XX - O SEQUESTRO DO FEITICEIRO

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Lú suava por baixo daquele elmo de ferro. O seu peitoral não era bem ajustado, e isso causava um tremendo desconforto. Ele achava desnecessário usar uma armadura incompleta, seria mais viável continuar sem proteção alguma, afinal, aquela ferragem só incomodava. Otto ajeitava a sua aljava nas costas, enquanto Lú observava em silêncio e se questionava o porquê de ninguém o ter ensinado a atirar com arco e flecha.

Em um ano de treinando, Lú conseguiu aquele trabalho nas torres de vigilância, embora não se achasse digno. Néfi o avaliou e ficou impressionado com a sua capacidade de voar e projetar escudos, entre outras façanhas mágicas que ainda se desenvolvia. Isso foi meio injusto. Aquele trabalho era remunerado — não recebia grandes fortunas, mas era o suficiente para uma família de três pessoas — e Lú achava que outros garotos precisavam mais do que ele.

Em Luária, apesar de ser uma vila bastante organizada, ainda existia muita pobreza. Muitos garotos que concorreram a vaga de Lú vinham de famílias entregues à extrema miséria. O que ele recebia não era grande coisa, mas era o suficiente para ajudar nas despesas da casa, uma vez que morava com Karlo e sua família, e para ajudar algumas famílias miseráveis. Karlo o incentivava nisso, já que tinha noção da crise financeira que assolava Tandária por causa da guerra. Luária tinha os impostos exageradamente altos e isso causava conflitos.

Lú suspirou ao admirar a vista daquela altura. As águas tranquilas do mar tandariano lhe traziam velhas recordações. Há dois anos, ele se viu derrotado em areias como aquelas que seus olhos fitavam. A sua família e o seu povo tinham desaparecido, mas o seu pai poderia estar vivo por aí. E Lauren, que ainda insistia em levá-lo para Sabatow...

— Lú. — Otto o despertou do seu devaneio.

Lú olhou para ele, ainda entorpecido com aqueles pensamentos aleatórios.

— Você e a minha irmã se gostam, não é mesmo?

Aquilo o pegou de surpresa. Otto o fitava com seus olhos amarelos brilhantes, parecendo um tanto curioso.

— Bem, eu...

— Não fique nervoso — ele sorriu. — Eu vi vocês se abraçando. Só quero que saiba que tem o meu apoio.

Lú não sabia o que dizer, mas não queria contrariar Otto. Por mais que seus sentimentos por Lucy não fossem tão intensos, ela o fazia se sentir bem. Talvez o que lhe impedia de se dedicar profundamente a ela fossem as preocupações que perturbavam a sua mente.

— Será que ela vai ficar bem? — o garoto perguntou, tentando desviar do assunto.

— Eu creio que sim — Otto respondeu pensativo e olhando para o horizonte. O rapaz franziu o cenho ao notar algo anormal. — Tem alguma coisa se aproximando — ele alertou, estreitando os olhos na tentativa de ver melhor.

— Está vindo para cá! — Lú olhava na mesma direção, analisando aquele ponto crescer gradativamente.

— Está vindo pelo ar! — Os dois falaram em uníssono ao se encararem.

Otto preparou uma flecha em seu arco e mirou na coisa que se aproximava rapidamente. Lú esticou seus braços, abrindo bem os dedos, para no momento certo projetar o seu escudo.

— É um drácon! — Lú observou ao notar as asas e os chifres.

— Drácons em Luária?

Otto atirou uma flecha, porém, errou o alvo. A criatura era muito rápida e desviava das setas com agilidade. Otto continuou a atirar flechas uma atrás da outra e mesmo assim não obteve sucesso.

O drácon já estava próximo o suficiente para Lú ter que projetar o seu escudo. Ele pôde notar que era uma fêmea, o seu longo cabelo negro chicoteava no ar e as garras pareciam bastantes afiadas. Ela possuía um punhal em mãos e seus olhos diabólicos miravam no garoto azul.

Legend - O Feiticeiro Azul ( Livro 1)Where stories live. Discover now