XXXIV - AZUL

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Lú assistiu o corpo de Nero tombar no chão. Os seus olhos estavam arregalados com o que via. Ele estava morto. A luta entre ele e a caçadora não durou muito e de uma maneira covarde, ela o golpeou pelas costas. Mesmo com o barulho da chuva caindo, o garoto conseguiu escutar as gargalhadas sádicas dos caçadores. Ele precisava fazer alguma coisa antes que mais gente inocente morresse.

O garoto se pôs a caminhar em direção aos três caçadores. Pisava no chão empoçado pela água da chuva, passando por alguns corpos que não resistiram ao redemoinho de fogo e cruzando com alguns rebeldes que não sabiam o que deviam fazer diante daquela situação inesperada.

Kelmo e Kainã observavam a sua aproximação e o terceiro caçador se mantinha paciente, embora suas mãos ansiosas estivessem trêmulas ao segurar os seus punhais. Na cintura, havia uma bainha com uma espada, ele estava preparado para atacar quando fosse o momento certo.

A chuva diminuiu um pouco mais, a ponto de se tornar apenas um leve chuvisco. O garoto pôde ver aquelas três figuras mais perto e de maneira mais nítida. Eles o encaravam, percebia-se os seus olhos vidrados pela abertura das máscaras.

— Então é esse o feiticeiro? — Kelmo perguntou, observando o garoto se dirigindo lentamente a ela. — É só um pirralho.

— Não interessa a idade dele. Feiticeiro é feiticeiro. — Kainã disse, entediado, passando o cabo do seu punhal entre os dedos distraidamente.

— Não estrague as coisas, minha irmã, não garanto que eu possa salvá-la dessa vez.

Kelmo bufou irritada com aquela repreensão. Embora fossem gêmeos, Kainã possuía a autoridade sobre ela, afinal, ele era o filho preferido do seu pai, o ancião mestre, uma pessoa muito importante no planeta Karkariá e fundador do instituto de treinamento em que ela se formou.

— Você tem uma péssima mania de apaixonar por feiticeiros — Kainã continuou. — Por favor, não estrague tudo!

A jovem procurou não dar muita atenção, pois sabia que discutir com ele seria pior. A essa altura, o garoto feiticeiro já estava próximo deles o suficiente para deixá-los alarmados. Não era mais o momento de jogar conversa fora. Os três caçadores entraram em guarda e Kelmo levantou a espada na altura dos olhos.

— Não quero lutar com vocês! — Lú disse, parando diante do corpo de Nero. Ele tentava controlar as emoções naquele momento. — Eu quero fazer um acordo.

Os três caçadores entreolharam-se. Kainã, no centro do trio soltou uma gargalhada. Lú não se deixou abalar por isso, pelo contrário, ele cerrou os punhos e continuou falando.

— Se prometerem não machucar mais ninguém, eu me rendo.

Dessa vez, Kelmo também caiu da gargalhada. O garoto não via graça alguma, mas, de repente, sentiu a pontada em seu peito. A dor foi enorme e seus olhos se arregalaram. Ele olhou para o tórax e viu um punhal cravado nele. A pequena lâmina cortou o ar despercebido, ele nem notou quem a tinha atirado.

Lú segurou no cabo do punhal em seu peito e o puxou, arfando de dor e rangendo os dentes. O sangue escorria, manchando sua camisa branca em um círculo vermelho. Deixando a arma cair no chão, Lú percebeu que precisava ser cuidadoso, mais ataques como aquele e ele poderia desmaiar.

— Não fazemos trato! — A voz do terceiro caçador soou estrondosa e áspera. Ele já preparava outro punhal em sua mão.

— Eu cuido do feiticeiro! Vocês dois podem se divertir com os outros vermes. — Kainã deu um passo à frente, erguendo os punhais.

Kelmo e o outro caçador correram em disparada, tão rápidos que Lú só sentiu o vento balançando o seu cabelo. À medida que foram avançando na direção dos rebeldes, o grupo de homens foi se espalhando em uma tentativa de fuga. Estavam amedrontados, ainda abalados pelo evento da maga infernal.

Legend - O Feiticeiro Azul ( Livro 1)Where stories live. Discover now