Capítulo 1

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Vila de Cacha Pregos

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Vila de Cacha Pregos. Domingo de Páscoa, 31 de março de 2013. Acordei no meio da tarde, sentindo um enorme peso sobre meu peito. Ergui a mão direita devagar e descobri que fora esmagada por um mero livro fino. "Le Roman d'une Princesse", o título. Tirei-o de cima de mim e sentei-me no meio da cama, ainda um pouco zonza. Virei a capa e folheei rapidamente as páginas. Como numa espécie de captação hipnótica, notei algumas palavras em destaque, que formaram a seguinte frase em minha mente:

Eu preciso de você, minha princesa.

Parei de ler de imediato. Isso me fez lembrar Vincent.

Estávamos conversando na cozinha, comendo chocolate, falando sobre o dia em que fomos parar na pousada em Barra do Gil, e então... nós dois no corredor, na sala, no quarto, na minha cama!

— Vincent?

Sem resposta.

— Que tal pararmos com essa brincadeira?

Mas ele não diss­­e nada. Percebi que estava sozinha e me levantei num rompante. Era óbvio que acontecera de novo.

Troquei de roupa depressa e saí. Cacha Pregos estava bastante movimentada, mas, assim como na noite de quinta-feira, ninguém pareceu se importar com minha presença. Eu caminhava a passos largos, cortando diversas ruas em meio ao som agitado e exagerado das músicas sazonais sem nenhum sentido cultural. Cheguei ao hotel em que Vincent e Pauline costumavam ficar hospedados e perguntei por eles na recepção. Nenhum dos dois estava lá.

Continuei caminhando pela praia, agora meio sem rumo, durante cerca de duas horas. Por fim, sentei-me no mesmo lugar onde os gringos improvisavam a barraca com a enorme lona azul e, certa de que não havia ninguém capaz de me explicar o que acontecera entre mim e Vincent, chorei.

Porque estava sem rumo. Porque estava com medo. Porque estava com raiva!

Larguei-me na areia, fechei os olhos e dormi. Acordei com um vento gélido soprando sobre meu corpo. Havia anoitecido e eu estava envolta por um negrume denso. Ao longe, vi as luzes do resto da festa que faziam na praça principal. Ergui-me do chão, sacudi a areia do meu corpo e retornei.

Passei pelo mesmo local em que avistara Igor e Gina naquela que agora parecia a minha última noite de lucidez, porém eles também não estavam lá. Nem mesmo Repolho, o cachorro mal-cheiroso, resolveu dar o ar da graça para mim.

Segui adiante, de volta para casa. Assim que passei pela frente do posto policial, um cara alto e forte, de cabelos castanho-escuros, lisos e um tanto crescidos, saiu de trás de uma árvore e encarou-me com certa intimidade. Desviei-me dele, mas, meio segundo depois, ele adiantou o passo e me interceptou.

— Saia da frente, idiota.

Ele sorriu!

Empurrei-o com força pelos ombros, mas ele era tão robusto que nem ao menos se moveu.

— Não vou pedir outra vez...

Parecendo não haver se intimidado, o imbecil mergulhou com um sorriso faceiro em minha direção, como se fosse me beijar. Irritada, ergui o braço direito e estalei firmemente a mão em sua face.

— Amel! — ele reclamou atônito. Então o fitei melhor e, voilà, era ninguém menos que...

— Benjamin?!


Asas de Vidro - Quimera - Livro 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora