Lú escutava os gritos de sofrimento atrás de si, já havia começado o massacre. Ele tremia, estava horrorizado. Isso o fazia lembrar de alguns anos atrás, quando viu a sua família morrer.

Kainã girava os punhais no ar e os aparava novamente. Com aquela brincadeira, ele procurava ganhar tempo, estudando a fisionomia do garoto azul, que estava mais para um rato assustado. Ele sorria por trás da máscara e umedecia os lábios com a língua.

— Ainda vai se render, verme? — ele perguntou.

Como o trato não havia funcionado, Lú precisaria lutar para ao menos tentar proteger o restante das pessoas, mesmo com a carnificina já tendo começado. Ele não teria outra escolha, precisava combater aquele caçador, mesmo não sabendo se era páreo para ele. O garoto se manteve em silêncio, não ia responder aquela pergunta, mas o caçador nem mesmo esperava uma resposta.

E como esperado, as lâminas voaram na direção do garoto. Lú estendeu os braços automaticamente, abriu a palma das mãos e esticou os dedos. Para o seu alívio, um escudo apareceu à sua frente, ele pôde então se defender do ataque do caçador. A barreira mágica aparou os punhais voadores, porém, no momento do choque, o escudo rachou, trincando em vários pedaços e se espedaçando no ar. Lú ainda estava fraco, não havia se recuperado da sua última manobra.

Kainã sacou a espada que levava na cintura e nem esperou o garoto buscar uma arma ou outra defesa, ele partiu para o ataque. Lú estava de mãos atadas, não sabia o que fazer. O caçador era rápido e em um piscar de olhos a lâmina já cortava o ar à sua frente. O garoto se esquivou em um salto para trás, a ponta afiada da arma passou poucos centímetros longe da sua face e antes que pudesse recuperar o equilíbrio, o caçador já afundava a espada em seu peito.

O seguidor estava disposto a desmaiar Lú a qualquer custo, nem ao menos lhe dava tempo de se defender, e essa era a pior desvantagem. Diante daquela situação, o garoto se lembrou da espada em sua bainha na cintura e rapidamente a sacou, desferindo um golpe certeiro contra o caçador. Kainã se afastou, retirando a espada do peito do garoto.

Lú curvou o corpo com a mão no ferimento do peito. Ele estava ofegante e sua visão embaçada. Não sabia se ia aguentar outro golpe, estava fraco e não conseguia produzir outro escudo. O que ele faria para se defender? Precisava pensar rápido. Kainã avançava rapidamente com toda a sua fúria, quando o garoto se lembrou que podia voar.

E não perdeu tempo. Esticou o seu corpo e olhou para o céu. Ao menos isso não falhava, conseguiu flutuar antes que o caçador o partisse em dois. Lú atingiu uma certa altura, impossível de ser alcançado, então usaria esse tempo para se autorregenerar. Com isso, suportaria outros ataques e quem sabe produziria outro escudo.

Ele respirava com dificuldade, enquanto admirava a vista daquela altura. O tempo ainda permanecia fechado, mas a chuva fina persistia. O vento frio lá do alto arrepiava a sua pele e todo o seu campo de visão estava totalmente cinzento. Ele tentava relaxar, mas era impossível. A apreensão lhe trazia uma inquietude sem fim e a adrenalina atrapalhava o seu descanso, deixando os seus músculos em alerta.

Uma luz emergiu no alto da sua cabeça e Lú foi surpreendido mais uma vez. A ponta da espada atravessou novamente o seu peito e dessa vez foi atacado pelas costas. Ele cuspiu sangue e sentiu aquela dor agoniante novamente. O caçador segurou em seu ombro, forçando o peso do seu corpo contra o dele e instintivamente começaram a cair.

— Achou que poderia escapar? — ele perguntou sarcasticamente. — Estava enganado, verme!

Lú lutava contra a possível inconsciência. A sua mente queria apagar, mas ele não podia se deixar vencer ainda, mal tinha lutado. Seria ele tão fraco assim? O sentimento de inutilidade invadiu a sua cabeça e ele sentia que estava apagando. Pelo visto, havia falhado miseravelmente.

Legend - O Feiticeiro Azul ( Livro 1)Where stories live. Discover now