Nos dias atuais

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Vamos votar e comentar pessoal, aguardo a opinião de todos...

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Mais uma vez o doutor me encarava friamente, como se eu estivesse arruinado algumas de suas experiências. Já era a quarta vez que eu estava sendo internada em seu manicômio, todas as vezes que ia para lá, não ficava nem seis meses internada. Eles chegavam a conclusão que eu não tinha nenhum diagnóstico de distúrbio mental e me liberavam novamente. Eu não ficava nem um ano livre nas ruas, sempre cometia pequenas atitudes insanas como conversar sozinha, ás vezes, xingar as pessoas, mas isso era aceitável dentro da minha comunidade e do mundo em que vivemos hoje em dia, na verdade, isso até era considerado normal, estavam acostumados.

As coisas só se agravavam quando eu chegava ao ponto de agressão física, muitas vezes eu tinha ataques violentos de fúria, infelizmente, quem sempre acabava sofrendo as consequências eram meus pais, sempre machucava um dos dois, ou os dois.

- Já está se tornando um habito você aqui Kayta. – O doutor falou olhando diretamente em meus olhos, pude perceber um certo rancor em suas palavras.

- Eu não sei nem porque vocês me liberam, sabem que não estou bem. – Mantive minha cabeça baixa, as lágrimas dominavam meu rosto.

- Muito pelo contrário, você sabe que não tem nada de errado. Acho que você só faz isso para chamar a atenção. – Ele se levantou da cadeira e começou a caminhar ao redor do meu corpo, me analisando dentro daquela camisa de força.

- Me desculpa, mas você está louco? Eu não tenho ninguém para chamar a atenção.

- Não mesmo? Talvez do seu ex-marido, dos filhos que não suportam conviver com você.

Isso nunca tinha acontecido, o que estava havendo? Um médico renomado jamais poderia falar dessa maneira com seus pacientes, estou louca? Será que ele não enxerga isso, tocar nesse assunto só vai piorar as coisas, ele sabe que ainda sofro muito pelo meu passado.

- Você não sente saudade da vida perfeita que levava? – Ele perguntou. Isso estava me soando como uma séria provocação, dessa vez, acho que ele realmente queria testar minha sanidade. Se as lágrimas estavam prestes a cessar, agora elas eram botadas para fora com toda e pior dor que o ser humano pode sentir, a traição.

- Claro! Como você acha que me sinto, já foi traído alguma vez doutor? Imagino que não. – Me calei, não queria levar aquilo adiante, as feridas ainda não haviam cicatrizado, talvez nunca fossem cicatrizar.

- Bom, nunca fui traído até onde eu sei. – Sua expressão pareceu estampar um sorriso, mas não pude definir, preferi continuar de cabeça baixa.

- Tem sorte doutor, já agradeceu a ela por nunca ter te traído?

- Não, acho que não existe essa necessidade. – Pelo tom em que as palavras saíram de sua boca, sendo espalhadas pelo ar demonstrando um certo incomodo, pude perceber que a conversa estava chegando ao fim.

- Às vezes, bom caráter não precisa de agradecimentos não é mesmo. Afinal, isso é uma questão de escolha. – Minhas palavras saíram ríspidas, atingindo alguns dos valores morais que poderiam existir ali, como um tapa na cara daquele homem.

- Acho que terminamos por aqui, vou mandar te medicarem e livrarem você dessas amarras, sei que não vai causar nenhum problema, não é mesmo? – Senti a tensão de suas palavras saindo livremente, percebi que tudo o que ele queria, era se ver livre de mim naquele momento.

Eu odiava estar ali naquele lugar, só tinha gente doida. Pode até parecer ironia, mas eu não era nenhuma doida, meus problemas eram outros, minha dor era outra, não era um distúrbio mental diagnosticável por qualquer médico que fosse.

Entenda uma coisa, eu tinha a vida perfeita, era a mulher perfeita. Uma mãe completamente dedicada ao lar, a seus filhos e a família. Nenhum homem poderia jamais reclamar de mim, minhas atitudes, meus gestos, tudo era movido somente para minha família.

Sabe, em muitos momentos eu me arrependia de ter abandonado meus pais. Não, não me julguem ainda, como disse anteriormente vamos conhecer a história, depois vocês tirem suas próprias conclusões.

No colégio eu me apaixonei por um cara, essa paixão me consumiu e tomou conta de mim, desisti de meus sonhos, da minha faculdade, tudo para acompanha-lo, tudo para ser o apoio que ele precisava para realizar seus sonhos. Os meus, ficaram para traz, meus sonhos se tornaram os sonhos dele.

Vocês devem saber que realmente existiu amor, nos casamos, tivemos dois filhos, um casal, eles eram maravilhosos. Eu realmente tinha uma vida perfeita, era uma mulher feliz, uma mãe realizada. O problema foi que para essas coisas acontecerem, eu tive que sair da pequena cidade do interior de Minas Gerais e ir para uma cidade maior. Foi justamente nesse momento da minha vida que perdi o contato com meus pais, ou pelo menos diminui, devido as circunstâncias.

Com a mudança, não tinha condições de viajar sempre que tinha vontade, eu tinha minhas obrigações, tinha um lar e um marido para cuidar, mas ligava para eles quase todos os dias. Meus pais foram maravilhosos para mim, nunca vou me esquecer disso, a não ser nesses momentos de fúria em que eu perco totalmente a razão, e quando acordo, sempre tem um deles machucado. A questão é que meu casamento, por mais que eu tentasse, depois de um certo tempo não estava dando certo. Eu queria muito permanecer casada, mas alguma coisa me incomodava todos os dias e todas as noites, já não estava suportando mais tudo aquilo.

Uma falsidade desprovida de sentimentos, uma rotina de vida que mais parecia a rotina administrativa de uma empresa. Foi nesse momento que comecei a desconfiar, minha melhor amiga já tinha me avisado, mas eu cega demais pelo amor, não dei ouvidos.

Amélia poderia estar comigo aqui e agora se a tivesse escutado no dia em que me alertara sobre tudo. Eu fui realmente uma pessoa inocente, uma pessoa movida pelo amor, um amor incondicional, esse sentimento por sua vez, só fez destruir meu coração.

Não importa o quanto sejamos felizes com uma pessoa, no final a dor sempre vence o amor. Vários momentos de alegria jamais compensarão um único momento de tristeza. Essa foi uma realidade que demorei muito a perceber, foi tudo muito rápido, eu fui boba demais, percebi muito tarde e paguei caro por isso.

Eu aprendi que a felicidade custa bem barato se for comparada com o preço da dor. Insônia, depressão, morte. Essas são algumas das coisas que custam caro, essas são as coisas que farão você entender o motivo de eu estar assim como sou hoje, considerada uma louca.

kaytaWhere stories live. Discover now