26 - Um encontro um tanto desagradável

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Enquanto voltava da escola, eu tentava imaginar qual seria o quarto passo do meu treinamento com o tio Michael.

No primeiro, fui obrigado a ficar de pé num rio calmo e raso. Aparentemente era fácil. Só na teoria mesmo. Além de ter sido difícil eu me equilibrar nele, quase morri afogado. Quase – graças a uma alma de anjo no meio da água eu meio que consegui forças para me salvar.

O segundo passo era conseguir sair da floresta intacto. Opa, esqueci de mencionar que eu estava sendo perseguido, e por um cachorro gigante! Consegui completar o segundo passo, e até ganhei uma recompensa: o cachorro gigante. Que na verdade era pequenino. Estava gigante porque ele não era um cachorro comum, e sim um cachorro que podia crescer, assumindo uma forma robusta que o meu tio chamava de "Modo Ataque".

Já no terceiro passo foi um pouco mais complicado, pois eu tinha que sair debaixo do Billy na sua forma grande. Ele era pesado feito uma montanha, então você já viu, né? Dizendo o meu tio que a única maneira de eu me safar era ativando o meu modo de alerta (ou algo do tipo). E eu acabei conseguindo. Depois tive uma luta com o meu tio, que se transformou em um tigre lutador, literalmente. Rápido e forte, ele estava mesmo irreconhecível e "inacompanhável", mas com uma ajudinha básica do Billy, acabei conseguindo vencê-lo – façanha esta que eu duvidava que conseguiria novamente.

Isso tudo aconteceu em uma semana. Claro que não foi só isso. Tinha também o meu lance com a Sophia. Na segunda-feira tentei me explicar com ela sobre minha ausência no nosso encontro, e a única coisa que recebi foi desprezo. Decidi então me declarar, e fiz isso na terça. Até a pedi em namoro, e sem dar a resposta, Sophia começou a me evitar.

Como se não bastasse, não compareceu à aula nos últimos três dias, e isso começava a me preocupar. Não seria possível que o motivo fosse eu, ou seria? De qualquer forma, ela não ficaria ausente para sempre; uma hora teria que aparecer, e então eu saberia sua resposta.

Definitivamente, eu estava desanimado com esse assunto. Não estava sendo fácil.

Billy estava parado diante da porta da minha casa, como se estivesse me esperando há muito tempo. Eu tentei entrar, mas ele rosnou.

- O que foi, amigão? – eu perguntei, olhando confuso para ele.

Billy latiu, e depois correu em direção ao parque. A princípio eu hesitei, mas presumi que havia algo a mais ali e decidi segui-lo. Apesar de pequeno, Billy era rápido, chegando a ser cômico os movimentos das suas patas vermelhas. E então me surpreendi.

Sentada no mesmo bando de sempre, Zoe chorava discretamente. Billy olhou para mim, e percebi o que ele queria. Vendo a garota triste daquele jeito fez eu me sentir péssimo, inúmeras coisas passando pela minha cabeça, tudo apontando que tinha a ver com a não-reciprocidade dos nossos sentimentos. Eu me aproximei e ela me notou. Os olhos esverdeados da garota se arregalaram imediatamente, mas ela nada disse, apenas desviou o olhar. Mas era tarde. Ela sabia que eu já havia visto suas lágrimas. Eu perguntei:

- Você... está bem?

Eu sei que foi uma pergunta estúpida, mas poxa, eu não sabia o que dizer.

- Eu pensei que você estava na escola – foi a sua resposta, Zoe carregando uma voz trêmula, embora tentasse disfarçar.

- Hoje tivemos um jogo durante a aula – expliquei. – Posso me sentar?

Ela fez que sim suavemente, ainda sem me olhar, e eu me sentei, tirando a mochila das costas e a colocando ao meu lado, onde Billy se deitou. Devido ao horário, o parque ainda estava vazio, tanto na região dos brinquedos quanto na quadra de futebol. E antes que o silêncio predominasse – como sempre acontecia –, eu disse:

Caçador Herdeiro (1) - Vento Sufocante | COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora