no próximo fim de semana, pra que vocês duas pudessem fazer coisinhas de mulher lá no flat, enquanto eu, ele e Rafael fazemos uma festa. — Voltou a rir e começou a fazer a mesma dança maluca que fizera no meio do Fly do iate Ariadne no dia em que nos conhecemos. — Mas não se preocupe, ele só vai tomar algumas cervejas, um pouco de vinho, talvez algumas doses de caipirinha... Não vamos deixar que ele toque nas meninas.
YOU ARE READING
Asas de Vidro - Quimera - Livro 2
Science Fiction"Onde estará Vincent?" É o que Amélia pensa quando acorda e percebe que está sozinha, com um livro descansado sobre seu peito, pesando e causando a sensação de que algo está muito errado. Benjamin viajou contra sua vontade e ela terminou, mais uma v...